Sinto o olhar de alguém queimando sobre minha pele enquanto caminho rumo à sala do sr. Paterson. Olho para trás. Um grupo de atletas conversa em uma roda próxima aos armários. Suas risadas altas ecoando pelo corredor tumultuoso. Adolescentes e professores vêm e vão, preocupados em chegar a suas salas. Mas não há ninguém prestando atenção em mim. Todos parecem ocupados demais com seus próprios assuntos. Volto a caminhar, embora a sensação de estar sendo observada insista em me perseguir.
Desde aquela terça-feira depois da aula, tenho tido a constante impressão de estar sob a vigília de alguém. Parece sempre haver um olho em mim enquanto corro em volta da quadra na educação física. Ou durante as experiências no laboratório de química. Até nas tentativas de conversação com Sharon na aula de francês. Falei disso com outros. Eles não desacreditam de mim, mas também não sabem o que fazer. Anna, com quem eu sempre faço compras, diz não sentir nada diferente quando está comigo, e Abigail está convicta de que estou apenas traumatizada. Eu mesma penso estar ficando paranóica, até louca.
Mas Logan não duvida de mim. Ele me aconselhou que permanecesse perto deles por precaução. Parece uma boa ideia até a hora que chega o fim do dia. Ainda não me sinto segura à noite quando eles se vão. Já conheço cada tranca de casa de cor. E Luce está cada vez mais desconfiada do meu comportamento estranho. Meu pai perguntou várias vezes por que quando em Nova York eu não me sentia tão insegura apesar de todas as coisas que me aconteceram lá. Eu não soube responder. Talvez pensasse que era apenas azar, que não havia perigo real. Aqui, no entanto, tenho certeza de que há alguém atrás de mim e em algum momento eles vão vir. Só não sei quando.
Chego à porta aberta da sala do sr. Paterson e avisto Lisa sentada em seu lugar conversando com o garoto a sua frente. Seu cabelo castanho escuro, liso e curto cai por seus ombros enquanto ela ri. Olho uma última vez para o corredor e então caminho até o lugar vago atrás dela.
Enquanto espero pelo professor aparecer, o que vai demorar acontecer, toco no ombro de Lisa. Ela para de falar com o garoto e se vira para trás. Seus olhos castanhos se iluminam quando ela me vê. "Sophie!" diz, sorrindo.
"Tudo bem, Lisa?" Tento fazer conversa. Olho para ela em expectativa, com medo de que ela não queira falar comigo. Apesar de Lisa ter voltado às aulas há algum tempo, não tive a oportunidade de conversar com ela.
"Bem melhor agora. E você?"
"Bem, obrigada," respondo. Depois um silêncio se interpõe entre nós, como se nenhuma das duas soubesse como prosseguir. "Fiquei preocupada," digo.
"Ah, não foi nada."
"Você ficou desaparecida." Olho para ela, séria. "Como não foi nada?"
De repente o sorriso dela também some. Ela se inclina para frente e, baixando a voz, diz, "Estou tentando não pensar nisso." Desvia o olhar para trás de mim, examina a turma por um instante e então volta a me encarar. Como se estivesse contando um segredo, sussurra, "Tive um sonho muito estranho, e você estava nele."
Inclino-me para ficar mais próxima dela. "Um sonho. Que sonho?" Dou uma olhadela na porta, mas felizmente o sr. Paterson ainda não apareceu no corredor.
"Muito confuso. Não consigo mais saber o que foi real e o que foi sonho. Me lembro de estar na festa da Lindsay com o Henry. Sabe o Henry do último ano, né?" Seu sorriso fica maior quando ela menciona o garoto.
"Sim, você já falou dele."
"E no meu sonho eu era uma vampira." Ela sorri ao dizer isso.
"Você era uma vampira. Sua fantasia não era de Drácula?"
"Não," ela me repreende. "Eu quero dizer 'de verdade'. Que toma sangue e tudo. Mas eu já chego nessa parte. Espere... No meu sonho eu estava num lugar desconhecido. No meio de uma rua. Não me lembro mais se Henry estava lá, mas sei que de repente Carter apareceu na minha frente, e eu fiquei tão feliz em vê-lo. No meu sonho ele também estava desaparecido. O problema é que ele estava, não sei, meio estranho. Era ele e não era. Muito quieto, sabe? E era um vampiro, e queria que eu também fosse uma. Eu não sei como aconteceu, mas ele me transformou. Ou foi outro vampiro que o fez? Não sei. Só sei que depois éramos dois vampiros. E tínhamos dentes iguais."
"E em que parte eu apareço?"
