Na segunda-feira, o sinal do final do terceiro período soa dois minutos depois do horário normal. Eu me levanto na mesma hora do meu lugar e corro em direção à saída. Prometi a Anna hoje mais cedo que falaria com ela antes do quarto período, e não posso perder tempo. Em poucos segundos, o corredor começa a ficar lotado de adolescentes, e eu tenho que quase me espremer entre os corpos para conseguir passagem.
Ontem à tarde Bern e Neal foram ao parque atrás de pistas sobre o ataque. Através da nossa troca de mensagens à noite, soube que eles não encontraram nada e as gotas de sangue, segundo Bern, sumiram. Bern também disse que teve a impressão de que Neal começou a desconfiar dele, que só acreditava sobre ataque porque eu também testemunhara, mas que talvez tudo não passasse de um plano de Bern. Depois da ida ao parque, Bern voltou a sua vida no sótão da casa número 100 de tijolos à vista, e Neal deixou a cidade para se juntar a Bram.
Em passos apressados, chego a meu armário e abro a porta, pronta para enfrentar a bagunça que eu sempre esqueço de arrumar.
"Sophie?" Ouço alguém dizer, enquanto estou com braço enfiado dentro do armário, revirando a bagunça de papéis amassados atrás de meu livro da próxima aula. É quase como um sussurro.
Viro minha cabeça na direção da voz. "Sim?"
"Você viu a Carolin?" É Isabella e ela não parece bem. Olheiras profundas abaixo de seus olhos acompanham o olhar de preocupação. Todas as suas unhas das mãos estão roídas, e até mesmo suas roupas parecem meio amassadas, como se ela tivesse passado a noite em claro.
"Não," respondo. "Por quê, aconteceu alguma coisa?" Eu sei pelas conversas do corredor que as duas são melhores amigas desde sempre e nunca se separam. Se Isabella não sabe onde Carolin está, é muito difícil que outra pessoa saiba.
"Ninguém a vê desde sexta-feira depois da aula," diz. Lágrimas se formando em seus olhos. "Ela tinha ido caminhar no parque." Ela funga. "Sabe de alguma coisa?"
Sexta-feira depois da escola. Meu coração dá um salto. Sangue frio começa deslizar pelo meu corpo.
O ataque.
Como se alguém tivesse passado uma borracha em tudo o que houve depois da escola.
Logan.
Não, não, não. É só uma conclusão precipitada. Eu não sei o que aconteceu na sexta-feira depois da escola. Sim, a garota no parque a nossa frente era loira como Carolin, mas estávamos longe demais para distinguir seus traços. Talvez fosse outra pessoa. Talvez ela estivesse caminhando em outro parque. E talvez Logan não tenha nada a ver com isso. Jesse estava furioso com ele, mas eu não faço ideia do porquê. Talvez ele tenha feito uma besteira qualquer. A parte de ele estar lavando a boca foi mesmo estranha, só que se fosse sangue, como eu havia sugerido no sábado, não faria o menor sentido. Talvez fosse outra coisa. Talvez eu só esteja me confundido. Logan disse que nunca tentou nada contra um humano antes, não deve ser isso que aconteceu.
"Sophie? Você está aí?" Isabella pergunta.
Pisco algumas vezes, deixando minhas divagações para trás. "Ah, não. Eu também não vi Carolin desde sexta-feira."
"Bem, obrigada de qualquer forma." Suspira e parte para a próxima pessoa. Eu fico olhando em silêncio enquanto ela se afasta.
***
Bern suspira fundo e larga o Livro sobre o colo. Já faz pelo menos meia hora que ele está folheando suas páginas.
Depois da aula, decidi vir vê-lo. Bern passa a maior parte de seu tempo no sótão estudando as anotações de seu criador e o Livro. Acha que em algum lugar deve haver alguma coisa aqui que possa nos levar aos vampiros que têm o controlado e estão possivelmente atrás de mim. Uma de suas suposições é encontrar um feitiço relacionado à memória. Algo que possa ajudá-lo a se lembrar de alguma pista, já que acredita que esses vampiros só o tenham permitido a se lembrar do que eles querem que ele se lembre.
"Algum progresso?" pergunto, olhando para a pilha de papéis sobre a cama. Além do Livro, ele já leu pelo menos duas vezes cada uma de suas anotações avulsas, e provavelmente está pensando em logo ler por uma terceira. Eu pensei em ir embora para não o atrapalhar, mas ele pediu que eu ficasse, então estou aqui também lendo alguns dos papéis.
