Capítulo 49

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"E ela começou a rir, e de repente o suco saiu pelo nariz dela," Madison ri. Ela pega de dentro do armário um tubo de gloss e, olhando para o espelho afixado na porta de metal dele, passa nos lábios.

Enquanto estou amarrando meus cadarços, escuto Madison contar sua longíssima história sobre como foi seu feriado de Ação de Graças. Estamos no vestiário depois de mais uma aula cansativa de educação física. Embora os dias estejam ficando cada vez mais frios, o treinador Acker não facilita nada para nós. Ele nos fez correr em volta do campo de futebol americano da escola a aula toda. Madison e eu fomos as últimas a alcançar a "linha de chegada", e ele nos obrigou a dar mais duas voltas como punição. Eu não aguentava mais minhas pernas. Todas as garotas já tinham ido embora, e nós ainda estamos aqui.

"Haha, que engraçado," digo, mesmo não tendo prestado atenção em metade do que ela disse. Estava com a mente longe em outras preocupações. Não consigo deixar de pensar por um minuto sequer no que Bram me contou, e me preocupar com o que Bernard pode fazer a seguir. Também me sinto bastante nervosa em pensar que Jason ainda não acordou, apesar de Bram assegurar que a demora é normal, que o feitiço em que ele estava era forte. Jason foi dado mais uma vez como desaparecido, seria perigoso se alguém desconfiasse que ele está ainda na casa dos vampiros.

Ela guarda o gloss de volta ao armário. "Vai fazer alguma coisa agora?" pergunta, vestindo seu casaco pesado.

Normalmente eu me encontro com Anna depois das aulas, e nós vamos para casa juntas (geralmente a dela), já que tornou-se cada vez menos seguro para eu andar sozinha. Mas com a presença de Bram, não me sinto à vontade de estar lá. As coisas que ele me disse na segunda lá no quarto de hotel ainda rondam minha mente.

"Tenho um trabalho de química para fazer com a Eleanor." A mentira vem facilmente. Eu não costumava ser uma mentirosa. Quero dizer, contava apenas pequenas inverdades que não fariam mal a ninguém para minha mãe quando queria fazer alguma coisa depois da escola com Bern que certamente ela não permitiria. Mas agora, depois de tanto tempo andando em disfarces, ocultar a verdade não tem sido difícil. Não hesito em contar uma história completamente inventada para me esquivar. São apenas as consequências de passar tanto tempo com pessoas cheias de segredos.

"Ah, tudo bem." Ela termina de enrolar o cachecol em volta de seu pescoço. "Até mais, então." Seus passos ecoando pelo vestiário até a saída. Ouço a porta bater e finalmente me vejo sozinha por completo.

Enquanto amarro o cadarço de meu outro tênis, ouço a porta abrir mais uma vez. Sequer levanto a cabeça. "Esqueceu alguma coisa, Madison?" pergunto, terminando o laço. Ela não responde. Dou de ombros e tiro meu pé de cima do banco entre as filas de armários, arrumando a postura. Não vejo ninguém. Olho para meu armário aberto atrás de mim e pego meu casaco de cima do banco. Enquanto me visto, ouço passos pesados. "Madison?" Meus olhos correm pelo vestiário atrás do som. As sombras que dançam por entre as fileiras de armários metálicos começam a parecer assustadoras. Viro-me de volta para meu armário e fecho a porta. Fico parada, ouvindo. Os passos se aproximam, e eu espio por cima de meu ombro.

No corredor entre os armários, alguns metros à frente, vem alguém vestido inteiramente de preto, o rosto encoberto por um capuz, as mãos escondidas nos bolsos do casaco. Tenho a impressão de que a pessoa é bem maior do que eu. Ela caminha lentamente.

"Ei, aqui é o vestiário feminino," digo, virando-me. A pessoa não responde, apenas continua a se aproximar silenciosamente. Dou-me conta de que ela está vindo para cá. Cada passo dado por ela é uma batida do meu coração no peito. Começo a me afastar, andando de costas. E a pessoa continua seguindo em minha direção. Bato minhas costas contra os armários atrás de mim, encurralada.

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