"Espera, tem mais coisas," ela diz, franzindo o cenho, incomodada por ter sido interrompida. "No meu sonho também tinha a Carolin. Acho que sonhei com ela de tanto falarem do desaparecimento. Ela era, tipo, a fonte de sangue do Carter. Bizarro, né? E mais bizarro foi que eu provei do sangue dela. Só que eu não tinha controle do que fazia no sonho. Era como se houvesse alguém me guiando, e não era o Carter. Eu só me assistia fazendo as coisas. Sobre você era que eu tinha que chegar a você, mas não lembro por quê. E eu te achei, e só lembro isso. Acho que até conversamos, mas o assunto eu não lembro." Ela dá de ombros.
"Tem certeza de que tudo mesmo foi um sonho?"
"E como não seria?" ela ri. "Vampiros não existem, Sophie."
***
O fogo crepita e dança na lareira da sala de estar, banhando a área a sua volta de um tom laranja bruxuleante e emanando um calor agradável. Lá fora, o sol escondido por nuvens pesadas e cinzas desce para o horizonte rapidamente, deixando para a cidade apenas a escuridão. Aqui do lado de dentro, Logan se mexe de vez em quando no sofá atrás de uma postura mais confortável, enquanto Jesse apenas franze o cenho para ele, tentando se concentrar no que está fazendo. O cômodo está tão silencioso que é como se não houvesse ninguém. Todos nós estamos ocupados com nossos celulares atrás de respostas para nossas perguntas.
"Eu acho que não tem como ser outra coisa," diz Logan largando o celular no colo e olhando para nós. "As peças se encaixam! Por que perder tempo com bobagem?"
"E por que seria tão óbvio?" Jesse argumenta, desviando os olhos para Logan.
"Eles não estavam esperando que alguém descobrisse, por isso não se importaram de esconder melhor."
Lando guarda seu próprio celular no bolso e diz, "Acho que ele está certo, Jesse. Não consigo pensar em outra possibilidade, e as minhas pesquisas não mostram nada de diferente."
"As minhas também não," digo.
Logan olha para mim, mas não diz nada. "Sei que você é um estrategista, Jesse." Ele desvia o olhar para o amigo. "Mas talvez essas pessoas não sejam."
Jesse suspira, derrotado. "Certo. Então é isso, a Baffin que procuramos é uma ilha no Canadá, e essas pessoas podem estar fazendo alguma coisa lá. O que explica o tal 'Norte' que Bernard falou." Ele se cala por um instante, pensando. "Precisamos avisar Bram sobre isso." Logan e Lando apenas concordam com a cabeça.
"Vocês vão para lá?" pergunto. Os três olham para mim, como se tivessem se esquecido da minha presença e só agora se dessem conta dela.
"Provavelmente," Jesse responde. "Mas desta vez vamos deixar que Bram decida e tome a frente. Ele deve saber mais coisas que nós. Não consigo nem imaginar o que nos espera."
"E o que ele sabe que não sabemos?" Olho de Jesse para Logan.
Logan, olhando para os próprios pés, diz, "Ele descobriu que alguém está juntando vampiros. Eles sequestram pessoas de vários lugares diferentes e as transformam. Sempre indivíduos com menos de vinte anos. Talvez para fazer parte do exército, supomos. Bram está tentando descobrir qual é a finalidade desse exército."
"E qual é a novidade?" digo. Depois de falar, tenho a impressão de ter soado petulante e imediatamente me arrependo de ter aberto a boca. As coisas entre Logan e mim não estão indo bem. Ele esteve tentando conversar comigo, e em todas as vezes, eu dei algum jeito de fugir. Sempre com respostas evasivas ou sarcásticas a fim de me livrar de sua presença. Não queria criar um clima ruim entre nós apesar de tudo, mas ainda não me sinto pronta para falar com ele sobre o que aconteceu.
Ele tira os olhos do chão e me encara com a testa franzida. Antes que possa dizer qualquer coisa, Jesse se antecipa, "Bram estará aqui em breve. No próximo fim de semana ou depois disso. Ele pode ter mais o que contar."
"Não vou estar aqui no próximo fim de semana," falo "Por causa do Dia de Ações de Graça, estarei em Nova York na minha mãe."
"Ele não vai dissolver no ar depois disso," Logan resmunga. Ele parece estar sendo propositalmente grosseiro. Queria que ele soubesse que não estava provocando por querer. Acho que talvez ele já esteja cansado de nossa relação de gato e rato. "E ele quer conhecê-la de qualquer jeito."
"Por quê?" pergunto.
"Porque tudo tem a ver com você," ele responde mal-humorado.

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BLOOD LOVER
VampireSophie sempre se viu como vítima de estranhos incidentes. Perseguições; invasões em sua casa; pequenos acidentes que se transformam em cortes sangrentos. Nada disso seria um problema até ver sua vida em verdadeiro perigo numa estranha tentativa de a...