Capítulo 06

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Depois da massagem e do chá Olívia parecia finalmente bem, para meu alívio.
Vê-la como estava, fez minha raiva só aumentar pela empresa onde contratei a babá.

Do que adianta uma empresa com tantas classificações, se seus profissionais age de forma irresponsável.

Após o susto passado com Olívia, graças a senhorita Andrade, para minha sorte, a babá de Olívia chegou.

Segundo a fulana, ela perdeu o horário porque ontem foi aniversário de seu namorado e eles foram comorar, ainda teve a cara de pau de dizer que perdeu a hora porque o celular descarregou.

Estava prestes a soltar o verbo, mas fui interrompido educadamente pela Senhorita Andrade.

Ela tratou de ligar para empresa e informar o ocorrido, dispensou a babá e lhe explicou que as questões contratuais seriam resolvidas diretamente com a empresa prestadora.

Voltei com Olívia para o quarto.
Lhe dei um banho, quando saia com ela envolta no roupão a senhorita Andrade chegou.

— Licença, senhor Torres! Gostaria de ajuda com a pequena Olívia?
— Sim, por favor, pegue para mim no armário dela uma muda de roupa.
Ela pegou um par de roupas limpas e colocou sobre o trocador.
— Senhor Torres, eu ...
— Nick! Por favor, quando ninguém estiver por perto pode me chamar como a Judi me chamava.
— Sim senhor, como preferir.
— Oque iria dizer Ágata? Posso lhe chamar de Ágata? — nós conversamos enquanto ela me passava a fralda e a pomada.
— Como o senh... — olhei-a com repreensão — perdão, força do hábito, prometo tentar. Mas como ia dizendo, achei na internet um grupo de mães que trocam experiências, neste grupo elas indicam de tudo, incluindo babás. Geralmente quando seus filhos crescem e atingem uma idade que não necessariamente precisará de uma babá, as mães as indicam, pelo fator confiança e por estar a muitos anos em suas famílias. Acredito que por ser pessoas que passam anos com uma criança, há muita confiança e profissionalismo, pois as mães não passariam anos, tão pouco as indicariam.
— Tem razão! — Concordei enquanto vestia Olívia.
— Achei o contato de 02 pessoas, mas antes de entrar em contato preciso saber se o senhor está de acordo. Caso esteja, gostaria de saber se posso marcar para hoje, mais para o final da tarde após sua reunião com os argentinos?
— Sim! Por favor, marque para às 16:00 uma candidata, e às 16:30 a outra. — falei finalizando com Olívia.
— O senhor me permite? — a senhorita Andrade gesticulou apontando para Olívia.
— Claro! — ela pegou Olívia, penteou seus poucos cabelos castanhos, abriu umas gavetas até achar algumas tiaras.
— Prontinho princesa! — ela sorriu para Olívia.

Foi a primeira vez que lhe vi sorrir abertamente.

Nossa, como seu sorriso é lindo.

Na verdade ela é uma moça muito bonita, não que eu não houvesse reparado antes, claro que reparei.

Seus olhos são tristes, mas não um triste sem vida, é uma tristeza sutil.
É como se uma cortina de dor tivesse encoberto sua íris azul, oque faz o azul de seus olhos ser como o oceano, infinito e vazio.
Eu sei porque é esse oceano que vejo todos os dias ao me olhar no espelho.

A manhã passou rápida.
Senhorita Andrade me auxílio nos cuidados com Olívia enquanto eu precisava trabalhar, outras vezes eu ficava com Olívia enquanto ela resolvia algo para mim.

Perguntei se ela poderia olhar Olívia, enquanto ia almoçar com os possíveis clientes. Ela que ficaria com maior prazer, Olívia pareceu gostar de seu colo.

Pedi a Antônia, minha assistente do lar, que estivesse atenta as necessidades da senhorita Torres, para ajuda-la se ela precisar de algo.

Fui almoçar com os argentinos, que pelo visto adoraram a ideia de nos reunirmos num restaurante renomado de comida brasileira.
Almoçamos numa área reservada, havia um jardim de inverno, que apesar do dia nublado, o teto de vidro dava uma boa vista do céu.

Mais uma vez ponto para senhorita Andrade, que só faz me surpreende positivamente a cada dia.

Fechamos o contrato, não irei apenas fazer os projetos do luxuoso empreendimento que será um hotel, resort e cassino, mas também executa-los, modéstia parte nossa equipe de engenharia é uma das melhores.

