Capítulo 26 - Um coração exausto

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Dez. Amanhã restarão nove dias.

Não aguento. Meu corpo para de me obedecer assim que ouço o sino que indica, também, a hora que devo ir para a maldita oficina. Sigo para o Bhaile a passos desordenados, escancaro a porta do meu quarto e levanto o meu travesseiro, onde está o frasco do meala que Dian me deu.

Quero pensar nas consequências do que estou prestes a fazer, mas não tenho capacidade de cogitar a respeito, só quero que essa dor cesse, que minha cabeça pare de rodopiar, não importa de quem esse energético veio. Ser orgulhosa agora definitivamente vai ser o meu túmulo, por isso eu só abro o frasco e acabo engolindo um dos comprimidos esverdeados, sem nem me lembrar de que preciso tomar água.

O gosto de café forte desce pela minha garganta e eu fico agachada ao lado da cama, escutando a respiração trêmula saindo pela minha boca, sem forças para inspirar pelo nariz. Os meus batimentos estão lentos, mas de alguma forma os sinto tão acelerados que a região dói, ou trata-se de uma nova alucinação minha.

Dez. Só faltam dez. É uma contagem regressiva para o fim.

Preciso me trocar e ir para a oficina. Estou atrasada. De novo.

Nunca trabalhei tanto num dia

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Nunca trabalhei tanto num dia. Hoje eu não fui um estorvo e nem um corpo se arrastando.

Agora são quase seis da manhã e estou deitada na minha cama, sozinha no quarto, pois o horário de descanso do turno noturno de Muirenn e Muirne já acabou. Estou vendo as minhas mãos tremerem indiscriminadamente, de tão agitado que está o resto do meu corpo. Quero correr, forjar, escrever, falar, pular, gritar, tudo simplesmente junto. O meala é forte o suficiente para eu temer que o meu coração realmente dance até a morte.

Mas é inegável que esse energético me salvou do estado letárgico. Não me sinto mais indisposta.

Parte de mim acredita que devo fugir de Kildare, ignorando os avisos e a marca do nó no pescoço, como se eu fosse mais do que humana. A outra parte, a da razão, está gritando. Eu não aguento mais. Não consigo mais me mover. Respirar é difícil e minha boca está cada vez mais seca. Eu vou morrer se continuar assim, mesmo que termine a produção do arco e das flechas.

Esse realmente vai ser o meu último trabalho, ou talvez eu nem tenha fôlego para aguentar até a finalização. Quanto mais penso, mais sinto os meus olhos fundos e as pálpebras tremendo, próxima de ter uma convulsão ou novos espasmos imprevisíveis.

Estão todos me vendo, assim como Dian mencionou, isso inclui o assassino de Lapim, que já pode estar infiltrado no Crann Bethadh e à nossa procura. Ele vai perceber que sou a criada mais estranha e me seguir, nem que seja por precaução. Vai nos descobrir, e isso é culpa de Balor. Ela preferiu me punir a garantir a nossa segurança.

É porque, se morrermos, Balor pode ir atrás de novos humanos. O progresso da arma não será perdido. Somos terrivelmente substituíveis. O território humano é como um formigueiro, onde as opções nunca acabam, sempre haverá trabalhadores e gente disposta a ficar de bico fechado por quinhentas monas diárias.

A Forjadora do DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora