Capítulo 36

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Enquanto Bern e os outros levam Logan ainda desacordado para seu quarto, eu sigo rumo ao sótão atrás do Livro. Em segundos estou no cômodo revirando as gavetas da mesa-de-cabeceira de Bern. Chama-me atenção a bagunça das gavetas. Bern costuma ser uma pessoa organizada e metódica. A desordem contraria isso. É como se alguém tivesse entrado aqui e revirado suas anotações atrás de alguma coisa.

Entre uma pilha de papéis, muitos deles amassados, e alguns diários, finalmente encontro o Livro. Pego-o e sento-me na cama ao meu lado.

O Livro é uma encadernação grossa com capa de couro e folhas amareladas. Abrindo a primeira página, não vejo nada escrito além de um nome. Anthony Harrison. Passo os dedos sobre as palavras. É difícil imaginar que há muitos anos alguém que deve ter sido meu tatara e alguma coisa avô tenha o escrito.

Avançando mais algumas folhas, encontro uma espécie de índice, mas ele não é de muita ajuda. Cada item na lista é nomeado de uma forma esquisita, e eu não consigo nem adivinhar do que se trata. Mas dando uma segunda olhada, um nome me chama atenção. Escrito à mão, as palavras "fantoche autômato" piscam no papel, e eu rapidamente viro as páginas atrás dele.

Quando na página indicada no índice, escaneio-a rapidamente, achando suas palavras familiares. Parece se tratar de um feitiço.

Tiro os papéis que carrego no bolso e comparo-os com o Livro. Não levo muito tempo para descobrir que quem tenha escrito neles copiou o conteúdo do Livro. As palavras são todas iguais, nem uma vírgula sequer diferente. A única diferença é que o Livro se estende em explicar todos efeitos e possíveis complicações, enquanto os papéis avulsos contam apenas com a parte de execução do feitiço. Ou Lisa teve de alguma forma acesso ao Livro, ou existe mais de um exemplar. Alguma coisa em mim prefere acreditar na segunda opção.

O tal "fantoche autômato" é um feitiço de manipulação. Com um pouco dos Cristais e um ponto de ligação à pessoa-alvo, quem executasse o feitiço teria poder de controlar as ações de uma outra pessoa. Mexer no livre-arbítrio dela. A pessoa estaria consciente das ações, mas não poderia impedi-las. Ela simplesmente assistiria a si mesma executá-las. O feitiço só poderia ser desfeito quebrando os Cristais, isso cortaria a conexão desde que fossem destruídos pela tal "seiva carmesim". Quanto a isso, não há nenhuma explicação. Também, em uma das observações, consta que a pessoa atingida ainda se lembraria de tudo que fez fora de seu controle.

Paro de ler e olho para a janela. Lá fora o vento frio sopra levando folhas secas pelo gramado. É exatamente o que aconteceu a Lindsay e a Bern lá no casarão. Lindsay obedecia aos comandos de Bern, e Bern aos comandos de outro alguém. Eu desconfio que seja a mesma coisa que tem acontecido com Logan, mas a diferença é que ele não se lembra de nada do que faz quando perde a autonomia.

Começo a folhear o Livro, lendo apenas trechos dos demais feitiços na esperança de encontrar alguma coisa relacionada à memória, embora Bern tenha dito não haver nenhuma anotação relacionada a isso.

Depois de virar as páginas até o final e não encontrar nada, volto ao começo e reinicio a busca nas primeiras páginas. Não demora muito até eu me deparar com um feitiço que muito se assemelha à situação de Logan. Com pelo menos cinquenta páginas explicativas, um feitiço de memória aparece.

Passo os olhos com pressa pelas páginas introdutórias até encontrar uma informação que me chama atenção. Amnésia seletiva. Uma das possibilidades de manipulação da memória é a de apagar lembranças específicas de uma pessoa. O princípio é o mesmo do outro, Cristais e um ponto de ligação. Com isso é possível decidir o que a pessoa vai lembrar ou que não, ou como ela vai lembrar. Aquele que estivesse por trás do feitiço teria controle total, porém, de lembranças criadas apenas depois do feitiço ter sido feito. Ou seja, ele não poderia mexer em nenhuma lembrança já pré-existente. No entanto, seria capaz de criar memórias novas que nunca foram verdade.

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