BLOOD LOVER

Capítulo 58

Sentada na ponta da cama de Anna, balanço meus pés, um para frente, outro para trás. "Você vai passar tanto tempo assim lá em Baffin?" pergunto. Meu olhar segue de Anna para sua mala gigante entre nós. A pilha de roupas está mais alta que uma torre de TV, e imagino que vá ser difícil fechar o zíper. "Não sei se você vai gostar, mas na fortaleza não tem energia elétrica."

"Não vou a Baffin," diz sem tirar os olhos de uma regata azul de algodão que dobra e redobra, mas nunca fica satisfeita com o resultado. Logo desiste e apenas coloca a peça de qualquer jeito junto das outras.

Depois da minha chegada de volta a Rochester, minha família e eu fomos à polícia reportar meu reaparecimento, e eu falar sobre o que havia me acontecido. Tentei manter a mesma história, mas não sei se fui convincente. O policial que tomou meu depoimento, um homem moreno alto e magro em seus quarenta anos de pele queimada pelo frio, deixou-me sugestivamente um cartão seu para ligar-lhe caso eu lembrasse algo. Agradeci com uma tentativa de sorriso. Por dentro estava tremendo de medo que ele soubesse que mentira. Seu olhar desconfiado me assustava.

Alguns dias após isso, voltei à escola. O recesso de inverno havia acontecido enquanto estava na fortaleza, então era o início do segundo semestre. Apesar de meus professores terem sido compreensivos sobre minha ausência, havia recebido um amontoado de atividades para fazer e recuperar as notas. Quando apareci na manhã de segunda-feira, basicamente todo mundo me parava para perguntar como estava e o que havia me acontecido. A sede de fofocas daquele lugar continua insaciável.

Mas o mais estranho foi durante o horário de almoço do meu primeiro dia. Jason chegou à minha mesa e perguntou sobre meus amigos. Àquele momento, eles ainda estavam no Canadá ajudando Bram, Neal e os outros aliados com o exército. Bram e Jesse preparavam porções da cura, Neal e os outros destransformavam os vampiros, Vince e alguns aliados ficavam responsáveis de levar os recém-humanos para longe da fortaleza. Fiquei sabendo que depois que Jason saiu do efeito do feitiço de inconsciência, os vampiros questionaram-no o que lhe havia acontecido. Ele não se lembrava de nada. Durante nossa conversa no refeitório, senti como se quisesse que eu revelasse algum segredo dos vampiros a ele. Tudo o que pude fazer foi mentir mais uma vez. Disse que não sabia de nada. Jason não aceitou muito bem a resposta, mas percebeu que eu sou uma fonte inútil.

Por Lisa e eu termos aparentemente passado por situação semelhante, ela tem me dado bastante atenção. Fica me perguntando se lembro de alguma coisa ou sei o que aconteceu com Carter. Gostaria de poder contar-lhe que logo ele estaria bem novamente e voltaria para casa, mas tive de mentir sobre isso também.

"Vai aonde então?" pergunto a Anna.

"Newark." Ela vira o rosto em minha direção e sorri, e é um sorriso verdadeiro. "Se der tudo certo, Abigail, Emily e eu voltamos para casa." Coloca a última peça de roupa na mala e tenta fechá-la. O zíper tem dificuldade para correr, mas como a doença dos vampiros é compensada com características que os auxiliam na caça por sangue, sua força anormal é suficiente para fazê-lo fechar.

Meu coração se contorce no peito ao ouvir isso. Deveria ficar feliz que elas finalmente voltariam para casa e poderiam rever sua família, mas Anna agora é minha melhor amiga. Depois de perder Bernard, não quero ficar sem ela também. Obviamente ela deve sentir falta de casa e lhe é um alívio finalmente abandonar sua identidade falsa de Rochester e retornar a sua antiga vida. Mas minha parte egoísta quer chorar para que fique aqui comigo. Sei que podemos ainda ser amigas à distância, no entanto, quando nos veríamos?

Paro de balançar os pés. Já não me sinto animada. "Lando e Jesse vão com vocês?"

"Jesse primeiro quer voltar a sua cidade natal e ver como está lá, depois decidir o que fazer." Afasta-se da mala e vai até as gavetas da mesa-de-cabeceira. Enquanto abre a primeira, diz, "Lando vai voltar a San Diego." Tira seus pertences da gaveta e coloca-os na parte de cima da mesa. Fico em silêncio ouvindo-a organizar suas coisas.