Capítulo 57

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Os meus primeiros dez anos de vida foram muito felizes. Morávamos em uma casa espaçosa num bairro residencial de Staten Island. Steve e eu estávamos sempre correndo pela grama do nosso quintal. Brincávamos de esconde-esconde no andar superior. Embora nossa mãe sempre estivesse conosco por trabalhar em casa, nossos brinquedos ficavam espalhados por todos os cômodos. Sua mesa de trabalho vivia igualmente desorganizada. Meu pai chamava atenção para nossa falta de ordem, mas não se incomodava seriamente com isso. As coisas funcionavam, como engrenagens que perfeitamente se encaixam.

Todas as manhãs Steve e eu deixávamos nossa casa para ir à escola a pé. Nossa mãe obrigava meu irmão a segurar minha mão, e ele detestava. Depois que ela se despedira e sumia porta adentro, rapidamente ele soltava minha mão e limpava a sua na barra da camiseta.

Na escola não ficávamos juntos, cada um tinha seus amigos. Eu tinha diversos. Patricia, Barbara, Debra, Cheryl. Às vezes íamos uma na casa das outras. Steve ficava louco quando tinha que cuidar de todas nós de uma vez.

Durante o verão, meu pai levava Steve e a mim para passarmos as férias na casa de seus pais em Rochester. Como ele é filho único dos meus avós, mas estava longe em Nova York, aproveitava a época para ver como estavam. Adorávamos ir ao lago nadar, ir ao cinema assistir a qualquer filme que nossa mãe não aprovaria, dormir só depois da meia-noite. A única parte de que não gostávamos era de ir à igreja. Meu avô era muito religioso. Ele dizia que seu pai jamais faltava às missas de domingo e, assim, ele tentava fazer o mesmo.

Infelizmente, o vovô Frederick não pode mais ir a mais nenhuma celebração religiosa. Aos meus oito anos, acabou morto. Alguém teria o assassinado. Ninguém nos deu detalhes, éramos muito novos. Depois disso, nunca mais fomos passar as férias em Rochester. Uma vez perguntei sobre minha avó, e tudo o que nossa mãe disse foi que ela estava com pessoas que cuidariam dela. Fomos visitá-la uma única vez. Só me lembro de um lugar cheio de pessoas da mesma idade dela. Cabelos brancos e rugas. Àquela idade eu não sabia o que era um asilo para idosos.

Foi como se depois disso tudo começasse a ruir. Dois anos após o falecimento de meu avô, meu pai perdeu o emprego. Ele constantemente dizia que teríamos que deixar nossa casa. Quando eu pensava nisso, ficava com um medo terrível de sair dela. Gostava muito de onde morávamos.

Mas as coisas ficaram ainda piores depois de um domingo fatídico. Ainda consigo visualizar perfeitamente a faixa de sol da manhã entrando pelas cortinas entreabertas na cozinha. Meu pai fazia panquecas no fogão, enquanto a cafeteira passava o café. Steve e eu estávamos sentados à bancada comendo cereais com leite quando nossa mãe apareceu. Tinha acabado de tomar banho. Estava enrolada num roupão colorido. Seus cabelos molhados grudados à testa. Ela não cumprimentou ninguém, apenas olhou para meu pai e disse, "Quero o divórcio." Ele ficou olhando para ela em silêncio. As panquecas queimando na panela.

Geralmente esse tipo de coisa é esperada. As pessoas se divorciam porque não se dão mais tão bem como antes, era o que eu acreditava. Mas meus pais nunca brigavam. Foi um choque para todos. Nossa mãe nunca explicou por que ela queria isso. Lembro-me apenas de meus pais irem conversar sozinhos e, no dia seguinte, o começo do fim se iniciar.

Com os relacionamentos seguintes de nossa mãe, talvez eu tenha entendido o que acontece. Ela sempre desiste deles sem qualquer antecipação. Um dia está tudo bem e, no outro, ela não quer mais. Minha suposição é que em algum momento ela sempre se cansa dos parceiros. Sei que ela é uma pessoa movida a novidades. Quem sabe só tenha se entediado com meu pai também.

Tudo desmoronou com o processo de separação. Sem nos consultar, meus pais decidiram que nossa mãe ficaria comigo e Steve. Meu pai queria voltar a sua cidade natal, e nós poderíamos visitá-lo lá. Chorei quando deixamos nossa casa no Huguenot para morarmos num apartamento apertado nesse outro bairro chamado Great Kills. Com a mudança de endereço, tivemos que ir para uma escola do novo distrito.

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