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Hope

Exame

Encostei a cabeça no vidro da janela do ônibus, a garganta embolou, mordi o lábio pra mandar para longe a vontade de chorar. Eu exagerei no negócio do bar, mas no final deu tudo certo, eu não estou grávida aos vinte anos e a conversa e a companhia estava tão boa e ele estragou tudo. Grosso, estúpido do jeito que é. Eu pensei que...estávamos tendo um lance. Estávamos né?

....

Faz uns dez minutos que estou na linha de espera, da clínica, para marcar de fazer o exame.

As crianças estão agitadas hoje, e agora na hora do intervalo está tão barulhento e pela primeira vez, eu não queria estar aqui. Queria estar em casa, em Portland na minha cama, com a minha mãe batendo na porta do meu quarto me trazer um chocolate quente.

*Alô senhorita, ainda está na linha?

Onde mais estaria? Bufei.

*Estou.

*Senhorita, o horário disponível para hoje, já que a senhorita pediu mais rápido possível, será às 2h30 da tarde. Resultado imediato certo?

*Está ótimo pra mim, estarei aí sim, o mais urgente possível obrigada.

Fazer exame de sangue, para confirmar o que já está confirmado que no caso é "não estou grávida", para alívio de consciência... De todos.

As coisas ocorreram normalmente, na escola, horário de fazer a consulta/exame de sangue chegou e as 2h20 eu estava lá. A picadinho da agulha doeu o resultado, como pediu mais rápido possível, está pronto amanhã. Agora me diz como é que eu vou conseguir dormir a noite? Não não vou conseguir.

...

Cheguei em casa já era noite, o pessoal já estava jantando. Mas mesmo assim me juntei a eles. Ocorreu tudo como de costume, as conversas jogadas fora as, o que aconteceu no dia de cada um, o que irá acontecer à noite e o que acontecerá amanhã. Fiquei responsável por organizar cozinha, lavei a louça enquanto Lucrécia secava e guardava. Em 20 minutos estava tudo limpinho, organizado. Alguns já estavam dormindo, outros saíram para curtir a Cidade do México e eu subi para o meu quarto. Me sentei na cama sem saber muito o que fazer, o que pensa. Eu estou... Magoada...não sei só me sinto muito muito triste.

Tomei banho, já enrolada em casa, abri minhas correspondências. Ainda bem meus cartões novos chegaram.

- O que ela tem? - Ouvir alguém cochicha.

- Ela está assim desde ontem. Você é amigo dela, deveria saber o que ela tem!

- Você dividi o quarto com ela deveria saber mais.

- Você saiu com ela, você voltou só, ela volto sozinha, pergunta você o que aconteceu. Eu só divido quarto com ela e queria que eu sumisse agora.

- Eu não sei o que aconteceu. Nos separamos.

- Ela parou de fazer as piadas dela sem graça. De sorri pra todo mundo. De elogiar tudo. Isso só hoje, hei! Não estou reclamando. Mas está estranho. Não quero acordar com formiga nos dentes. Ela pode estar louca.

- Já está exagerando Gabriele.

- Está dizendo isso por que não dorme no mesmo quarto que ela.

Enrolei a cabeça, para assim faze-los notarem que eu ouvi tudo, que os cochichos foram além de cochichos.

...

Acordei cedo, e hoje não teve pegadinha da Gabrielle. Tomei um banho, me arrumei, peguei minha bolsa com tudo que eu vou precisar durante o dia e o que vou precisar também no trabalho, e fui direto para clínica pegar o resultado do exame. 9h00 a minha "consulta".

- Hope Lois Martin Campbell! - uma enfermeira chamou meu nome. Soou engraçado com o sotaque espanhol.

- Sou eu. - fiquei de pé. A mulher me entregou o envelope com o exame. Para descargo de consciência, o médico irá ler o exame. Não quero só abrir e ler negativo ou positivo, prefiro que um profissional da área faça isso por mim.

E deu negativo. Nenhuma surpresa né. Os testes de farmácia também deram negativo, todos os quatros. O médico falou a típica frase, você é jovem e saudável ainda dá tempo de tentar ter mais filhos. Não é todo mundo que engravida na primeira tentativa. Não foi bem uma tentativa, foi mais... Balancei a cabeça tentando levar esse pensamento para longe de mim, essa lembrança.

Me assustei quando alguém buzinou bem perto de mim. Estou passando da faixa de pedestre o motorista está cego por acaso?

Tirei a partir da manhã de folga, e não fui trabalhar, então, depois que sair da clínica, fiquei vagando pela cidade até me sentar em um banco de uma praça, que não sei nem qual é. Passou um vendedor de picolé, comprei um, o tomei, depois comprei mais um, porém esse derreteu e nem percebi. Lembrei o que tenho que fazer.

Agora eu tenho o número dele, ele me deu ontem após fazermos os testes de farmácia e deu negativo, meio que fizemos as pazes, logo em seguida tudo desmoronou de novo. Eu sou muito azarado, quando a questão é me envolver com outras pessoas romanticamente, emocionalmente e pelo visto fisicamente já que com o Isac o inicio de tudo foi isso.

Procurei o número dele nos contatos, achar clique em cima, começou a chamar mas desliguei. Eu não teria coragem de...de ouvir a voz dele e não...chorar. Eu não sei o motivo de estar tão sensível, sentimental com isso tudo, com ele.

*Oi, sou eu Hope. Pode ficar tranquilo, não temos mais nenhum vínculo.

Fiquei olhando para a tela do celular, tem um minuto que eu tinha mandado a mensagem ele visualizou. Não respondeu de volta, o que foi bom. Respirei fundo jogando restante do picolé na primeira lixeira que vi na minha frente e foi embora.

No ringue com o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora