Capítulo 10

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O som de notificação do meu celular soa e eu olho para a tela bloqueada. Bern acabou de acordar e finalmente respondeu a minha mensagem. Eu estou sentada à ilha da cozinha comendo cereal como café da manhã e vendo TV. Desde que eu decidi ir para Nova York, Bern e eu passamos quase metade da madrugada combinando o que faríamos quando estivéssemos juntos, e agora ainda estamos falando sobre isso. Ele é o único (além de Luce e meu pai) que sabe da minha viagem, já que pretendo fazer uma surpresa à minha mãe.

Enquanto digito minha resposta, a campainha toca. Olho para as horas no meu celular. Sete e vinte dois. Será que alguma amiga chata da igreja de Luce se esqueceu de que ela sempre viaja quando pode e veio visitá-la? Não consigo pensar em quem mais poderia vir aqui tão cedo.

Largo meu café da manhã na bancada e sigo em direção à porta. Eu estou pronta para dar desculpas a seja lá quem for até ver quem de fato está do outro lado. "Logan. Então você aprendeu caminho para a porta da frente." Olho para ele de cima a baixo com os olhos semicerrados em desconfiança.

"Bom dia para você também, Sophie." Os cantos de seus lábios sobem em um sorriso traiçoeiro. Ele está com as mãos nos bolsos da calça jeans, tentando olhar para trás de mim, para dentro da casa.

"O que está fazendo aqui?" pergunto, séria, e diminuo a abertura da porta. Se ele acha que eu vou simplesmente deixá-lo entrar sabendo que ele pode me matar a qualquer momento, ele está mais do que enganado.

"Você não queria que eu te explicasse tudo? Então, eu estou aqui agora. Além do mais, ainda preciso da sua ajuda." Ele dá de ombros.

"Não lembro de ter dito que vou te ajudar." Franzo o cenho.

"Vai pelo menos me ouvir?" Ele tenta se aproximar, mas eu fecho um pouco mais a abertura, deixando só minha cabeça para fora.

Vejo uma pessoa passeando com seu cachorro na calçada na frente de casa. É a sra. Feldman, a vizinha fofoqueira do meu pai. Ela mora a duas casas de distância e está sempre cuidando da vida alheia. É claro que se ela me vir recebendo Logan hoje, vai fazer questão de contar para meu pai na segunda-feira assim que vê-lo. Abaixo a voz, "Isso ou você quer entrar e me matar?"

Ele chega mais perto, com o rosto próximo ao meu. "Sophie, pode confiar em mim. Eu não vou te matar. Eu lhe garanto que se realmente tivesse outra opção, nem te envolveria isso. Por que eu contaria meu segredo se não fosse importante?"

"Como posso ter certeza de que posso confiar em você?" Olho diretamente seus olhos. A lembrança de suas íris vermelhas me passam pela cabeça, e eu estremeço, mas ele não parece perceber.

"Seu pai foi atacado esta semana, certo?" Ele tira as mãos do bolso, dando um passo para trás e olhando para vizinhança em volta. Sra. Feldman finge estar ocupada demais recolhendo a sujeira de seu cachorro mesmo que na verdade esteja tentando ouvir alguma coisa.

Abro a boca, sem palavras. "Como você sabe disso?"

"E se eu dissesse que talvez saiba quem foi. E por que aconteceu." Seus olhos olham para mim esperançosos.

Olho para ele por um instante, pensando, e então para a sra. Feldman atrás dele, que está seguindo pela calçada em direção à esquina, já longe o suficiente. Logan me encara de volta, em expectativa. Apesar de um morto-vivo que pode ter eras de existência, ele parece mais vivo que morto. E jovem. Muito jovem. Eu não sei quais são suas intenções, mas decido dar uma chance. "Tudo bem." Abro passagem para ele entrar. Enquanto ele atravessa a porta, fico parada, ainda não totalmente segura da minha escolha.

Eu o levo até a sala de estar e indico um sofá para se sentar. Eu me sento no outro, de frente para ele e o mais longe possível de seus dentes. Por um momento, ficamos em um silêncio constrangedor nos encarando, como se nenhum dos dois soubesse por onde começar.

"Certo. Diga tudo o que você sabe. Agora," finalmente digo. Meu celular começa a vibrar no meu bolso, mas não o pego. Não quero tirar os olhos de Logan nem por um segundo.

