Minha família está sendo acusada de um crime que não cometeu. O rei que me convidou para tomar chá está morto. Dother nunca pretendeu me oferecer apoio. Estou presa em Kildare. Balor vai assassinar quem eu amo por culpa de um mal entendido.
Minhas mãos forjaram um desastre.
Estou desamparada, ninguém vai vir ao meu resgate. Os aristocratas se amedrontaram até para acudir o mais nobre dos druidas. Minha existência é insignificante perante à situação política atual do condado, onde ninguém sequer sabe o meu nome.
Não há nada a se esperar de ninguém, exceto eu. Sempre foi assim, quando as coisas se dificultavam em casa, a responsabilidade caia sobre os meus ombros. Nada mudou.
É tão satisfatório pesar o cano frio da arma contra a nuca de Dian. Minhas mãos tremem e coçam, com todos os meus impulsos desejando e, ao mesmo tempo, se contendo para não pressionar o gatilho. Meus pensamentos estão enviesados, tornando fácil acreditar que descontar em Dian fará toda a dor se aliviar, mesmo que por um único instante. Ele também é a causa de tudo isso ter começado.
Tem uma risada entalada na minha garganta, uma que terá uma entonação feia e grotesca se eu deixar sair. Não sei o que eu estou fazendo. Se tentar cativar Dother não foi o suficiente para ele aceitar me tirar daqui, menores são as chances de Dian aceitar. Ele nunca vai me poupar, principalmente agora que eu aponto um revólver contra sua cabeça. Não há mais volta para nenhum de nós.
Ou eu morro aqui. Ou ele morre. E ele deve saber disso tão bem quanto eu.
Só que tem uma família me esperando. O mesmo não posso dizer sobre Dian, não posso sequer afirmar se realmente há alguém que ele se importe, quando parece ter desistido de si próprio desde muito antes de nos encontrarmos, no Beltane.
O príncipe calmamente ergue as mãos até a altura da cabeça, a respiração ainda normal, sem dar nenhum indício que tentará virar o rosto e cravar os olhos de víbora nos meus.
― Imitação? ― Dian me chama. Estranho por não ter raiva na fala.
― Tire. Essa. Marca ― persisto. Não importa o quão nervoso soe o meu tom de voz, ele não me responde. Eu estalo a língua. ― Lembra do que você mesmo disse? Eu posso te arrastar por esse corredor, sem que ninguém nos encontre. Ninguém vai ouvir os tiros, nem seus gritos, nem nada.
Os instantes de silêncio são ensurdecedores. Não consigo lidar com o comportamento plácido de Dian. Era para ele estar implorando para que eu atirasse de uma vez ou até implorando pelo contrário. Era para ele ter tentado me atacar pelas costas. Eu já deveria estar morta ou ter matado ele. Está insuportavelmente quieto.
Mas a adrenalina chamusca no meu coração. Eu uso a minha mão livre para agarrar a gola da sua túnica e o puxo de leve, mesmo com as pontadas de dor causadas pelo fragmento de gelo ainda fincado. Pela nossa proximidade, posso inalar o cheiro de vinho que Dian exala, mesclado ao de margaridas. O seu corpo está sem forças, a julgar pela má vontade que tem para manter os braços erguidos. Sua coluna está envergada para frente, como se pretendesse deitar no chão e esquecer de tudo. Creio que sua embriaguez esteja o privando da sensação de perigo.
― Eu não estou brincando ― volto a intimidar.
― Claro que não está. ― Essa reação é a pior possível. Ele sequer me considera uma ameaça. ― Deve ser fácil matar uma segunda ou terceira vez, eu presumo. Meu pai estava na sua lista e eu sei quem é o próximo nome a ser riscado. Não precisa fazer suspense. ― Apesar da fala, sinto pelo seu tom de voz afiado o quanto Dian está ébrio de cobiça, aguardando eu me distrair. ― Eu não removerei o nó. Você deveria ir perder seu tempo com o meu irmãozinho idiota, os dois são ótimos cúmplices de assassinato.
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A Forjadora do Desastre
Fantasy✨Eleita uma das melhores histórias de 2021 pelos embaixadores do Wattpad e finalista no Wattys 2021!✨ Por amor, ela quebrará as regras. Aisling tinha apenas oito anos quando sua mãe foi peregrinar. Quinze quando seu pai entrou num perigoso jogo de t...