Capítulo 22 - Quem ri por último

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Dian para de assobiar e os musgos ainda cintilam conforme a sua vontade.

Vê-lo faz com que toda a magia se torne desagradável. Eu preferia que estivesse escuro e assim tivesse uma vantagem para me distanciar dele. Agora estou realmente no pior lugar possível, sem armas, sem espaço e nenhum grito meu alcançará alguém.

— Como me encontrou? — Não economizo no desprezo.

— Eu estava prestes a indagar o mesmo.

Estamos sozinhos, tenho dificuldade para respirar só por essa razão. Meus olhos se agitam, vasculhando por uma saída.

Todo o meu corpo estremece quando blefo uma esquiva para seguir à bifurcação da direita e Dian reage de imediato, não pessoalmente, e, sim, fazendo com que as pedras se expandam, finas como lâminas, e bloqueiem a minha passagem.

Não tenho chance de reação. Mesmo girando pelo meu calcanhar na maior velocidade que sou capaz, acabo frustrada e desesperada com a visão de ter todas as minhas saídas obstruídas pelos espinhos rochosos e letais.

— Por que a pressa? — Sua voz carrega ameaças e me desafia. Dian demanda por isso, pela continuação do jogo doentio que eu nunca tive a intenção de participar.

Não posso perdê-lo de vista, e este é o único motivo para eu entregar a Dian o que tanto deseja: o meu olhar, a minha raiva mútua e principalmente o rancor que tivemos tempo de nutrir um pelo outro, dia após dia, no Crann Bethadh.

— Desfaça o que fez.

— Uma criada não dá ordens a mim. — Dian afasta os braços, em uma clara provocação, querendo reforçar o quanto não tenho o menor poder sobre ele. — Mas eu posso te dar ordens, principalmente fora daqui.

Solto um riso breve.

— Tente me mandar fazer algo agora, Vossa Alteza. — É a minha vez de incitá-lo, e a sensação é semelhante à vez que cuspi no rosto de Conan.

Diferente desse idiota na minha frente, eu faço o que faço para ganhar tempo. Preciso pensar em inúmeras hipóteses de como poderei fugir daqui e como, por um deslize, ainda posso acabar morrendo por besteira.

Dian cruza os braços, na sua típica pose enfadada.

— Vai dar o que eu quero tão fácil assim? — indaga retoricamente. Não é burro como eu gostaria que fosse, como Conan seria a tal ponto. — Mentes humanas realmente quebram feito os cristais. É decepcionante. — O seu primeiro passo para próximo de mim é o alerta mais evidente de que eu preciso tomar uma atitude. O olhar de Dian está denso, dissecando-me nos próprios sonhos horrendos. — Vamos lá, me diga que está aqui "quebrando as regras por amor" outra vez, assim como disse no Beltane. Você também mata as pessoas por amor, como fez a Fealltóir Braden?

— Você não tem permissão de dizer esse nome. — Embora eu tente me manter, a minha compostura se desfaz. — Retire o que disse.

Tê-lo se referindo a Feal é um golpe tão duro e injusto na minha alma que não aguento. Volto a sentir o odor do sangue, as minhas mãos tremem, relembrando do impacto de perfurar carne ainda quente e sou atormentada pela voz ardilosa de Dian proferindo cada uma das sílabas que compõem o nome da pessoa que mal posso ouvir falar.

— Retire o que disse! — insisto e tenho o silêncio como resposta.

Meus punhos estão cerrados há um tempo considerável, porém é apenas ouvindo o nome de Feal que deixo com que a agressividade tome conta até dos meus pensamentos. Não posso aceitar. Não posso superar o arrependimento que corrói o meu âmago. Só consigo dizer a mim mesma que eu não tenho culpa por aquela fatalidade, que está tudo nas costas de Dian, porque nada teria acontecido a Feal se eu estivesse mais calma. Se eu só tivesse gritado por Brizo naquele dia, Feal teria reconhecido a minha voz e hoje todos nós poderíamos estar rindo e partilhando novas memórias. Mas tudo foi fadado ao desespero com a presença de Dian no Beltane, com a forma com que jurou a minha morte e amaldiçoou os meus dias posteriores.

A Forjadora do DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora