Capítulo 23

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"Rápido, Sophie!" diz Bern alguns metros a minha frente, impaciente.

"Calma," digo, ofegante. As mãos apoiadas nos joelhos, o peito subindo e descendo com pressa.

Depois do ataque no parque, Bern decidiu correr para casa avisar aos outros. Ele acredita que o ataque não tenha sido aleatório e nem que foi coincidência nós o termos presenciado. Também não tem nenhuma dúvida de que se trate de outro vampiro. Bern ainda não se decidiu se trata-se de uma ameaça ou um aviso, mas que deveríamos contar ao sr. Davies o mais logo possível e deixar os outros em alerta. Ele também não duvida que possa ser um perigo para mim e que devo me manter preparada.

Agora estamos a alguns metros da casa de tijolos à mostra no estilo de 1920, número 100. Bern na frente, e eu sofridamente tentando alcançá-lo logo atrás. Por mais que ele tente não acelerar tanto, ainda é difícil de acompanhar seu ritmo. Ele é muito rápido.

Quando finalmente o alcanço, ele já está parado à porta de entrada da casa, o pé batendo nervosamente no chão. Seu cabelo loiro escuro todo bagunçado caindo pela testa. Embora respire rápido, ele não parece nem um pouco cansado. Desconfio que isso tenha a ver com a falta de sangue em suas bochechas. "Espero que ele ainda esteja em casa," ele diz.

"Quem?" pergunto.

Mas Bern não responde. Ele se volta para a porta atrás de si e a abre, correndo para dentro. Eu sigo logo atrás, quase tropeçando.

Fecho a porta atrás de mim e olho em volta. O interior da casa está silencioso e as luzes todas apagadas. Poderia dizer que é como se não houvesse ninguém aqui, mas ouço vozes discutindo em algum lugar, seu volume baixo demais para se entender o que estão dizendo.

Enquanto eu ainda estou parada na frente da porta, Bern já segue em sentido à escadaria. Ele sobe dois degraus de cada vez, distanciando-se de mim cada vez mais rápido. Eu passo os olhos uma última vez pelas sombras escuras da sala de estar e então me apresso atrás dele. Alcanço o último degrau a tempo de vê-lo entrando num quarto, o único cômodo aberto no corredor.

Sigo pelo corredor até a porta aberta, parando atrás de Bern, mas sem entrar no quarto. Da soleira encontro no interior do cômodo Lindsay, Anna, Lando, Abigail, Emily e um homem que nunca vi antes. Nem um sinal de Logan ou Jesse. Todos estão olhando para Bern.

"Aconteceu um ataque!" Bern diz. "No parque. Sophie e eu acabamos de ver. Não consegui-"

"Uma humana?" o homem pergunta, ignorando Bern e indo até mim. Ele me olha de cima a baixo e então se vira para trás, "É ela?"

O homem é um pouco mais alto que Bern e tem traços que me lembram alguém, embora não consigo pensar no momento em quem seja. Eu não sei quanto anos tem, mas poderia ter a idade de meu pai. Seu cabelo loiro já embranquecido nas laterais. Ou talvez ele possa ser mais velho, a pele pálida lhe dá um aspecto adoecido, então é difícil estimar.

"Em carne e osso," Anna responde. Apesar de estar visivelmente incomodada com a presença de Bern, ela sorri para mim. Fico feliz em saber que ela goste de mim, mesmo que nossa primeira interação não tenha sido uma das melhores. Depois da história do vestido, pensei que ela pudesse me odiar por todo resto do ensino médio.

Os outros olham de mim para o homem, quietos e sem piscar. É como se nossa interação fosse a coisa mais estranha que pudesse acontecer, e nem um deles soubesse como reagir.

"Como você se chama?" o homem pergunta, virando-se para mim, uma tentativa de sorriso em seu rosto. Seus dentes pontiagudos ligeiramente à mostra inintencionalmente. Olho para ele de volta e então para os demais vampiros atrás dele. Eu me pergunto o que aconteceu a Logan e Jesse para não estarem aqui, a reunião parece importante.

Volto a encarar o homem a minha frente. "Sophie, sr.... Davies," digo quase num sussurro.

