Estou mais uma vez diante das maiores portas que verei na vida. Minha boca está seca. Dois guardas, vestindo armaduras de prata e com o símbolo de tríscele em vários pontos de seus trajes metálicos, abrem as portas para nós. Estou sozinha com Balor. A cada vez que ela me encara, me joga um peso a mais nos ombros.
Eu não pretendo a decepcionar, o porém, é que tudo fica mais lento assim que o brilho da sala do trono diminui e eu vejo melhor o que está à minha frente. Meus dentes se apertam até as gengivas ficarem doloridas. Tenho de dar passos mais lentos, senão o salto me derrubará. A minha raiva está mergulhada no medo, enquanto olho para cada membro da família real.
Me pergunto honestamente porque há tanta gente aqui. O rei, a sua família, senescal, conselheiros e até uma pequena arquibancada com membros da corte.
Engulo em seco.
Rei Dagda Fir Bolg usa uma túnica de seda com a cor branca e detalhes em amarelo, sem nenhuma vestimenta militar. A coroa feita de carvalho está firmada na sua cabeça e nem um vendaval a tiraria dali.
A rainha usa um vestido azul que me faz ter sérias dúvidas sobre a que ponto o luxo de uma pessoa pode chegar. A sua roupa ofusca a minha, e não que eu esteja competindo, só não é o tipo de coisa que estou acostumada a ver. As joias brilhando nas cores do arco-íris, desde os anéis aos colares, é requintado demais para minha compreensão.
Os três filhos estão ali, e é justamente por isso que meu sangue está fervendo.
Rei Dagda e Rainha Carman me esmiúçam no silêncio real. Dub, o príncipe mais velho, cochicha para uma das criadas ao lado do seu assento, nada interessado na audiência ou na minha pessoa. Dother está com os lábios estreitos e os olhos fixos em mim, parece ainda pedir desculpas incontáveis vezes. E Dian. Esse está até com as pupilas dilatadas ao me ver. Seu ódio não deve estar nem perto de acabar, apesar de se mostrar resignado feito uma tempestade que leva horas até cair, fazendo o dia parecer noite. Eu sei que ele quer o meu pescoço, afinal eu voltei para cá, mesmo quando a cobra prometeu que me traria o inferno.
É acidental o momento em que nos confrontamos. Então me traga o inferno, essa é a minha resposta à sua ameaça. Pior que verbalizar isso, é eu sorrir como Balor me indicou. Tento parecer uma boneca aos olhos alheios, para regozijar a minha plateia, e perco mais tempo odiando Dian de volta do que sendo amigável com Dother.
Dian não muda a sua expressão, mas está gloriosamente inquieto com a minha presença.
― Quem é você? ― requere a Rainha Carman.
A mulher mais poderosa de Danann não tem uma característica física que a evidencie como uma druida. Acontece que sua voz é mais bonita do que eu poderia imaginar. É terrivelmente afinada e melódica, tão linda que me confunde de forma genuína.
Se gaguejar, você morre. A pessoa que te contratou estará te assistindo, vendo se você é um investimento que vale a pena arriscar.
Antes de esclarecer à Rainha Carman, contudo, aproveito que vi Muirne e Muirenn fazerem e reproduzo a sua reverência. Preciso ser cortês. Não sei se é a reverência certa, e custa tentar. É um risco absurdo errar no cumprimento, pois tenho que afastar as suspeitas, não as atrair.
― Eu sou Bridie Marfach, vinda do Condado de Carlow, Vossa Majestade. ― É alteza ou majestade? Não sei. Nunca parei para pensar nisso.
Estou falando bem devagar, para lembrar do conteúdo do papel que Balor me mandou decorar.
Olho pelo canto do olho, ninguém veio me matar ainda. Só vejo a Rainha Carman pôr uma das mãos delicadas à frente da boca e demonstrar horror com a minha fala. Os membros da Corte na arquibancada reagem e ficam aos cochichos, aborrecidos.
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A Forjadora do Desastre
Fantasy✨Eleita uma das melhores histórias de 2021 pelos embaixadores do Wattpad e finalista no Wattys 2021!✨ Por amor, ela quebrará as regras. Aisling tinha apenas oito anos quando sua mãe foi peregrinar. Quinze quando seu pai entrou num perigoso jogo de t...