Educação física é a última aula do dia. Eu odeio esportes do fundo do meu coração, mas não tenho muita escolha. O estado de Nova York obriga seus alunos a fazer exercícios durante todos os seus quatro anos de ensino médio. Então, se eu quiser ter créditos suficientes para me formar (mísero um quarto de crédito por semestre), tenho de frequentar as aulas mesmo detestando a ideia.
A educação física nunca foi uma aula gentil comigo. Desde criança sempre acontece alguma coisa que me faça sangrar. No quinto ano, por exemplo, enquanto corria em volta da quadra, alguém pisou no meu cadarço desamarrado e eu caí no chão. Meu rosto se salvou, mas meus joelhos não foram muito mais felizes. Ambos acabaram esfolados e sangrando. Ou no sétimo ano, durante um jogo de basquete, eu estava prestes a receber a bola quando uma garota se jogou na minha frente. Nós duas acabamos estateladas no meio da quadra. Um pequeno corte escorrendo na minha têmpora. Ou ano passado, ainda no começo de um jogo de softbol, em que arremessadora conseguiu mirar a bola exatamente contra minha boca, e eu acabei quase perdendo alguns dentes. Então, se eu não precisasse fazer as aulas para passar, já teria fugido delas há muito tempo.
Nesta semana em particular estamos jogando voleibol e eu já perdi a conta de quantos pontos estamos perdendo. O treinador Acker mais uma vez deixou Lindsay como uma das líderes de time, e ela obviamente escolheu todas as suas amigas para o seu, as melhores jogadoras da turma. É incrível como elas parecem nunca se cansar. Na metade do jogo, todas estamos ofegantes e suando, mas as quatro garotas continuam tão impecáveis quanto antes. O que é um infortúnio. Enquanto Lindsay está no time imbatível, eu, por outro lado, fiquei no time mais fraco liderado, desta vez, por Lisa. Aposto que se ela pudesse, não teria me escolhido. Eu sou terrível em esportes, e não seria a primeira que eu ajudaria o time a perder.
A bola está nas mãos de Anna. Seu longo cabelo loiro está amarrado em um coque firme e, apesar de toda a correria do jogo, ela ainda não começou a suar. Suas bochechas continuam brancas. Ela está prestes a fazer o saque depois que Madison, que está no meu time, derrubou a bola fora do campo.
A mão de Anna atinge a bola com violência, e ela sai voando em direção ao nosso lado da quadra. Quando está prestes a cair no chão, Eleanor consegue pegá-la, passando para Lisa. Lisa toca na bola, que passa para o outro lado da rede. Lisa está quase comemorando nosso primeiro ponto até Lindsay bloquear a bola, que volta para nós. Ela vem bem em minha direção, e me assusto. Sem pensar, bato na bola como reflexo, que quica no chão e voa para fora do campo.
"Quase!" Carolin sorri, tentando me animar. Seu cabelo escapando do seu rabo-de-cavalo.
Lisa corre atrás da bola olhando feio para mim, incomodada com a minha falta de habilidade em esportes. Ela pega a bola do chão e joga para Emily no time oposto, que já está posicionada para fazer o saque. Ela se posiciona e arremessa a bola, que voa pela quadra. Quando ela está prestes a atingir nosso campo, Lisa a levanta. Infelizmente o toque não é forte o suficiente e a bola se bate contra a rede e cai de volta. Carolin mergulha no chão na tentativa de alcançá-la, mas não consegue e apenas cai de cotovelos no chão. A bola rola pela quadra.
"Está tudo bem, Carolin?" Madison pergunta.
"Acho que sim," ela responde, ainda no chão, esfregando o cotovelo.
Lisa bufa e a pega do chão, arremessando para o time adversário (mais uma vez).
A próxima a sacar é Lindsay. Ela se posiciona em seu lugar e espera a bola chegar até ela. Preparada para o saque, ela olha para nós, como se calculando nossos próximos movimentos. Por um instante, tenho a impressão de que um sorrisinho maldoso aparece em seus lábios. Mas não tenho tempo para a avaliar. Ela arremessar a bola com toda a sua força, e a bola dispara pela quadra. Ela passa por cima da rede, girando com toda a velocidade no ar. Todas acompanhamos o trajeto dela pelo céu. Logo atinge seu ponto máximo no alto e então, a gravidade faz seu trabalho, e ela começa a cair. A bola vai ficando mais perto, mas me dou conta tarde mais. Quando estou prestes a tentar proteger meu rosto com as mãos, a bola me atinge. Caio para trás, levando imediatamente as mãos ao rosto. Meu nariz começa a sangrar. Faz-se um silêncio absurdo na quadra, todas boquiabertas.
"Ai, meu Deus," diz Lindsay, levando a mão à boca. "Me desculpa!" Ela corre em minha direção. Passa por baixo da rede e se joga de joelhos no chão ao meu lado. "Está tudo bem?"
Do outro lado, Emily vem correndo com seu moletom na mão. Ela se senta de joelhos na minha frente, oferecendo a peça de roupa. "Pressione isso contra o nariz. Vai ajudar." Eu tento recusar, mas ela mesma coloca a blusa contra meu rosto, e eu simplesmente aceito.
"Vamos à enfermaria," Lindsay diz, passando os braços em volta de mim e me ajudando a levantar. Apesar de toda a adrenalina do jogo, suas mãos estão frias.
"Acho que não é necessário," digo. Observo que enquanto todas as garotas estão em volta de mim, Anna fica assistindo à distância, sem fazer menção de sair de lá. Ela olha para o moletom ensanguentado contra meu rosto e faz uma expressão de repulsa, ou alguma outra coisa que não consigo adivinhar.
"Eu vou falar com o Acker," Abigail anuncia. Ela corre em direção ao campo de beisebol ao lado das quadras de vôlei, onde os garotos estão jogando, chamando pelo treinador. Em pouco tempo ela chega lá, o treinador levantando-se de seu banco. Os dois conversam e ele olha para mim. Alguns garotos curiosos, sentados no banco, também me encaram. Um deles, olhando para Lindsay, sussurra alguma coisa para o outro ao seu lado.
O treinador Acker diz uma última coisa para Abigail e sinaliza para Lindsay. Ela assente em resposta e se vira para mim. "Não, eu insisto." Ela passa o braço dela pelo meu, Emily agarra o outro, como se estivessem me escoltando, e começamos a andar juntas em direção ao prédio da escola. "Você é de Nova York, não é?" Lindsay pergunta.
Franzo o cenho, não esperando pela pergunta. "Ah, sim."
Ela mantém o olhar para frente. "Você é nova? Não me lembro de você ano passado."
Fico ainda mais intrigada com a pergunta. Nesta cidade minúscula é difícil que não saibam que eu não sou daqui. Basicamente todo mundo na escola se conhece e, apesar de não ser a única aluna nova no ano, todos sabiam que eu tinha me mudado este ano para cá, metade dos meus colegas até sabem meu endereço sem eu nunca ter dito uma palavra. "Eu entrei esse ano," digo.
"Eu também não sou daqui," comenta Emily. "Entrei ano passado. Sou de Nova Jersey."
Viro-me para ela. "Sério? Meu amigo também veio de lá. Ele nasceu em Holgate, mas morava em Newark."
"Holgate? Tem certeza?"
"É. Foi o que ele sempre me disse."
"Interessante. Eu também sou de Newark."
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Quando eu escrevi este capítulo, ele fazia todo o sentido, mas agora relendo, sem saber o que vem a seguir, me faz pensar que talvez ele pareça meio sem objetivo. Se for essa a impressão que você teve, já adianto que num futuro não muito distante ele se encaixa em algum lugar :)
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BLOOD LOVER
VampireSophie sempre se viu como vítima de estranhos incidentes. Perseguições; invasões em sua casa; pequenos acidentes que se transformam em cortes sangrentos. Nada disso seria um problema até ver sua vida em verdadeiro perigo numa estranha tentativa de a...