Capítulo 28

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Maldita hora que essa tempestade veio cair.

Infelizmente tive o desprazer de reencontrar o Edgar, melhor amigo de meu pai, até aí tudo bem, mas oque me incomodava era a presença de seu filho que eu já sabia que seria certa em nosso jantar, pois aquele pulha era um encostado e vivia na aba dos pais.

Não demorou muito e o infeliz estava lá, cheio de sorrisinhos e gracinhas para cima de Ágata.

Ágata já estava na segunda taça de sua bebida, não que isso estivesse errado, mas ela nunca bebeu e não deveria começar de forma tão apressada, e pior, na presença de três alambiques.

Na verdade quatro, porque se eu me render a vontade que estou neste momento de tomar uma dose, para extravasar a tensão, nem seria mais comparado ao alambique e sim a destilaria inteira.

Respira porra! Se concentrar.

Gotas de suor se juntavam a minha testa.

—Vamos pedir o janta? — levantei a mão chamando o garçom.
— Já? — perguntou Edgar ao virar a dose de whisky de uma só vez.
— Sim, estou com um pouco de pressa, preciso fazer umas ligações e resolver umas pendências ainda hoje. — menti.
— Então Ágata, faz tempo que conhece o Nick? — perguntou o pulha do César.
— Não muito. — disse Ágata.
— Qual sua área? — César continuava com seus questionamentos.
— Desculpe, não entendi. Minha área?
— É, tipo, em que você é formada? No que você trabalha?
— Haaa... Entendi. Eu vou começar o curso de administração em algumas semanas e trabalho como secretária.
— Vai começar? Qual sua idade? — o imbecis não parava de perguntar.
— Tenho 18. — Ágata começava a responder nervosamente.
— 18? Sério? Que isso em Nick, pegou pra cri...
— Não ouse terminar sua frase. — falei entre dentes.
— Filho, não seja indelicado.

Só poderia ser brincadeira, a senhora Mercedes chama a falta de respeito de seu querido filho de indelicadeza.

— Não está mais aqui quem falou. — levantou as mãos em rendição, mas com um risonho que eu estava doido para tirar de seu rosto.
— Se a empresa que trabalha não corresponder suas expectativas, ficarei feliz em lhe ter trabalhando conosco. — disse Edgar de forma amigável, mas isso fez meu sangue ferver.

— Obrigada, mas estou muito feliz e satisfeita na empresa que trabalho. — Ágata tentou cortar o assunto.
— Ainda assim, nós temos um ótimo plano de cargos e carreiras. Fique com meu cartão, caso um dia queira se juntar a nós. — falou Edgar ao retirar da carteira um de seus cartões.
— Irei aceitar, obrigada. Mas, repito: Estou muito feliz onde estou. — Ágata recebeu o cartão guardado em sua bolsa.

Respirei fundo. Nunca que Ágata trabalharia para Edgar, isso significa estar longe dela, pior, significa que ela estaria perto do pulha do Cesar que neste momento está bebendo e olhando para as pernas de Ágata.

Haaa filho, não testa assim o limite da minha irá.

— Tudo bem querido? — Ágata perguntou para que só eu ouvisse enquanto colocava a mão sobre minha perna que mexia de forma frenética, afim de conter meus ânimos.
— Tudo na mais perfeita ordem. —menti cinicamente.

Para meu alívio a refeição chegou, mais perto está de por fim nessa tortura psicológica.

Edgar pediu um vinho para acompanhar a refeição, mas Ágata me olhou.

— Para nós traga um suco da fruta da estação, por favor. — falei ao garçom.
— Não nos acompanhou nos drinks, nos dê ao menos a honra de uma taça de vinho. — falou o pulha do César.
— Obrigado, mas não posso, ainda hoje terei que resolver questões de trabalho. — tentei ser educado apesar de saber que neste momento minha cara não estava muito amigável.
— Tudo bem, Ágata nos acompanha.
— Não, obrigada. Aceito o suco.
— Dizem que uma taça de vinho por dia faz bem a saúde minha filha. — falou Dona Margareth.