Ao fim do almoço uma chuva torrencial caia lá fora, o trânsito estava infernal, um percurso de meia hora levei mais que o triplo de tempo.

Quando cheguei em casa a primeira candidata a babá de Olívia já me aguardava, era uma jovem senhora, em seu currículo dizia que tinha 48 anos e já havia trabalhado como babá para três famílias, do qual em uma delas durou apenas 3 anos, oque mentalmente me intrigou.

Segundo a senhora, que agora sei que se chama Carmem, ela disse que essa família se mudou de estado e por esta razão ela não os acompanhou.
Fiquei com uma boa impressão a seu respeito.

Depois de mais algumas perguntas eu decidi por contrata-la, pois a outra candidata ligou para a senhorita Andrade e perguntou se poderia remarcar a entrevista devido a chuva.

Ok! Eu até poderia entender e remarcar, mas eu não me tornei quem sou por medo de me molhar na chuva.
E se a senhora Carmem conseguiu chegar, ela conseguiria, bastava querer ou precisar de verdade.

Após ajustar tudo a babá se foi, voltará amanhã conforme os horários combinado.

Trabalhei por cerca de mais uma hora, Olívia tirava um cochilo no seu quarto e eu monitorava pela babá eletrônica, mas algo chamou minha atenção.

Pela minha visão periférica percebi a Senhorita Andrade mexer seus pés enquanto dividia seu atenção entre o computador e as paredes de vidro.
Do lado de fora a chuva batia de forma violenta contra a superfície de vidro, o vento emitia um som semelhante a um assovio, tamanha era sua violência.

— Ágata? — Chamei-a, mas ela não pareceu ouvir — Ágata? — levantei para chama-la mais de perto — SENHORITA ANDRADE? — Finalmente ela me olhou.
— Perdão senhor Torres! Precisa de algo? — perguntou com a respiração entrecortada, olhos marejados, mãos trêmulas.
— Onde você estava? — fiquei curioso, oque feriu essa garota dessa forma?
— Desculpe, estou aqui. — sua respiração ainda era acelerada, ela estava tensa.
Tentei mudar a postura, provavelmente está lhe assustando ainda mais.
— Ágata, me acompanha até a cozinha para tomar um café?
— Claro senhor Torres!
— Nick. Só Nick!

Não sei oque me atraia nessa moça, mas é uma espécie de quebra cabeça que tenho sede em desvenda-lo.
E eu vou desvenda-la, porque se tem algo que eu entendo é de pessoas quebradas.

Já na cozinha, sentamos na bancada, um de frente ao outro.

— Então Ágata, me fala mais de sua família, de você, de onde você veio? — seu corpo enrijeceu — Sem pressão está bem? Me conta só oque se sentir a vontade para falar, se vamos passar os dias juntos, natural que eu queira conhecer melhor quem me cerca, não sei se já percebeu, mas este circulo não é muito amplo.
— Porque? — ela mandou na lata.
— Como eu disse natural que eu queira conhecer quem...
— Não! Não! — ela me interrompeu — Digo o seu círculo de pessoas, porque é pequeno?
— Talvez pelo mesmo fato que o seu deve ser. — retruquei.
— Dúvido, as razões de nenhum ser humano pode ser iguais as minhas, não de algum vivo.
— Porque? Acha oque passou foi forte os suficiente para lhe matar? — ela não respondeu e tomou um gole do café — Escuta Ágata, seja oque tenha passado vejo que lhe marcou, assim como oque já passei em minha vida me marcou, a única diferença é que fiz disso meu combustível, foquei no trabalho.
— E valeu apena? — ela perguntou com seu olhar avaliativo.
— Claro, não vê onde estou? — abri os braços mostrando a ela oque tinha aos redor, minha casa.
— Não senh... — olhei-a de forma repreensiva — Não Nick, não falo do ponto de vista material, percebe-se que o senhor chegou longe, mas falo no sentido da dor.

Engoli em seco, ela tem razão, a dor nunca vai.

Tomamos o restante do café, ela parecia mais calma.

Pedi a Ryan para lhe levar em casa, e depois ele fosse para casa, não precisaria mais dele por hoje.

A noite antes de dormir inevitavelmente eu pensava em Ágata,  na sua pergunta: " E valeu apana?".
Não valeu, daria tudo para voltar no tempo e ter todos aqueles que amo de volta.

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Recomendação de música para este capítulo:
Stone - Jaymes Young

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