"Por favor, me chame de Neal!" Seus olhos azuis escuro olham para mim de maneira amigável, o sorriso em seu rosto ainda maior. "É um prazer finalmente conhecê-la, Sophie. Estivemos esperando por você."

"Esperando?"

"É claro. Você é muito importante!" Ele se vira para os demais. "Não é mesmo?"

"Foi o que disseram..." digo. Por alguma razão, tenho a impressão de que ele ainda não sabe que a cura não funcionou.

"Sim!" diz e então se volta para Bern. "O que você dizia sobre um ataque no parque?"

Bern está prestes a abrir a boca, mas um estrondo vindo do andar de baixo o interrompe. Nós nos entreolhamos. Uma voz furiosa fala com alguém. Todos vão para a porta do quarto espiar.

Subindo as escadas, surge Jesse. Ele está com a testa franzida, e, se não fosse por sua palidez anormal, suas maçãs do rosto estariam escarlates agora. É muito estranho ver o calmo Jesse nesse estado. E ele não está sozinho. Seus braços arrastam Logan degraus acima. Logan não está exatamente desacordado, mas por alguma razão, não consegue se manter em pé direito. Seu olhar perdido no vazio, como se não estivesse exatamente aqui. Mas apesar de mal conseguir sustentar o próprio corpo sozinho, ele luta contra o aperto de Jesse igualmente irritado.

Neal passa por mim e Bern na porta e para diante do último degrau das escadas, seu olhar amigável rapidamente se tornando severo. "Mas o que é isso?" Ele coloca as mãos na cintura.

"Nada. Nada mesmo!" Jesse diz, um pouco nervoso, tentando se equilibrar enquanto segura Logan. "Podem continuar o que faziam, não vamos mais atrapalhar."

"Espero que ele não esteja bêbado," Neal diz, agora olhando para Logan. "Temos que conversar, e eu preciso dele sóbrio."

"Com certeza," Jesse responde. "Logan e eu só temos que resolver uma coisa antes e logo falamos com você."

"Ótimo. Espero vocês." E então ele volta a para o interior do quarto. Os outros seguem atrás, desta vez a porta é fechada. Eu fico parada no corredor assistindo a Jesse puxar Logan pelo corredor.

"Não faça mais isso! No que você estava pensando?" Jesse diz enquanto segura o amigo, ou pelo menos tenta.

"Me deixe em paz por um minuto, Jesse. Eu não tenho por que te obedecer!" Logan retruca, puxando os braços dos de Jesse.

"Não me importa a quem você obedece, você não pode fazer isso de novo!"

"Blá-blá-blá! Ah, Jesse, cale a boca e saia daqui!" Ele puxa os braços mais forte, dessa vez se livrando do aperto de Jesse. Ele olha irritado para o amigo e então segue para o quarto, batendo a porta atrás de si. O estrondo ecoando por toda a casa.

Com os dentes trincados, Jesse vai atrás de Logan. Ele entra no quarto sem bater, e eu ouço suas vozes discutindo. Não consigo entender as palavras, mas consigo perceber que estão brigando.

Estou prestes a me juntar a Bern e aos outros no quarto atrás de mim quando a porta do quarto de Logan se abre. Logan surge sem camisa no corredor com Jesse atrás de si. Os dois em silêncio e cara feia. Logan entra no banheiro, deixando a porta aberta atrás de si, e eu escuto a torneira sendo ligada. Jesse fica parado no corredor de braços cruzados, apenas observando o amigo. A testa franzida.

"O que ele está fazendo?" pergunto para Jesse.

Ele olha para mim como se só agora se desse conta da minha presença e diz, "Lavando a boca, provavelmente." Ele olha uma última vez para o banheiro e então passa por mim, abrindo a porta para quarto onde está Neal e os outros.

Eu permaneço no corredor. Olho em direção a porta do banheiro, o som da água correndo, e então para o quarto de Logan, sua porta aberta me dando uma pequena amostra do cômodo escuro. Escuro e bagunçado. Não deixo de notar que a camiseta verde que Logan usava há pouco está jogada no chão. E não só isso, não havia visto antes, mas agora percebo: há algo vermelho espalhado pelo tecido.

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