No seu caso "o bem" que a taça de vinho faz é conserva-la no álcool.
Dominick, olha os pensamentos.

— Vou ao banheiro. — disse Ágata.
— Precisa que eu vá junto? — perguntei.
— Não, tudo bem. Eu já volto, com licença. — disse ao se afastar.

Fiquei olhando-a ir.

— Meu amigo, está acontecendo alguma coisa? — perguntou o pulha.
— Oque? — voltando atenção a mesa, perguntei sem entender seu questionamento.
— Você parece controlar oque a garota faz, oque ela bebe, o quanto ela bebe, até se ela vai ao banheiro. Vocês não viram? — perguntou aos pais — Ela parece nervosa.
— Cara, primeiro que não sou seu amigo. Segundo, não fala merda. — levantei — Vou ver como MINHA NAMORA está.
— Estou aqui. — disse Ágata surgindo atrás de mim.
— Querida, está tudo bem? — perguntou Dona Margareth.

Passei a mão pelo cabelo, respirando fundo.

— Sim! Porque? — Perguntou Ágata aparentemente sem entender nada.
— Ágata, — o pulha falou enquanto segurava a mão de Ágata — se estiver acontecendo algo você pode ficar conosco, podemos preparamos um quarto pra você.

Ri alto.

— Haaaa... Claro, muito gentil de sua parte preparar um quarto para Ágata, não é? — me aproximei centímetros de sua face — SOLTE A MÃO DELA!
— Nick? Oque está acontecendo? — perguntou Ágata, puxando sua mão que o canalha segurava.
— Você que tem que nos dizer, minha filha. Está desconfortável com algo? — perguntou Edgar.

Coloquei as mãos no bolso e respirei fundo, afim de conter a vontade de socar a cara desse filha da puta.

Ágata me olhou e fez um aceno de cabeça e concordei.

— Olhem, ela pede a aprovação dele a todo momento.
— Mas é uma anta mesmo. Ágata, eles pensam que você está comigo obrigada, forçada. — falei entre dentes tentando me conter.
— Me Deus! — tapou a boca com uma das mãos — Não, não é nada disso. Eu estou desconfortável porque nunca bebi antes, e vocês não param de beber e ficam inssistindo, mas eu não queria ser indelicada e me forcei a tomar duas taças. Estou desconfortável por que você — apontou para o pulha do César — não para de me olhar de forma constrangedora. Estou agindo estranha porque não sei lhe dar com a pressão, e está situção está me deixando ansiosa. Olho para Nick " afim de aprovação" como disseram porque ele me conhece muito bem, só de me olhar, então ele sabe que tudo isso aqui está sendo demais, não só para mim, mas sei que para ele também por mais que tenhamos razões diferentes, por isso precisei ir ao banheiro. Fui lavar o rosto, respirar, pra voltar.
Sei que vocês tiveram a melhor das intenções em me ajudar e agradeço, mas infelizmente chegaram atrasados.
Nick, estou indo para o quarto. Tenham uma boa noite. — dito isso Ágata saiu.
— Oque ela quis dizer com chegaram meses atrasados. — perguntou Dona Mercedes.
— Ela quis dizer exatamente oque a senhora ouviu.
— Filho, me desculpe por todo mal entendido e constrangimento. — disse Edgar.
— Edgar, quem começou toda essa história foi seu filho, justo o que não parava de olhar de forma "constrangedora" como disse Ágata, mas que de forma tão "solicita" ofereceu um quarto para a mulher que ele constrangeu, que ironia. — dei dois passos a frete e fiquei diante do imbecil — Sua sorte é que meu autocontrole está em dia, e claro, neguei as doses de whisky. — dei dois "tapinhas amigáveis" em seu rosto e sai dali.

Sai o mais rápido que consegui, agradecido por mais um dia não ter me rendido aos meus monstros, só não sei até quando.

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Indicação de Música para este capítulo: Raffa Torres - A vida é um rio

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