"Então." Ele se mexe desconfortável no sofá. "Espero que tenha paciência. É uma longa história. Nós-"

"Nós? A sua irmã também é, não é? Como isso é possível? Vocês nascem assim, ou-"

"Sim, ela também. Mas não se nasce vampiro. Eu nem sei se isso seria possível. Nossa família foi atacada quando morávamos na Califórnia. Minha mãe morreu, mas meu pai, minha irmã e eu acabamos transformados." Ele desvia o olhar para o tapete, possivelmente distraído com as memórias.

"Faz muito tempo?"

"Foi ano passado. No verão." Ele dá de ombros.

"Sinto muito." É tudo que penso em dizer.

"Tudo bem." Ele olha para mim, dando uma tentativa de sorriso.

"Mas e os seus outros amigos. Eles também...?"

"Sim, todos eles."

Logan diz que pouco depois do ataque à sua família eles conheceram Lando, que rondavam pelo mundo sozinho e eternamente se lamentando por sua vida perdida. Os quatro se juntaram em uma espécie de "clã" e mais tarde conheceram um outro vampiro, mais velho, que os auxiliou. Um verdadeiro salvador. Ele os convenceu de que deveriam se mudar para Rochester, onde finalmente encontrariam o fim para sua agonia eterna — nas palavras exatas de Logan — desde que seguissem suas instruções. Eles acreditaram prontamente. Então, Lindsay e seu pai vieram para cá, enquanto Lando e Logan foram para New Jersey. Seu vampiro guia disse que soubera que alguém estava causando problemas na região e gostaria de que os dois cuidassem do caso. Descobriu-se que a tarefa de Logan e Logan era resgatar Abigail, Emily e Anna das ruas. As três tinham sido transformadas e então simplesmente largadas ao mundo. Sem ajuda ou orientação, elas estavam matando pessoas pelas ruas escuras de Newark e colocando toda a espécie em risco. A polícia local já estava há semanas investigando o caso, e o vampiro guia temia que alguma coisa acontecesse a elas. Logan e Lando foram até lá e acolheram as três garotas, ajudaram-nas a entender sua nova condição e lhe fizeram a oferta de se juntar a eles. As garotas aceitaram, e eles as levaram para Rochester, tentando-lhes dar uma nova vida. Depois disso, os dois garotos receberam uma nova missão: encontrar duas pessoas em Nova York. Uma dessas pessoas era Jesse. Um vampiro canadense que de repente acordou em outro país e não se lembrava mais de quem era quando humano. A outra pessoa que eles deveriam encontrar era eu.

"Então você já sabia da minha existência?" Franzo a testa.

"Sim. Mas quando estávamos quase te localizando, você se mudou de cidade. Felizmente nosso guia arquitetou as coisas de uma forma que a encontraríamos de qualquer jeito. Então a tarefa passou para a Lindsay, que estava em Rochester. Ela só precisava descobrir qual das alunas novas era você. Espero que seu nariz esteja melhor."

"O quê?"

"Precisamos de você por causa do seu sangue. E só te descobriríamos através dele. Por isso a Lindsay fez seu nariz sangrar de propósito." Apenas olho feio em resposta. "Eu disse que não era uma boa ideia. Mas ninguém pensou numa forma melhor de poder examinar seu sangue sem parecer estranho." Ele sorri. "Se estivéssemos errados, teríamos que partir para a próxima pessoa e fazer mais gente sangrar."

"Por quê? Eu pensei que fosse mais útil viva."

"Digamos que é o sangue em suas veias que permite que você nos ajude." Ele olha em volta, como se fosse encontrar as palavras certas pelo cômodo. "Ele é... encantado." Encolhe-se no sofá, como se com medo da minha reação. Ele olha para baixo, evitando meus olhos.

"Encantado?" Se ele tivesse me dito isso algum tempo atrás sem mencionar a parte de vampiros, eu provavelmente riria da cara dele. Mas agora, por alguma razão, é difícil de não acreditar.

"Digamos que um antepassado seu... Anthony Harrison passou isso pelas suas veias por gerações. Ele fez coisas importantes para nós... Sabe aquele crucifixo que você usava? É impossível que alguém te mate usando-o. Ele te protege de qualquer vampiro."

Levo a mão diretamente ao pescoço, mas tudo que encontro é a pele nua. "Então os vampiros têm algo contra o sagrado?"

"Não. É só aquele pingente em específico que pelo acaso é um crucifixo." Ele arruma a postura. "Por isso seu pai foi ferido. Quem fez isso sabe que tipo de sangue ele carrega nas veias e precisava dele para alguma coisa."

Encaro as mãos no meu colo por instante em silêncio e então digo, "Mas e eu, qual seria o meu papel no meio disso tudo?"

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