tinta e seis

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Hope

Eu acho que sempre minha vida vai ser corrida, sem muito tempo para coisas entediante do cotidiano... E gosto disso. Não estou reclamando. Sentir adrenalina é... Sentir o quanto vale a vida. E é sobre isso que estou pensando agora, estou vendo bem diante dos meus olhos. Duas crianças foram trazidas hoje para o orfanato, quando presencio essas coisas, principalmente a situação em que as crianças chegam, visivelmente abalados é de partir o coração e você tem que ter muito sangue frio para se manter firme e não desmoronar.
São duas crianças, uma menina de 10 anos e um menino de quatro, é nítido o quanto sofriam. O garotinho é bem quieto, não fala quase nada, fica no canto parecendo assustado.

No final da tarde quando a diretora do orfanato reuniu todos os Cuidadores e o pessoal que trabalha voluntariamente, A pauta principal foi a chegada das novas crianças e me passou uma coisa pela cabeça. Mordi o interior da boca para me conter, quase falei em voz alta.

Passei pelo o refeitório quando a reunião terminou antes de ir para o meu quarto, sim, estou morando no orfanato também, faz umas duas semanas. O clima no alojamento não melhorou e acabou que me desentendi novamente com Gabrielle, a coisa só piorou e não dá pra você ficar num lugar onde a convivência não existe. Tentei, juro, mas cheguei no meu limite, então irei ficar no orfanato temporariamente, havia um quarto vago que é dos cuidadores, então estou aqui, depois que as aulas terminam, ajudo o pessoal a cuidar das crianças. É tranquilo e… sinceramente, eu nasci para trabalhar diretamente com crianças. Não tenho nenhuma dificuldade e me sinto realizada em paz.

O garotinho, se chama Gael, está sentado junto com as outras crianças, mas ele está quieto, as mãos em cima da mesa segurando o garfo e a colher encarando o prato.

— Ele não interagiu nada? — perguntei a Antónia, ela é mais ativa nos cuidados das crianças menores.

— Não. As outras crianças tentam interagir com ele, mas só fica assim de cabeça baixa.

— Quando é a consulta dele com a psicóloga?

— Amanhã de manhã.

— Ela vai nos dar um norte de como agir com ele.

— Sim. — ela saiu para ajudar a pequena Maria Pilar a se limpar.

Fiquei mais uns minutos observando as crianças e voltei pro meu quarto, chegando lá tirei os sapatos me jogando na cama, nesse exato momento meu celular começou a tocar. Isac meu namorado. Rir olhando para a tela E com pensamento dele ser meu namorado. Estamos oficialmente namorando a quase um mês.
Conversamos por quase uma hora e depois acabei pegando no sono.

No outro dia…

Hoje a aula foi de artes, então tem pincel, tinta e papel por toda parte.

— Tia Hope!! — Martina veio até mim mostrando as mãos todas sujas de tinta até a altura dos cotovelos. Rir pegando uns papéis toalhas para limpa-lá. Voltei para junto do Gael que está pintando um sol de azul.

— Errei? — perguntou, fiquei em choque e ao mesmo tempo feliz, porque é a primeira vez que ele fala com alguém desde que chegou aqui. — É outra cor.

— Está bonito assim. Você gosta assim? — Ele apenas balançou a cabeça. — Então continue pintando. Faça apenas o que gosta está bem? — Ele levantou a abecinha olhando para mim, ficou me encarando os olhinhos levemente arregalados enquanto balançava cabeça.

— Gosto de azul. — disse.

— Azul é uma boa cor.

— Sim. Vou fazer… — sujou a palma mão toda, pressionou no papel, riu e com a ponta do dedo indicador, sujou na tinta preta e fez dois olhos e uma boca sorridente na palma da mão do desenho. Novamente o pensamento me passou pela cabeça, na verdade não passou, está lá no cantinho, não falei com ninguém sobre isso, mas é o que está no meu coração.

