Cap. 39 | Pecados íntimos.

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Steve.

              Desde pequeno, Sarah, minha mãe, sonha com o futuro perfeito para mim. Um casamento lindo e "digno de um homem de família". Eu nunca soube o que exatamente isso significava.

              Criado em uma família religiosa, minha mãe nunca deixou de seguir padrões ou tradições. Eu gosto de dizer que minha mãe não é uma pessoa ruim, apenas retrógrafa, assim como meu pai. Ambos nunca se cansavam de dizer como as filhas dos amigos da família eram lindas, boas pessoas e esforçadas. Como Susan, a filha mais nova de um colega e grande amigo do meu pai. Susan e eu crescemos juntos, namoramos na adolescência, mas obviamente o relacionamento não foi para frente. Afinal, Susan é lésbica, mas seus pais não sabem disso, em seus 26 anos nunca disse para a família que homens não fazem muito seu tipo. A única filha mulher na família, nunca ditou as próprias regras. Eu sentia muito por ela. 











                Aquilo tudo me irritava, eu não poderia dizer o que mais detestava. Estar ali, rodeado de pessoas que se acham julgadoras da verdade absoluta. Implorei para Bucky vir, mas ele tinha coisas para por em dia e trabalhos para corrigir. No Natal.

                Ouvir meus pais repetirem como Susan e eu teríamos filhos lindos. Ou meus primos relatarem sobre as notas incríveis de seus filhos perfeitos -que não param de gritar um segundo- e como suas esposas são lindas e carinhosas.

                 Natasha não era carinhosa, Natasha era teimosa e imprudente. Natasha tinha a língua afiada. Natasha era nova demais e não tinha interesse em ter filhos. Nem eu. Natasha revira os olhos quando fica impaciente e não se importa em ser educada quando não lhe convém. Eu não quero uma esposa carinhosa. Eu quero Natasha.

—Imaginem, os olhos azuis, loiros. Seriam perfeitos.— Sarah repetia e os outros sorriam. E tenho certeza que isso soa como Hitler.

—Mãe, por favor.— Bufei.

—Não sei por que terminaram eram tão lindos juntos. Saindo por aí de mãos dadas.— A mãe de Susan comentou. 



              Eu desviei o olhar para longe, e minha mente para Natasha. Automaticamente meu estômago enche de borboletas. Nunca pensei que ficaria assim com alguém como Natasha. Debochada, incoerente e completamente sem filtro algum. Ela jamais aceitaria um relacionamento sério, me perguntava no que pensava quando fiz a proposta. Eu a queria, queria para mim. Toda e completamente. Balancei a cabeça para afastar o pensamento.





              Susan batia com a ponta dos dedos na mesa e balançava a perna sem parar. Eu me perguntara quando ela contaria, no altar ao lado da esposa? Bom, eu também me perguntará quando contaria que me envolvi com uma garota de apenas 17 anos e que a desejava ainda mais.



              As pessoas costumam dizer que o amor é cego, talvez seja. Mas acima de tudo, o amor é estranho e com certeza complicado. O amor de verdade vai além do que é possível compreender, não é um sentimento em si, mas um amontoado de sentimentos bons. E qualquer um, independente de qualquer coisa, é capaz de instigar esse amontoado em outra pessoa. Eu comecei a acreditar que talvez, nos últimos meses, Natasha tenha se tornado essa pessoa para mim, mas não tenho certeza se eu sou essa pessoa para ela. 

[...]

             













             O jantar se entendeu por algumas horas, até que eu me vi livre, caminhei para fora da casa, precisava de ar. Sentei no banco no jardim, alcançando o celular no bolso da calça. Olhei para a tela, sem saber o que exatamente esperava ver. Alguma mensagem de Natasha talvez. 

—Te sufocaram?— Ouvi a voz familiar de Susan e me virei para vê-la se aproximar. 

—Seria mais fácil se você contasse à eles.— Respondi simplesmente.

—Não é tão fácil quanto parece, Steve.— Ela se sentou ao meu lado, deslizando seus olhos para as mesmas sombras no horizonte que eu encarava.

—Por que não?— Perguntei franzino a testa.

—Porque as pessoas complicam tudo.—

—Susan, eu sei que é complicado essas coisas, mas você é uma mulher adulta. Não deve se arrastar para buscar a aprovação dos seus pais.— 

—Você faz parecer fácil.—

—E é.—

—Então por que não contou que está apaixonado por outra mulher?— Juntei as sobrancelhas e a fitei. Susan deu de ombros e desviou o olhar, continuando antes que eu respondesse. —Não finja que entende como é para alguém contar à família sobre sua sexualidade, ainda mais quando nem você tem coragem para contar sobre sua vida e acabar com aquela palhaçada.— Susan ameaçou se levantar, mas eu a segurei no braço puxando-a para o banco novamente. 

—Ok, me desculpe. Você tem razão, eu estou frustrado com meus próprios problemas e descontei em você.— Ela abaixou os olhos, eu a puxei para mais perto e a abracei.

—Você está mesmo apaixonado?— Após momentos de silêncio, ela o quebrou em um sussurro.

               Steve pensou por alguns segundos, ele não tinha certeza, mas a pergunta era válida. Ele estava?

—Não sei.—

—Me fala sobre ela.—

—Ela...— Comecei. —é inteligente, teimosa, impulsiva. Tem uma língua afiada que às vezes irrita. Ela é independente e muito madura. E definitivamente a mulher mais linda que eu já vi.— Suspirei, e meus lábios curvaram minimamente nos cantos.

—É, você definitivamente está apaixonado.— Ela concluiu sorrindo. Eu bufei desviando o olhar. —E qual é o problema? Ela não gosta de você?— Se eu contasse que Natasha era minha aluna e jovem demais, Susan me xingaria até minha quarta geração. Talvez eu merecesse isso.

—É complicado. Nem sei se ela quer entrar em um relacionamento.—

—Só tem uma forma de saber, né?— Ela sussurrou.

—Sim...— Eu respondi, tão baixo quanto. —E você?— Mudei de assunto. 

—Eu o quê? Sai com uma colega da faculdade algumas vezes, mas não acho que seja sério. É mais uma amizade colorida.—

—Hum...— Eu não sabia o que responder, então apenas fiquei em silêncio, que era interrompido pelos grilos e cigarras no jardim. 

—Esse jantar me sugou muita energia, vou descansar.— Ela disse se levantando para ir embora, mas antes estendeu um embrulho com guirlandas natalinas desenhadas, não fazia ideia de onde ela tinha escondido aquilo que eu não vi. Parecia um livro.

—Seu presente está em cima do aparador no corredor da entrada.— Eu sorri. —É um colar. Achei sua cara.—

—Obrigado.— Agradeceu por fim e se afastou para dentro da casa.



               Eu rasguei o papel, um livro de capa vermelha surgiu. Estou tentando completar a coleção de Agatha Christie. Susan acabou de acrescentar mais uma cor ao arco-íris. É a cara dela.

Dirty And Sinful Secret | Romanogers.Onde histórias criam vida. Descubra agora