Há horas na vida em que você se sente tão baqueado que esquece o que vai fazer ou dizer. Me sinto tonta, com os pontinhos aparecendo na minha vista. A minha respiração está travada e o meu corpo pede por ar urgentemente, sem que eu consiga tomar nenhuma atitude.
Minha mente vai quebrar se eu pensar em cada detalhe e em cada coisa que pode dar um fim na minha vida. Essa é a razão para eu me forçar a retornar à realidade e inspirar profundamente, recuperando todo o ar perdido por culpa de Balor.
Eu não posso mostrar nem um resquício desse receio me consumindo. Nunca vi essas pessoas na vida, exceto por Alby, o antigo chefe de Feal. Só pelo olhar deles, me permito recobrar a racionalidade e relembrar dos meus dias trabalhando para o Beltane. Eram todos homens e, durante os sete dias, apenas Feal se aproximou amigavelmente, enquanto o restante só me entregou olhares de canto e desconfiados.
O homem mais alto remexe o seu boné, põe as mãos atrás da cabeça e sai andando em círculos, carregando uma expressão nebulosa. Seu outro companheiro não fica muito atrás, de braços cruzados e olhando para o chão, movendo os olhos e dando indícios de que está traçando um plano. Alby é o único que está trabalhando, sem se envolver.
Nenhum deles dá a menor atenção para mim, se sou mulher ou se pareço uma druida, estão preocupados com as suas próprias vidas e, apesar do contexto terrível, não odeio isso. Passar despercebida em várias ocasiões sempre foi um desafio para mim.
— Eu tô ferrado — lamenta o homem do boné. — Aquela bruxa ferrou com tudo. Como que só quatro pessoas terminam um negócio desses em tão pouco tempo? Como?!
— Parando de reclamar — retruca Alby, sem direcionar o olhar para nós.
— A gente tem que fazer alguma coisa! — insiste. — Eu não posso ser o único com memória aqui, caramba, vocês não viram aquela mulher? Digo, aquela mulher! Balor, Valor, sei lá como é. Estamos todos mortos se não terminarmos essa droga!
Ao lado do homem que se encontra em um estado de negação, o mais novo deles — e parecido com Conan — acaba revelando muito de como se sente apenas com o tom de sua voz chorosa. Ele arruma inúmeras vezes a presilha amarela que prende a sua franja loira, parecendo um tique nervoso. Seu corpo não é notavelmente musculoso e é da minha altura.
— Você ao menos tem tamanho para se defender — diz o rapaz mais novo.
Uma veia salta na testa do homem alto, que ainda vai para cima do menor.
— Você tem língua afiada, moleque.
Parte de mim ainda se assusta com a minha forma irônica de pensar. Estão com medo, mesmo antes de Balor ameaçá-los diretamente. Eu teria morrido ainda em Wexford se não tivesse sido tão repreendida por meu pai, quando adolescente. Acho, inclusive, que eu nunca tive um relacionamento porque sempre fui sincera quanto às minhas preferências e exigências. Antigamente achava que eles continuariam vindo, mesmo ridicularizados, até que eu encontrasse um realmente intrigante, no entanto, Conan foi o único a persistir, um interesseiro. Alguns me elogiaram por não estar desesperada em busca de um par, outros me criticaram, dizendo que eu não me esforçava nem um pouco.
Hoje eu sei como fui burra. E babaca.
Agora eu posso aplicar a mesma fórmula com os meus colegas de trabalho. Se trabalharmos bem e nos conhecermos melhor, apesar dos claros defeitos que noto desde os primeiros minutos, poderemos ter um trabalho mais efetivo. Alby não está totalmente errado quanto à ideia de simplesmente pegarmos o martelo e continuarmos a forja.
— Ei, ei — chamo-os usando um tom defensivo, antes que partam para a agressão física. Fico no meio dos dois e com os braços na direção de cada um, tornando a minha presença notável. — Se alguém quebrar um osso em uma briga inútil, aí sim vamos dormir com os peixes.
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A Forjadora do Desastre
Fantasy✨Eleita uma das melhores histórias de 2021 pelos embaixadores do Wattpad e finalista no Wattys 2021!✨ Por amor, ela quebrará as regras. Aisling tinha apenas oito anos quando sua mãe foi peregrinar. Quinze quando seu pai entrou num perigoso jogo de t...