Uns dois dias depois, a diretora me chamou na sua sala, até sei do que se trata.
Ela sorriu a me ver, finalizou a ligação e pediu para que eu sentasse.

— Acredito que você já tem uma noção porque eu te chamei aqui. — Balancei a cabeça.

— Sim. Tenho.

— É normal os Cuidadores se apegarem a algumas criança em específico, e vi que você não está imune a isso.

— Sim. Eu quero muito protegê-lo E para isso, acredito que seja a única forma de fazer isso com total segurança, dentro da lei dos parâmetros e... — Minha voz está embargada. Respirei fundo. — A única forma de fazer isso é adotando ele, é sendo a mãe dele. Amando ele.

— Imaginei pela a forma em que está se dedicando a ele e olhando para ele com carinho, que apenas uma mãe poderia olhar. — concordei enquanto limpo os cantos dos olhos. — Mas você mais do que ninguém sabe o quanto é difícil e complicado! Estou Falando da criação em si, isso todo mundo tem consciência de que quando se é mãe e pai é uma responsabilidade muito grande, tanto mentalmente quanto financeiramente...

— Eu sei.

— Que você é jovem e solteira, não tem trabalho fixo e não tem onde morar.

— Posso dar um jeito nisso tudo. — me apressei a acrescentar — Quer dizer... sobre moradia e trabalho, e sobre relacionamento estável, eu tenho namorado. Nos conhecemos desde adolescentes e a nossa família é amiga bem antes disso, então... Eu tenho uma base familiar boa. Tenho bons exemplos dos meus pais e amigos dos meus pais.

— Em já falou sobre esse desejo com mais alguém?

— Não exatamente. É um desejo do meu coração e...

— Entendi. — ela começou anotar algumas coisas e depois clicando em alguns botões do teclado do computador. — Vai entrar com processo de adoção? — Funguei engolindo o restante das lágrimas.

— Sim.

— OK. Então você tem que preencher alguns questionamentos, mas acho que alguns deles ainda ficará em branco devido a sua situação atual. Que falei agora pouco.

— Sim. — Balancei a cabeça concordando.

A primeira coisa que eu fiz quando sai da sala da diretora, foi pegar o celular e liga para os meus pais. Eles mais do que ninguém vão entender esse meu amor e carinho pelo Gael espero que me apoiem.
Quando tive um tempo livre das minhas tarefas e obrigações, comecei a pesquisar os apartamentos ou casas, foi relativamente fácil, devido que nas últimas semanas ajudei a Lara minha cunhada a procurar uma casa pra ela, que a propósito estará se mudando para o México com a sua filha também adotada Sofia, que é a coisa mais linda do mundo, as duas juntos é um amor.

Mandei uma mensagem para Isac: — vamos sair hoje? Tenho uma coisa pra te contar.

Durante o caminho até o apartamento do Isac, conversei com o melhor amigo dele que também está tendo um rolo com a Lara.

Eu: Eu pedi a sua opinião sobre adoção, porque conheci um garotinho que eu não paro de pensar nele, o que você acha que vai ser a reação do Isac?

Victor: Conhecendo o isac como eu conheço acho que ele vai gostar muito da ideia, provavelmente ele quita até fazer parte da vida do Gael isac tem esse jeito Durão mas é um coração mole.

Eu: sim. Ele é um amor.

Eu: Eu vou falar com ele, mas é muita loucura se eu querer muito isso? Não quero impor nada a ele. A gente se acertou agora pouco e nao quero afastar ele de mim, e o Gael não é nada impulsivo nem louco da minha cabeça

Victor: Não é loucura nenhuma é uma coisa linda isso que você quer fazer Hope, acho que ele vai te dar todo o apoio que precisará para adotar o Gael, e com isso você não vai afastar o isac de você pode ficar tranquila.

Limpei as lágrimas quando desci do carro. Victor conhece um lado do Isac que outras pessoas não, então é muito importante saber a opinião dele.

Em parceira com a edrianamaria

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