Cinco dias. Mas amanhã será zero.
O tempo flui de formas misteriosas. Quando forjei rodeada pelo pânico, era como se cada segundo fosse eterno, aguardando o momento derradeiro. Agora é diferente, principalmente para mim, sabendo que estamos sob a proteção de Aon Duine, um guarda enviado por Dother.
Não revelei a ninguém sobre e nem pretendo, afinal eu ainda não vi Aon Duine pessoalmente e, quanto menos gente souber, menores as chances de estragarem.
Ainda restam cinco dias para a entrega estipulada por Balor e estou fazendo os ajustes finais na última flecha, com meus três colegas de trabalho tomando baldes de água pela fadiga. As minhas marteladas estão em perfeita sincronia ao badalar do sino, que também toca à meia-noite para indicar a mudança do dia.
O arco de aço cobalto ficou dissemelhante ao que eu tinha articulado. Liam fez com a fisionomia de um arco laminado, sem se preocupar em adicionar adornos desnecessários, ainda mais quando beleza não foi requisitada no projeto e temos pressa. O objeto em si está bem polido, ao menos a superfície é lisa e bem acabada. Deve servir.
— Deixe-me avaliar — afirma Balor, abrindo espaço entre nós assim que eu finalizo a vigésima flecha.
Eu pego o arco para oferecer a ela.
— Não. Na mesa. — Balor até dá um passo para trás. — Druidas não tocam em armas, eu já mencionei isso.
— Posso perguntar por quê? — Ouso me aprofundar no assunto.
— Motivos religiosos — diz, sem me dar atenção, focada nos objetos que foram disponibilizados acima da nossa mesa central.
O odor forte do ambiente agride as minhas narinas, que já deveriam estar bem acostumadas por eu frequentar o local diariamente. É esperado que se torne desagradável quando três pessoas estiveram trancadas aqui por duas semanas, sem sequer verem a luz do sol e empenhados num único objetivo.
Alby, pelo semblante, deve ser o mais estabilizado emocionalmente entre eles, mesmo que tenham surgido novas cicatrizes nas suas mãos enrugadas. É natural que tenha se ferido durante um trabalho apressado. O próprio Quinn está com as mãos enfaixadas até o meio do antebraço, devido as vezes que se espetou.
Todos nós seguimos Balor com o olhar, a expectativa transbordando e a ansiedade nos consumindo. Liam pigarreia às vezes, Quinn troca a perna de apoio, Alby está estático e eu mordendo a língua, falhando em me igualar a Alby.
A general druida está com um vestido bege de manga longa com bordados nas extremidades e que folga nas pernas em formato de tubo, o corte em V lateral com um broche no encontro, um chapéu longo de madame, os cabelos alvos estão penteados para trás e escondidos atrás da orelha e os lábios pintados de vermelho forte, com a sua limpeza e luxos contrastando com toda a miséria da oficina escondida, até o tapa-olho é sofisticado.
Balor é bem difícil de decifrar. Ela rodeia a mesa, com as mãos atrás das costas, ora retorcendo os lábios, ora ameaçando tocar em algum objeto forjado para avaliar por outro ângulo. O pior é que ela não tem pressa nenhuma.
— Bom trabalho, rapazes... e menina. — Não podemos nem comemorar, já que a presença de Balor é opressora. Assentimos e permanecemos inertes. — Quinn irá para casa ao amanhecer. Cada um arrecadou cerca de quinze mil monas e o dinheiro já foi entregue. Façam bom uso e não se esqueçam: vocês não podem financiar uma nova moradia em um condado melhor. Não ascendam socialmente. Estão avisados.
É bem menos do que eu havia calculado para os quatro meses, que era o prazo anterior, mas estou longe de reclamar. Eu até solto um suspiro de alívio, só de me lembrar que conseguimos passar despercebidos diante de um assassino habilidoso.
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A Forjadora do Desastre
Fantasy✨Eleita uma das melhores histórias de 2021 pelos embaixadores do Wattpad e finalista no Wattys 2021!✨ Por amor, ela quebrará as regras. Aisling tinha apenas oito anos quando sua mãe foi peregrinar. Quinze quando seu pai entrou num perigoso jogo de t...