Capítulo 09

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Dizem que o destino se encarrega de seguir o seu curso, mas pelo visto o meu está ligado a um único fim, morrer pelas mãos do Enrico, ele me achou.

Forçando minha mente a voltar para o momento, respirei fundo, eu precisava sair daqui.

— Você poderia pegar um copo de água para mim, por favor? — perguntei ao segurança, precisava dele longe.
— Claro! — disse em seguida se afastando.

Com passos acelerados em direção a saída de emergência, segui olhando para todos os lados.

Eu precisava fugir, não poderia ficar e esperar pelo pior, também não poderia deixar que ele machucasse aqueles que estão próximos a mim, ele prometeu matar qualquer pessoa que fosse importante para mim.

Peguei um táxi e fui para minha casa, precisava arrumar o pouco que tinha e da o fora o mais rápido possível.

Logo agora, estava indo tudo tão bem.

Comecei sentir minhas um formigamento no meu corpo, provavelmente a adrenalina, continuei guardando as roupas numa mochila velha.
Infelizmente o formigamento só aumentava, junto a ele um suor frio, taquicardia, falta de ar.

Deus, me ajude!

Minha vista ficando turva, eu não conseguia respirar.

— Aaaa! — Batidas frenéticas na porta me fizeram salta com um grito abafado.

Peguei uma faca de serra na pia, meu fim estava próximo, eu poderia morrer, mas morreria lutando.

— Ágata? Sou eu, abra!

É o Nick? Meu Deus!

—Ni...i...ick — sem ar, sem força, tudo a minha frente não passava de um borrão.
Cai no chão de joelhos, me sentia asfixiada.

— Ágata? Você está bem? Eu vou arrombar.

Eu não conseguia mais reagir, deitada em posição fetal, não sentia o ar entrar em meus pulmões, eu não conseguia falar, reagir, e a voz do Nick era apenas sons ao longe, cheguei ao fim.

Um som não identificável ao longe.

Uma sombra se aproximando.

— Ágata! Respira! Eu estou aqui, está tudo bem, você está bem, eu estou aqui com você. — A voz era suave, baixa, quase um sussurro — Fecha os olhos. Isso! Respira, continua respirando. Muito bem!

Involuntariamente a voz me conduzia a seguir seus comandos.

— Você está indo muito bem! Continua respirando fundo. Agora abra os olhos, por favor, me diga cinco coisas que você consegue ver.

Lentamente abri os olhos.

— Sa... sapatos...
— Muito bem! Continua respirando, me conta mais 4 coisas que você consegue ver. — a voz era calma, serena.
— Fa...faca, minhas mãos — respirava fundo olhando tudo que conseguia ver de onde estava deitada — colchão — falei tentando virar a cabeça — Você.

Era o Nick!

Ele estava deitado no chão, ao meu lado.

— Ótimo, muito bem! Continua respirando. Me conta 4 coisas que você consegue tocar. — sua voz ainda era calma.
— O chão, a faca — a mão dele se aproximou e ele pegou a faca, colocando-a de lado — seus dedos e suas mãos.
— Maravilha! Continue assim, respirando, foca só na minha voz. Agora me diz, 03 sons que você consegue ouvir.

Respirei fundo e foquei nos barulhos a minha volta.

— A chuva, goteira pingando e um cachorro latindo.
— Muito bem, você está ótima. Agora, me diz 02 cheiros que você sente.
— Terra molhada e o seu perfume.
— Excelente — o rouco de sua voz era aveludado — Me diz uma coisa que você consegue sentir o sabor?

Olhei em volta, mas não havia nada por perto que eu pudesse experimentar.

Nick se aproximou e uniu seus lábios ao meu, num selinho, não senti medo, foi calmo, inocente.

— Seu beijo. — respondi.
— Você foi muito bem! — ficamos Alguns segundos em silêncio —Consegue levantar? Se sente melhor?
— Si...sim! Oque aconteceu comigo? Pensei que ia morrer, eu não conseguia respirar. Como o senhor me achou?
— Calma! Não força muito, tenta ficar calma, você acabou de ter uma crise de pânico. Eu te achei porque sei seu endereço, o Ryan já esteve aqui.

