Capítulo 36

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Inacreditável como uma sucessão de acontecimentos ao longo dos últimos dias me levaram ao descontrole.

Passei anos de minha vida lutando, diariamente, contra o vício e o descontrole para por tudo a perder em questão de minutos.

Talvez esteja sendo um erro me relacionar com Ágata.

Oque sinto por ela é mais forte que tudo que já senti nesta vida miserável, mas ainda assim sei que mantê-la ao meu lado pode ser ruim para seu tratamento.

Sei que diante da minha condição, de dependente químico, posso ultrapassar os limites e agir de forma tóxica. 

Ágata não precisa de mais um problema em sua vida.

Ver em seus olhos a decepção estampada diante das palavras que eu disse foi pior do quê se uma lâmina perfurasse minha pele, sensação já conhecida por mim durante o período que fui torturado.

Ao chegar no hotel tomei a decisão de mandar Ágata de volta ao Brasil, não poderei permanecer ao seu lado sabendo o mal que lhe causo.

Ela deve permanecer como minha assistente, até que eu encontre um modo de mantê-la segura, longe de mim e dos olhos daquele doente que lhe persegue.

Desde então não trocamos nenhuma palavra. Eu, por estar envergonhado. Ela, provavelmente esta muito magoada comigo, decepcionada.  

Após ela se trocar e deitar para dormir, liguei para Boris, mas não obtive sucesso, ele não atendeu. Guardei o celular no bolso.

Fiquei um tempo sentado na poltrona, velando seu sono, pensando...

Sinto muito, mas para seu bem preciso lhe deixar.

⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳⏳

Um tempo depois despertei, abrindo os olhos avistei Ágata, dormindo, só então percebi que eu havia adormecido na poltrona.

Levantei e fui em direção a cama, abaixando diante dela, o seu rosto não parecia tranquilo, sereno.

É para o seu bem, meu amor. 

Ágata estava sofrendo, meu coração se despedaçou ao ter a confirmação de que o melhor para Ágata é ficar sem mim.

Sai do quarto, caminhei sem rumo até pegar o elevador e descer.

Nunca amei antes, mas agora sei que é o sentimento mais filho da puta que existe.

As portas do elevador se abriu e caminhei em direção a rua, precisava caminhar, pensar.

Precisava tirar essa angústia que estava corroendo meu coração.

O hotel ficava numa zona turística, bem localizada, apesar do adiantado da hora as ruas estavam movimentadas.

Andei por um longo tempo, olhando as fachadas e letras luminosas que indicavam os bares e casas noturnas.

Aflito, afim de apagar do meu peito a sensação de estar queimando, recorri ao bar. Um antigo sentimento de necessidade se apossou de mim após aquela primeira dose de álcool.

Entrei no estabelecimento e me encaminhei até o balcão. 

Flashes, lembranças invadiram minha mente com pensamentos de quantas vezes repeti esse "caminho"... Entrar no bar, ir até o balcão, encher a cara, as vezes usar algo mais forte, e no fim terminar saindo de lá com uma, duas, até três mulheres. Isso, quando não terminava em brigas, e com pessoas feridas. 

— Qué vas a tomar?

— Me vê uma dos... 

Fui interrompido pelo som de meu celular.

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