Episódio 15 - O Colar

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Seher abriu os olhos. Estava deitada, com o rosto colado no chão frio do navio. Assim que se deu conta que estava amarrada com os braços para trás e com os tornozelos também amarrados. A boca ainda doía, mas não tanto quanto o resto do corpo. O estomago, as pernas e os braços.

— Sehercim! – Ela ouviu uma voz sombria cantarolar seu nome.

— SEHER! – Era a voz de Yaman gritando desesperado. Ela firmou a vista e o viu não muito distante dela.

— Yaman... – Ela suspirou.

— PARE DESGRAÇADO! PARE! NÃO PONHA SUAS MÃOS IMUNDAS NELA! SEHER! – Ela sentiu um golpe de sapato em suas costas, não conseguiu suprimir um grito. Yaman xingou um palavrão bem alto. Sua voz ecoou pelo salão. – ALLAH KAHRETSIN!

— Chega! – A mão do sósia de Aksak, que estava comandando tudo, se ergueu em sinal claro de que o espancamento devia terminar. – Não é preciso que morra. Veja Yaman em que estado está sua esposa, Kirimli.

Yaman tinha os olhos vidrados no rosto de Seher, o único lugar onde eles não tinham batido. O resto do corpo de Seher estava certamente cheio de hematomas. Foram cino minutos. Os piores de sua vida inteira. Em que ele teve de assistir três homens baterem em sua esposa. Ela desmaiou em menos que isso, mas eles não pararam.

Ele tinha os punhos ardendo, de tanto que forçou os braços para soltar-se das cordas e salvá-la. Dois homens o seguravam de joelhos ao chão e mantinham Yaman com seu rosto voltado para ela. Yaman berrou e gritou como um animal para se soltar e salvá-la, mas não pôde. Pela primeira vez em sua vida, ele se sentiu incapaz. O grande Yaman Kirimli estava de mãos atadas e não conseguiu cumprir o juramento que fez a si mesmo. DE que seu mundo escuro nunca a tocaria.

Ela era gentil e doce demais para isso. Era como uma flor crescida no campo, longe de perigos e medos. Seher era um raio de sol, uma luz em sua vida, mas ela estava sendo apagada diante de seus olhos. Sua linda e doce Seher. Yaman se amaldiçoou enquanto a via se contorcer a cada chute.

Maldito o dia que eu fui te amar. A culpa é minha. Toda minha. Um homem como eu não te merecia. Como nunca me passou pela cabeça que você sofreria? Como eu fui estupido! Maldito seja eu, Yaman Kirimli.

— Senhor! Tivemos problemas com o barco. A policia está fazendo averiguação no porto. – Um dos homens de Aksak apareceu do meio da escuridão.

— Que Merda! De onde saiu isso? Precisamos levá-los daqui antes que seja tarde. – Yaman ouviu a conversa, mas não tirava os olhos de Seher. Ela estava abrindo e fechando os olhos, como se lutando internamente por alguma coisa. –Vamos sair imediatamente daqui e resolver isso de vez. Se não pudermos ir nesse barco temos que achar outro.

— Mas aquele foi preparado para nós, o senhor sabe.

— Está certo! Vamos!

— Deixe-os! Ninguém vai entrar aqui. Apenas tranquem bem a porta. Só tem uma entrada e saída. Fique apenas dois de guarda. – Ele ordenou e todos os homens saíram.

No grande estacionamento, mesmo amarrado, ele arranjou força em si para se arrastar até ela. Mesmo com as mãos e pés amarrados e igualmente ferido. Talvez bem mais que ela, já que sua sessão de surra foi muito mais longa. Só que ele estava acostumado a apanhar, seja fisicamente como da vida.

— Seher! Amor! Seher! – Ele se chegou à ela. Seher suprimiu um grito e soltou uma das mãos. Yaman ficou surpreso.

— Yaman. – Ela soltou a outra mãos e as duas foram parar no rosto dele. – Como você está? Eu pensei que tinha morrido.

Como ela perguntava por ele, se estava claramente machucada? Como ela soltou as mãos? Em que momento isso aconteceu? Até os olhos dela parecia ainda mais vivos do que antes? Ela tinha a vista tão nítida, o semblante sereno. Era quase como se nem tivesse sido ferida. Yaman não sabia o que dizer?

Sonsuz - Infinito ¦ ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora