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Os primeiros dias em casa tinha sido os melhores. Isadora quase não chorava, vivia dormindo o tempo todo. 

Duas semanas se passaram e aqui estou eu, há dois dias sem dormi um minuto. Lennon viajou e eu pedi que deixasse a Isis. 

Ela tenta o tempo todo me ajudar e eu acho a coisa mais fofa do mundo. Mas tem coisas que ela nao pode fazer. Tipo: ser mãe. 

Ela tão novinha mas sempre que pode me ajuda nas tarefas. Ela não deixa os brinquedos espalhados, arruma a cama do jeito dela. 

- Tia, tem alguém batendo na porta - Isis entrou no quarto. 

- Obrigado meu anjinho.

Coloquei minha filha no berço e saí do quarto encostando a porta. Segui pra sala e abri a porta dando de cara com a Cintia. 

Olhei pra ela confusa e ela deu um sorriso sem jeito. Dei passagem a ela que entrou se encostando na parede. 

- Não repara o meu estado - falei enquanto ajeitava o cabelo. 

- VOVÓ - Isis apareceu alegre. 

- Oi meu amor - pegou ela nos braços- como você tá? 

- Bem - beijou o rosto da vó- minha irmã tá lá no quarto.

- depois eu vou lá ver ela - assentiu e voltou pra sala. 

- Posso ajudar em alguma coisa ?

- Na verdade eu vim falar com você- olhei confusa - Lennon me disse que você tem uma foto da sua mãe. 

- Sim - respondi apreensiva- mas o que isso importa ? 

- Pode pegar por favor? 

Fui no quarto e voltei com a foto, ela pegou da minha mão e olhou por um tempo e depois sorriu. 

Me olhou com os olhos marejados e depois me abraçou meio sem jeito. Não tive reação nenhuma, apenas deixei ela ali. 

- Essa aqui é a minha irmã - olhei espantada .

- Como assim ? Tá brincando né? 

- isso não é motivo de brincadeira - falou séria - vou te contar uma história. 

Fui para a cozinha sendo seguida por ela, me sentei e ela sentou na minha frente e respirou fundo diversas vezes. 

- Quando eu tinha 17 anos minha irmã engravidou de uma menina, e eu não sabia o que fazer já que era a única que sabia sobre.
Então ela saiu de casa junto do namorado, mas quando ela fez sete meses de gestação, o cara simplismente foi embora sem se explicar - ela parou para respirar e me olhou nos olhos - Então ela descobriu que era uma menina e foi quando ela conheceu seu pai. 

Olhei aquela mulher que parecia dizer a verdade, senti meus olhos se encherem e senti um pontada no peito. 

- Antes da filha dela nascer, minha mãe morreu e então ela colocou o nome da mãe na filha,  no caso Lissa - encarei ela perplexa - depois de exatos seis meses que o bebê havia nascido, ela engravidou de novo do seu pai, teve você, mas não podia ficar com nenhuma das duas pois no seu parto ela teve uma complicação e morreu. Eu era a única única sabia quem era o seu pai e então o procurei, e entreguei você pra ele. Não devia ter feito isso. Criei a Lissa como se fosse minha filha mas eu sempre tive o sentimento de ter abandonado você.

- Isso não faz sentido - falei me levantando - o que você quer com isso? 

- Eu quero que você saiba Clara. O Paulo me disse que você nunca saberia de nós, ele podia te dar tudo de melhor, mas você apareceu na minha porta aquele dia e tudo o que eu pensei foi na minha irmã e em como a Lissa morreu com o mesmo problema que ela. Me senti péssima e quando soube que estava grávida fiquei ainda mais arrependida por não ter ido atrás de você antes. 

Já nem contive mais as lágrimas, era difícil de acredita em tudo aquilo. Me esquivei dela que tentou se aproximar e fui para o outro lado da cozinha. 

- Eu só vim pedir o seu perdão, não tinha o direito de te abandonar assim, mas eu não podia cuidar de duas crianças e sei que seu pai fez um ótimo trabalho criando você, eu sinto muito. 

- Sente muito ?- ri irônica- você sente muito por eu ter crescido com uma mulher que só me rejeitava e apoiava um cara que abusava de mim ? Ou você sente muito por eu não ter conhecido a porra de uma irmã que eu nem sabia que tinha? Melhor, você sente muito por ser justo eu a entrar na vida do Lennon e ter passado raiva, ter me achado insuficiente porque achei que sua filha era muito melhor que eu ?

- Sinto por tudo isso Clara - ela disse baixo - sinto mesmo, eu não podia cuidar de você, eu era só uma adolescente imatura. 

Escutei a Isadora chorar e ia indo na direção do quarto, mas parei na porta da cozinha e olhei aquela mulher chorando. 

- Me perdoa Clara - pediu suplicando.

- Você não teve culpa. 

REFÚGIO || L7NNON Onde histórias criam vida. Descubra agora