"Ainda nada," ele responde. Tira os olhos do Livro e olha para a janela atrás de mim, seus olhos perdidos em pensamentos. Eu olho para seu rosto. É como se cada dia ele me parecesse mais pálido que eu lembrava. A falta de cor lhe dá um aspecto quase doentio, e eu me pergunto se ele tem dormido. Pelas olheiras sob seus olhos, diria que ele está lendo essas anotações já há muito tempo. Sinto-me impotente por não poder simplesmente lhe dar todas as respostas de que precisa. "Há tantas anotações que eu acho que isso vai levar eras. Até agora não encontrei nada que se assemelha à minha situação." Ele franze o cenho, sem tirar os olhos de seja lá o que esteja encarando.
"E se não for como você pensa que é? E se não tiver nada para lembrar?" Olho para o papel em minhas mãos, uma caligrafia apressada e que eu mal consigo entender escrita a lápis.
"Não." Ele franze mais a testa, ainda olhando para fora da janela. "Eu sinto que tem alguma coisa errada. Deve ser a mesma sensação que um humano tem sob o poder de um vampiro." Seu olhar baixa para a pilha de anotações sobre a cama.
"Como assim?" Agora é minha vez de franzir a testa.
"Persuasão." É tudo o que ele diz. Seus olhos se voltam para os meus, uma expressão séria no rosto.
"Ainda não entendi."
"Vampiros são predadores, e como todo predador, eles têm habilidades de predador," ele diz. "Persuasão é uma delas. Ah, e a aparência. Por que você acha que os vampiros tem uma aparência sobre-humana? Não é simplesmente que as pessoas mais bonitas são transformadas. É uma beleza ganha, e essa é uma forma de atrair suas vítimas junto com o poder de convencimento!"
"Hum, faz sentido. Mas como é isso?"
Ele olha em volta, como se procurando um exemplo pelo cômodo. Depois de um tempo refletindo, levanta os olhos para mim e diz, "Você acha que ajudou Logan simplesmente porque se sentiu comovida pela história dele? Vampiros são traiçoeiros, e Logan não é muito diferente disso. Ele te persuadiu a concordar com ele. Não se sentiu como se a escolha não tivesse de fato partido de você, mas como uma sugestão? Foi ele usando a persuasão." Tenho a impressão de ver um pequeno sorriso passando pelos lábios dele, como se satisfeito com o que acaba de dizer, mas não tenho certeza. É tão rápido que não consigo dizer se aconteceu ou não.
Abro a boca, sem saber o que dizer. "Como você pode saber disso?"
"Eu moro na mesma casa que ele," responde como se fosse óbvio, o que na verdade é. "Ouvi de seus próprios lábios. Ele admitiu tê-la convencido a ajudá-lo. Eu não sei em que parte da história você decidiu por si mesma, mas em algum momento ele te coagiu a isso."
Sinto sangue quente subindo pelo corpo, as bochechas queimando. Quase amasso a folha em minhas mãos. Por um momento, tenho vontade de agora mesmo descer lá embaixo e gritar com Logan. Em vez disso, apenas baixo a cabeça e tento me lembrar de alguma coisa.
Agora eu lembro quando foi. O dia na baía quando ele pediu desculpa, e eu não entendi por quê. Sim, eu desconfiava dele e até mesmo pensava que ele quisesse, inicialmente, me matar. E não tinha nenhum motivo para me arriscar. Mas, mesmo assim, concordei em ouvi-lo, não concordei? Eu não queria ter me cortado naquele dia, mas não queria dizer que não fosse ajudá-lo. Então ele não respeitou minha escolha e simplesmente interferiu no meu livre-arbítrio. Depois teve a ousadia de dizer que me manteria segura. Se ele se vê no direito de me obrigar a fazer coisas colocando seus desejos acima dos meus, estaria tão segura assim? Quero dizer, mesmo agora, quando ele diz ser meu amigo, não me contou a verdade e parece que nunca contará. As palavras de Bern sobre ele estar apenas me usando voltam à minha mente.
Ao ver minha expressão, Bern diz, "Talvez você esperasse que ele fosse diferente, não é? Não posso culpá-la. É muito fácil humanos se sentirem seduzidos por vampiros. Faz parte da dinâmica presa e predador. E ele inspira confiança. Foi presenteado com o dom de ser gostável, o que torna ainda mais fácil para fazer humanos caírem no que ele diz."
"Você diz essas coisas como se ele fosse o ser mais vil que existisse."
"Desculpe, não era a intenção." Ele olha para mim, visivelmente arrependido. "Ele é ainda só um garoto, mas tem qualidades que podem torná-lo um vampiro perverso se for pelo caminho errado."

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BLOOD LOVER
VampireSophie sempre se viu como vítima de estranhos incidentes. Perseguições; invasões em sua casa; pequenos acidentes que se transformam em cortes sangrentos. Nada disso seria um problema até ver sua vida em verdadeiro perigo numa estranha tentativa de a...