Capítulo 25 - Sob o olhar do inimigo

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Treze. Amanhã restarão doze dias.

Não dormi ontem, não dormi hoje e não dormirei amanhã. As minhas três horas de descanso são desesperadoras, só não são piores porque tenho a companhia de Muirenn e Muirne por umas duas horas, até que elas tenham de retornar ao trabalho.

A última hora do meu dia é indescritível. Eu fico deitada, mas com os olhos arregalados, como se quisesse enxergar através da escuridão, procurando por qualquer silhueta suspeita e me assustando até com as cadeiras que parecem gente. Eu já tentei tirar o cabideiro de chão do quarto para me assustar menos, só que ainda é uma tentativa inútil de sossegar, especialmente quando penso que o assassino foi alguém capaz de matar um druida e ainda esconder o corpo por meses, mesmo quando druidas têm o auxílio da natureza para desvendar os crimes mais hediondos.

Talvez seja um matador de aluguel, humano ou druida, não importa. Eu não me imagino tendo a oportunidade de matar um sujeito profissional.

É tão ruim mover os olhos rapidamente e ver vultos. Sei que já estou alucinando com a minha primeira semana sem dormir, apesar da produção estar indo satisfatoriamente bem. Liam, Quinn e Alby estão quase me carregando nas costas, e creio que não falta muito para começarem a reclamar do meu desempenho terrível.

Eu levanto as minhas mãos e as enxergo no escuro, não sei como. Ardem e tremem, iguais às minhas pálpebras.

E minha consciência se esvai. É assim todos os dias. Não durmo, desmaio.

— Bridie, esses pratos não se lavam sozinhos! — Shira me repreende, estalando os dedos à frente dos meus olhos

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— Bridie, esses pratos não se lavam sozinhos! — Shira me repreende, estalando os dedos à frente dos meus olhos.

Dou um pulo de susto, sem a ter percebido antes, e volto a sentir o peso dos pratos sobre os meus braços. Quase posso ouvir o som das minhas articulações dos dedos gritando pela força que exercem para segurar a torre de louças.

Não me lembro de ter acordado ou de ter trocado de roupa para o vestido limpo de criada. O laço que amarra a minha gola falsa está bem apertado e a tiara que prende a minha franja para trás está arranhando a minha cabeça.

Eu desvio de duas criadas e fico na ponta dos pés para posicionar os pratos logo ao lado da pia da cozinha. Tomo uns segundos para recuperar o fôlego — pois não sou eu quem lava —, abano as minhas mãos formigando, e só esse pequeno intervalo já é capaz de me distrair da realidade.

O falatório dos empregados na cozinha é um ruído que não consigo discernir, ele incomoda e me desorienta, ainda mais quando meus olhos mal se focam no que está à minha frente. Meus instintos dizem que os druidas estão analisando o meu comportamento inadequado e poderão me reportar por mal serviço. Igualmente, eu olho para todos, procurando alarmada e paranoicamente pela sede de sangue do assassino.

Eu só trago mais desespero para mim, afinal assassinos profissionais são os mestres da enganação e furtividade. Nunca irei o encontrar e só estou parecendo mais suspeita por procurar.

A Forjadora do DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora