Capítulo 40

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Quando saio pelas portas da escola, sinto o ar frio do final da tarde contra o rosto. Automaticamente coloco as mãos, mesmo com luvas, nos bolsos do casaco e caminho em direção à rodovia Winton no sentido sul. Depois de uma terça-feira exaustivo na escola, é hora de ir para casa. Normalmente eu faria a caminhada de cinco minutos até minha casa acompanhada de alguém, na maioria das vezes de Anna. Mas hoje, depois que saí, não encontrei nenhum dos vampiros no corredor. Por mais que eles não achassem uma boa ideia eu andar sozinha, não quis ficar esperando e decidi vir para casa. Não acho que vá acontecer alguma coisa nos poucos metros que tenho de percorrer.

Atravesso a rua junto com um grupo de estudantes que seguem para o ponto de ônibus ouvindo suas conversas animadas sobre os mais variados assuntos. Depois de passar o ponto de ônibus, afastando-me dos outros estudantes, continuo sozinha até a esquina, virando à direita na Newton. Na metade do caminho, percebo meu cadarço solto indo para um lado e para o outro a cada passo que dou. Paro no mesmo instante para amarrá-lo.

Enquanto abaixada no meio da calçada, noto que há alguém a alguns metros atrás de mim. Viro a cabeça em sua direção. A pessoa está parada e parece observar alguma coisa para o lado de cá, mas não tenho certeza. É um cara. À distância não consigo estimar sua idade nem seus traços. Mas ele continua lá, parado olhando em minha direção. Talvez só esteja perdido. Deixo de prestar atenção nele e volto minha atenção aos cadarços.

Depois de amarrados, levanto-me e volto a andar rumo a minha casa, agora um pouco mais rápido que antes. Olho mais uma vez para trás e vejo que a pessoa também começou a se mexer. Volto meu rosto para frente e acelero mais um pouco, concentrada na entrada para minha rua a alguns metros à frente. Talvez eu só esteja imaginando, mas tenho a impressão de estar sendo seguida.

A entrada para a avenida Buckland, onde moro, está próxima, e eu atravesso a rua. Pelo canto dos olhos percebo que a pessoa me imita, e eu começo a andar ainda mais rápido, agora quase correndo. O coração aumentando seu ritmo a cada passo dado.

Sem olhar para trás, viro à esquerda na esquina e, quando chego à minha rua, começo a correr. Consigo sentir meu sangue pulsando nos ouvidos, cada vez mais rápido. Agora já não sinto mais frio, meu corpo todo está fervendo.

Logo vejo minha casa no final da rua, e alívio começa a percorrer meu corpo. Olho para trás e percebo a figura também virando a esquina. Não perco tempo e acelero mais um pouco, chegando à porta de casa em alguns segundos.

Jogo-me contra porta, abrindo-a e entrando em casa o mais rápido possível, quase caindo para dentro. Depois de recuperar o equilíbrio, fecho a porta atrás de mim e me jogo no chão, respirando fundo e suando. Meu peito sobe e desce com pressa enquanto tento me acalmar. Sinto um tremor em minhas mãos no mesmo ritmo de meu coração. Respiro fundo na tentativa de me acalmar.

Luce aparece na porta da cozinha, uma sobrancelha erguida, "Tudo bem com você, Sophie?" ela pergunta, e eu me sobressalto com sua voz repentina.

"S-sim," digo entre um suspiro e outro.

"Aconteceu alguma coisa?" ela olha para mim em desconfiança. Por alguma razão nosso relacionamento tem andado estranho. Sei que parte disso é culpa minha por estar sempre fora de casa com meus amigos e dificilmente falar o que tenho feito, mas pelo menos ela não faz como minha mãe e exige respostas. Na verdade, ela apenas me assiste esgueirar pela porta para me juntar a Anna e voltar sempre tarde para casa. Como meu pai nunca se importou, inicialmente não achei que fosse um problema, mas a forma como Luce tem se comportado a minha volta tem me feito perguntar se devo agir diferente.

"Não," respondo. "Está tudo bem."

Ela olha com suspeita para mim, mas não diz nada, apenas concorda e volta para a cozinha. Eu me levanto e vou até a janela da frente. Espiando entre a fresta da cortina, vejo a rua vazia, a essa altura a pessoa que estava atrás de mim já deveria estar na frente de minha casa, mas não, é como se nunca tivesse havido alguém atrás de mim.

***

"Como foi a aula hoje?" meu pai pergunta. Tiro os olhos do pedaço de pizza pela metade em meu prato e olho para ele. Ele me encara enquanto mastiga lentamente. "Você passa tanto tempo com seus amigos ou no seu quarto que nós nunca falamos. Fico feliz que esteja aqui para nossa noite da pizza."

"Foi bem," é o que digo apesar de o episódio do estranho atrás de mim voltar instantaneamente a minha cabeça. Eu poderia falar sobre isso, mas não quero preocupá-lo. Não sei mesmo como ele reagiria se soubesse que pode haver seres assassinos à minha procura. Se minha mãe e ele concordaram em me fazer mudar de cidade por causa daquela maldita tentativa de assalto, não consigo imaginar o que fariam se soubessem de toda essa história de vampiros e perseguições. Eu provavelmente nunca mais poderia sair de casa, como se isso fosse impedir de alguém tentar me alcançar. Bernard não teve nenhum problema em invadir meu quarto naquela noite. Prefiro então apenas que pensem que passo tempo demais com meus amigos. Assim as coisas são mais fáceis.

"Sua mãe nos disse que gostaria de passar o feriado com você," Luce diz, o mesmo olhar desconfiado no rosto. "Ela disse que tinha te perguntado onde você pretende passar. Você já se decidiu?"

Olho de Luce para meu pai. Em seu pescoço vejo a corrente prateada que segura o crucifixo. "Você ainda o tem usado?" pergunto, ignorando Luce.

Meu pai larga seu pedaço de pizza no prato e olha para baixo, para o próprio peito, e então tira o crucifixo para fora da camisa. "Sim. Não tiro nunca. Você o quer de volta?" Ele olha para mim ainda com o pingente na mão.

"Não," digo mais rápido do que gostaria. "Quero dizer, gostaria que ficasse com você. Para dar sorte." Tento sorrir. Luce semicerra os olhos em suspeita para mim, mas não diz nada.

Ele dá de ombros e fala, "Como quiser." E volta a sua pizza.

***

Tranco a janela e chacoalho com força tentando forçar abri-la. Não tenho força suficiente para arrombar uma janela, mas pelo meu teste, ela parece firme em seu lugar. Olho pelo vidro, a rua escura e deserta lá fora, iluminada apenas pela luz dos postes. Parece tudo seguro.

Desde a visita de Bernard, todo dia eu faço o mesmo ritual: checo uma por uma todas as janelas e portas da casa antes de dormir. Não acho que trancas sejam o suficiente para manter vampiros do lado de fora, descobri que, diferentemente das lendas, eles não precisam de nenhum convite para entrar. Mas tento me prevenir. Logan disse que enquanto estivesse na presença do crucifixo, estaria tudo bem. No entanto, não consigo acreditar que um simples colar possa proteger a casa toda. Naquela noite, meu pai dormia no quarto ao lado com ele, e Bernard não teve nenhuma dificuldade em invadir a casa e levar meu sangue. Ele poderia fazer de novo.

Um arrepio me passa pelo corpo. A ideia de me deparar com ele aqui novamente me incomoda. Deitada na cama, não tiro os olhos da janela até o sono vir. Alguma coisa em mim acha que se ficar vigiando, as chances de invasão são menores. Grande ilusão. Mas não deixo de olhar.

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