Ele me ajudou a levantar do chão e com olhar avaliativo olhou cada canto da minha humilde residência.
Parando o olhar sobre minha mochila, e as roupas.

— Onde você ia? — perguntou apontando para mochila.
— Olha senhor Torres...
— Para Ágata! Eu já vi que você está com problemas, quem está aqui é o Nick, seu amigo, não seu patrão. — ele parecia irritado — Oque está acontecendo com você? Tem haver com seu noivo? É dele que você está fugindo? — ele passava a mão sobre os cabelos como se buscasse a racionalidade.
— Noivo? Que noivo Nick? Eu nunca tive um noivo!

Do que ele estava falando?

— Não? E quem é Andrey Albuquerque?
— Andrey Albuquerque? Não sei! Nunca ouvi falar nesse nome.
— Como não? O cara que você disse que estava te seguindo falou que seu noivo, Andrey Albuquerque, havia contratado ele para lhe encontrar, porque você tinha problemas pscicológicos e havia fugido dele.
— Filho da puta! Mentiroso! O nome dele não é Andrey.

O olhar de Nick era de pura confusão.

— Nick, por favor, acredita em mim eu não sou louca.
— Acredito que não seja, mas estou confuso, preciso entender.
— Falar disso é muito doloroso, eu não deveria envolver mais ninguém nessa história. Ele é que é o louco, doente, ele não vai parar — comecei a chorar descontroladamente — ele prometeu matar qualquer pessoa importante para mim. Eu preciso fugir, ficar longe de você, de dona Judite.
— NÃO! — ele se aproximou e com o polegar secou minhas lágrimas — Seja oque for me conta, me deixa entender, me deixa ajudar.
Olha Ágata, eu já vivi muita coisa nessa vida, já passei por bastante coisa, mas nunca me enganei com uma pessoa e também nunca senti por ninguém oque sinto por você.
Não sei oque é, mas é bom, gosto de quem sou quando estou com você, há algo como um ímã, eu consigo te ler e te sentir a metros de distância, e tudo entre nós é leve, espontâneo, a amizade que construimos nos últimos dias é prova de que tudo, absolutamente tudo entre nós é real, mesmo sem eu saber oque é ainda, mas seja oque for eu quero você por perto.
Por favor, me deixa ajudar, me conta.

Pela primeira vez em muito tempo eu sentia que podia confiar, mesmo morrendo de medo por dentro.

— Eu vou tentar falar, mas não sei se vou conseguir. — lágrimas corriam de meu rosto.
— Tudo bem! Serei paciente, prometo. Agora me responde uma coisa. Esse homem te fez mal?

Abracei meu próprio corpo, não conseguia falar oque minha mete estava me mostrando em memórias, então assenti.

— Desgraçado! — ele bradou e eu chorei — Shiiiu... Vai ficar tudo bem, eu juro! — ele estava sem jeito, não sabia se me abraçava ou se tocava eu meus cabelos.
— Vamos, arrume suas coisas. Você não pode mais ficar aqui sozinha, não tive dificuldade alguma em arrombar essa porta, até a porta dos três porquinhos seria mais resistente.
— Não tenho para onde ir!
— Não se preocupe com isso, eu prometi, confia em mim. Sei que deve ser difícil, mas se fará você se sentir melhor, pensa que te levarei para minha casa, lá tem a Olívia, eu nunca faria mal a você, principalmente onde estaria alguém muito importante para mim.
— Mas sua casa? É arriscado? E se ele achar? Pode fazer mal não só para mim, mas para você ou para pequena Olívia. Eu nunca me perdoaria.
— Ele não chegará perto, a casa tem segurança, o condomínio é fechado, não se preocupa, vai ficar tudo bem.

Ele me ajudou a guardar o restante das minhas coisas na mochila.

Eu sabia que uma hora ou outra o Enrico iria me achar, eu só não esperava que fosse tão rápido, eu deveria ter mudado de país, mas como se eu mal tinha dinheiro para comer.

Olhando pela janela o movimento dos carros na avenida, não sei oque esperar da vida, por hora eu decido confiar no Nick.

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Recomendação de música para este capítulo:
Quando assim - Núria Mallena

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