43 - A lenda é real

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Seher viu o sol raiar da janela de seu quarto. Yaman dormiu, mas depois de muitas horas. Eles tinham repassado o plano milhares de vezes. Ele estava exausto, não aguentou e dormiu. Seher, porém, não conseguia parar de pensar que se tudo desse certo, hoje eles iriam dar fim dessa situação.

Ela nunca, em toda a sua vida, se imaginou passando por uma prova tão grande quanto essa. Será que um dia teria uma vida tranquila ao lado do esposo e filhos? Será que era necessário fazer algo tão ruim para se ver livre de algo pior?

De verdade, ela só queria paz. Seher respirou fundo abriu a porta e caminhou descalça sob o chão frio do pátio. Havia nevoa sobre as casas, o sol despontava firme no horizonte. Subiria para dominar o céu sem problemas, as horas se apressariam para seu voo particular, na jornada mais perigosa de sua vida.

Ela sentiu os braços do marido envolve-la. Eles ficaram em silencio sentindo um ao outro. Não era preciso abrir a boca, o silêncio dizia tudo que eles não tinham força para dizer. Ele gostaria que ela soubesse que ele iria protege-la, que seria sua sombra, suas pernas, suas forças e que iriam os dois sair dessa situação o quanto antes.

Mas ele não diria isso para ela, Seher tinha que ter força para sozinha tomar conta dessa situação. Embora ele estivesse do lado dela em todos os momentos da missão, ela ainda teria que fazer muitas coisas só. Ela precisava acreditar em si para isso.

— Você vai conseguir. Eu não tenho dúvidas.

— Obrigada. – Ela agradeceu olhando-o.

— Agora, me escute, se você achar em qualquer momento que não pode, eu estarei ali a distância suficiente para fazê-lo por você.

— Eu sei. Não se preocupe. – Ela se voltou para ele. As mãos grandes do esposo pousaram sobre sua cintura e ela segurou o rosto dele. Sua barba já crescida da forma como era quando ela o conheceu. Sentiu um estranho sentimento de nostalgia.

Ele não tinha mais aquele ar bruto de antes, ao menos não com ela. Estava mudado, mas apesar disso, ela sentia a força daquele Yaman Kirimli que todos temiam. Na verdade, havia um brilho esquisito no olhar dele. Era como se ele estivesse animado para aquilo.

Se perguntou se ele um dia conseguiria deixar para trás essa vida como ela queria tanto que acontecesse. Foi o seu maior dilema nos últimos meses, assim que Emir nasceu. Enquanto lutava pelo retorno de seu marido que estava doente, Seher pensou seriamente no que fazer para que tudo que os levou aquela situação não voltasse a acontecer.

O mundo obscuro era tão penetrante quanto um punhal. Quanto mais se queria fugir, mais entranhado estava dentro deles. Seher nunca foi de guardar rancor, de ter desejos de vingança, mas esses homens, essas mulheres eram diferente daqueles que ela cresceu e conheceu em sua vida.

Eles eram como cobras, venenosas e cruéis. Ou você se tornava uma cobra, ou era devorado por eles. Seher aprendeu muitas coisas que não gostaria de ter aprendido, foi um mal necessário. Ela tinha, antes, medo de armas. Hoje ela sabia atirar tão bem quanto o marido.

Fez tantas aulas de instrução de tiro com seus, agora, falecidos seguranças. Quando ela pensava que eles estavam mortos, quando ela lembrava do choro de Sila ao enterrar seu namorado. Ela pensava que não podia recuar e a morte deles não podia ser em vão.

Ela entendeu de forma muito carnal o sentimento de Yaman em relação à à Zuhal. Disse para ele deixar a vingança de lado, mas ela agora não conseguia parar de pensar em acabar com a vida de Krumlar. De vê-lo morto e estirado no chão. Ela não podia voltar desse encontro, sem ter certeza de que ele tinha ido para o inferno.

Era a mais pura verdade. Ela teria que manchar suas mãos de sangue, ela teria que ser a líder que todos achavam que ela era.

— Vamos tomar café com as crianças. Não quero viajar sem vê-los antes. – Ela anunciou, tomando a mão do esposo e o levando para dentro do quarto.

Sonsuz - Infinito ¦ ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora