Capítulo 19

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"Não acha perigoso tirar esse tanto sangue de uma pessoa num dia só?" pergunto olhando para a seringa sobre a bancada.

"Tecnicamente já é domingo, outro dia. Mas não, não é. Tive o cuidado de só pegar o essencial. Vai sobreviver," Jesse responde.

Depois de nos darmos conta dos vampiros faltando, Lando e Anna tentaram ir atrás deles. Por um momento eles seguiram os fugitivos pela orla do rio Genesee, mas logo perderam seu rastro na mata. Foi como se tivessem simplesmente desaparecido no ar, como Anna disse. Após isso, procuramos um lugar seguro para deixar a garota recém destransformada para dormir. Como não tínhamos qualquer pista de sua identidade, não havia muito o que fazer. Jesse disse que gostaria de observá-la por uns dias para ver como a cura funciona no corpo, então Abigail se comprometeu a vigiá-la. Lindsay nesse meio tempo não deu qualquer sinal de acordar, por isso depois seguimos para a casa de Logan e dos outros para resolver esse problema. Jesse decidiu fazer o que os cadernos de seu guia, Bram, diziam. E é claro, eles mencionam a necessidade do meu sangue. Então agora estamos aqui no quarto dele prestes a fazer mais uma coleta.

"Você sabe por que tudo depende do meu sangue?" Levanto a manga de meu moletom, expondo a pele nua para ele. "Eu sei que tem a ver com Anthony, mas ainda não entendi como tudo se relaciona."

Ele pega a seringa da bancada e a desembala do plástico que a envolve. Enquanto ajusta a agulha, diz, "Tem a ver com os Cristais. Bram saberia explicar melhor. Mas digamos que Anthony Harrison os descobriu e foi o primeiro a dominar sua magia. Ouso dizer que o único a dominá-la inteiramente. Não sabemos como ele fez, só sabemos que ele encontrou uma forma de ser o único a ter total controle sobre eles através de seu sangue. Dizem que ele conseguiu se tornar humano novamente e passar essa 'magia' para seus descendentes diretos. Embora tenha ensinado coisas a outros vampiros sobre os Cristais. Boatos que quem ensinou Bram era um dos aprendizes de Anthony."

"Espera. Anthony foi um vampiro?" Observo-o tocar meu braço com seus dedos frios atrás da região perfeita para a agulha.

"Ninguém tem certeza," ele diz, inserindo a agulha no meu braço. "Alguns dizem que ele apenas foi um humano que sabia da existência de vampiros e que os estudou para chegar à cura."

"A cura que eu ajudei a encontrar," digo sem tirar os olhos da seringa, seu cilindro sendo preenchido com sangue.

"Isso." Ele para de puxar o êmbolo.

"E o exército, o que vamos fazer com ele? Você sabe por que está aqui?"

"Em breve saberemos disso." Ele responde, removendo a agulha de minha pele. Pega um pedaço de algodão e entrega para mim. Enquanto o pressiono contra o furo da agulha, Jesse se vira observando o sangue dentro da seringa. "Então é isso. Agora tenho trabalho a fazer."

Como não tenho mais nenhuma utilidade para ele, deixo o quarto para me juntar aos outros. Logan, Emily, Lando e Anna estão no quarto de Lindsay, em volta da cama dela, esperando ansiosamente que ela acorde. Logan está sentado na cama no lado esquerdo de Lindsay segurando a mão dela. Ele disse que o relacionamento deles é complicado e que estão sempre discutindo e brigando. Mas vê-lo tão preocupado com a irmã só mostra que todos os "eu te odeio" entre eles não é nem um pouco verdadeiro.

Lindsay está deitada no centro da cama, seus olhos fechados e o corpo imóvel. A pele pálida fazendo-a parecer morta. O pensamento me faz arrepiar, e eu me concentro em seu peito que discretamente (e felizmente) sobe e desce. Mas o movimento é tão tênue que a chance de ela sobreviver parece cada vez mais distante.

"Está pronto!" Jesse anuncia, depois de passar umas duas horas em seu quarto/laboratório ocupado na preparação de seja lá o que vá acordar Lindsay. Todos nós olhamos para ele em pé na soleira da porta segurando um pequeno copo preenchido com um líquido azul.

Ele entra no quarto e segue na direção de Lindsay. Emily se levanta, abrindo espaço para ele chegar até a amiga. Jesse para diante dela e a observa por um instante. Depois, aproxima-se e leva o copo até seus lábios, virando lentamente seu conteúdo.

Após fazê-la beber dois ou três goles do líquido, Jesse se afasta e todos nós aguardamos ansiosamente por algum sinal.

Inicialmente, não há qualquer mudança no estado de Lindsay. Ela continua deitada impassível na cama. O peito subindo e descendo lenta e tenuamente. Uma gota azul deslizando pelo canto da boca. Mas então, em um momento, seus cílios compridos começam a se mexer e logo seus olhos azuis estão abertos. Ela pisca algumas vezes, como se acordando de um longo sonho, e então tenta se sentar na cama. Algo a impede na metade da ação, e ela desiste e se deita novamente. Apenas olha em volta, analisando tudo.

"Você se sente bem?" Jesse pergunta, e os olhos dela rapidamente se voltam para ele. "Sente alguma dor? A visão e os outros sentidos estão normais?"

"Me sinto um pouco tonta... Que horas são?" Ela pronuncia cada sílaba com dificuldade, como se lhe faltasse ar.

"Creio que isso seja normal. Mas vai passar!" ele responde, um fraco sorriso nos lábios.

"Eu tive um sonho... tão estranho." As palavras intercaladas por suspiros. Ela passa os olhos pelos amigos a sua volta. "Estavam todos vocês lá... e eu batia no Lando e na Emily."

Logan ri. "Talvez não tenha sido um sonho." Ele aperta a mão dela, e ela aperta a dele de volta. Eles trocam um olhar.

"Você é bem forte, sabia?" Lando esfrega atrás da cabeça.

Ela sorri. "Desculpa."

***

São quase quatro horas da manhã, como indica o relógio em cima da lareira, e nenhum de nós ainda foi dormir. Quero dizer, quase nenhum de nós. Lando foi, e Anna está com Lindsay, cuidando da amiga. Mas nós — Logan, Emily, Jesse e eu — estamos bem acordados na sala de estar. A cura repousa entre nós, apenas esperando para ser bebida.

"Como não sabemos como isso funciona, eu sugeriria que observemos primeiro como aquela garota reage," Jesse opina. Um cigarro entre os dedos e a mesma calma de sempre.

"Não," diz Logan, sentando ao lado, tamborilando os dedos nervosamente sobre o tampo da mesa de centro. Ele quer parecer calmo, mas mal consegue se manter no lugar. Excitação percorrendo por todo o corpo. "Se quiserem esperar, por mim tudo bem, mas eu quero tomá-la ainda hoje. Eu preciso." É óbvio que ele quer tomar essa cura mais do que qualquer coisa agora. Passou mais da metade de sua existência de vampiro só esperando por isso.

Jesse leva o cigarro aos lábios e olha para a cura na sua frente, depois para o amigo. "Tudo bem." Suspira, derrotado. "Torça que dê tudo certo. Eu não quero ter de salvar a pele de mais um de vocês hoje." E volta a tragar seu cigarro, tranquilamente.

Logan sorri para Jesse, um sorriso largo suficiente para deixar seus dentes de vampiro à mostra. Ele pega o frasco transparente da mesa e olha para seu conteúdo por instante, estudando-o como se o visse pela primeira vez. É tão pequeno que nem parece que, como nos foi mostrado, apenas algumas de suas gotas são capazes de tornar um vampiro em humano de novo. Ele olha em volta uma última vez e então fecha os olhos, levando o líquido aos lábios. Nós observamos em silêncio, esperando.

Eu não sei o que está acontecendo, mas ele se mantém no mesmo lugar, os olhos ainda fechados. Ouço Emily suspirar preocupada no sofá a minha esquerda, e eu percebo que os punhos de Logan estão cerrados, as unhas enterradas na carne. No rosto, uma expressão de dor.

"Isso é normal?" Emily pergunta para Jesse. Ele apenas dá ombros em resposta.

Ela está prestes a se levantar quando Logan finalmente abre os olhos. Nenhuma mudança visível em sua aparência.

"E então?" pergunto.

Ele não responde de imediato. Fica em silêncio, olhando para o chão. Sem tirar os olhos do carpete, diz, "Rasgou minha garganta como fogo até o estômago, mas não vejo diferença." Uma nota de desapontamento na voz. "Eu não fui aceito. Talvez em outro momento." Ele levanta o olhar, e vejo um brilho em seus olhos. Ele esfrega o rosto, antes que as lágrimas terminem de se formar.

Jesse pega o frasco das mãos de Logan e olha demoradamente para o pouco que restou do líquido. "É. Talvez em outro momento... Mas, Logan, acho que simplesmente não vai funcionar."

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