Capítulo 31

366 69 141
                                        

Olho para os dois lados antes de deixar a sala do sr. Paterson e colocar os pés no corredor. Provavelmente tenho uns dois minutos até o sinal do próximo período soar, mas não me importo. Até o momento consegui não me esbarrar em Logan pela escola e gostaria de manter assim pelo resto do dia, mesmo que significasse chegar atrasada nas aulas. Não sou má aluna, então não vou receber nada além de um aviso verbal dos professores.

Sigo pelo corredor olhando para todos os rostos que aparecem em meu caminho, com medo de ser surpreendida. A maioria dos alunos já estão em seus devidos lugares nas salas, então minha trajetória até meu armário é mais rápida do que eu calculava. Percebo que há alguém esperando por mim ao lado dele, mas felizmente não é Logan.

"E aí?" digo para Jesse, abrindo a porta do armário e me deparando com sua bagunça usual.

"Dê uma olhada nisso," ele diz sem mais delongas, estendendo um jornal para mim.

"O que é?" pergunto, largando meus materiais no armário e então pegando a publicação das mãos dele. É um exemplar do Daily Messenger, um jornal de Canandaigua, mais uma das bilhões de cidadezinhas que circundam Rochester.

"Apenas leia," ele responde e então aponta para o título em letras maiúsculas da matéria em destaque. Meus olhos baixam para o conjunto de papéis a minha mão, inicialmente, desinteressados.

A data do jornal diz ser de hoje, o que me faz pensar em como Jesse o conseguiu tão rápido. Abaixo das palavras de título, ATAQUES A SANGUE FRIO, está uma fotografia de várias pessoas observando algo distante, corpos deitados no chão em roupas ensanguentadas parcialmente cobertos. Da foto, só é possível ter visão das pernas das pessoas, já que os policiais estão na frente, mas é óbvio o que aconteceu ali.

O texto do jornal diz que doze pessoas foram atacadas na noite anterior por algum maníaco, que testemunhas dizem ter visto em algum lugar perto do lago de Canandaigua. Em todos os casos, as vítimas foram exsanguinadas, tiveram todo o seu sangue drenado e a garganta cortada de forma agressiva. Não foram encontradas quaisquer pistas ou ligação entre as vítimas, a maioria já identificada pelos moradores da vizinhança.

Meus olhos desviam assustados do jornal para encarar Jesse. "Por que está me mostrando isso?"

"Não é um pouco suspeito? Drenagem de sangue e gargantas cortadas?"

"Se você também acha que se trata de vampiros, pode me responder por que motivo cortar gargantas?" pergunto, devolvendo o jornal e voltando-me para meus livros no armário. Começo a vasculhar atrás dos materiais para o próximo período.

"Talvez o vampiro tenha desfigurado a pele de todo o pescoço para apagar suas marcas." Eu acho que vejo seus olhos se direcionarem para meu pescoço, mas é muito breve para eu ter qualquer certeza.

"É uma boa suposição, mas não entendo por que eu preciso saber disso." Tiro meu livro do meio da pilha de papéis e fecho a porta com mais força do que deveria. O estrondo ecoa por todo o corredor.

"Carolin sumiu, mesmo que isso não prove nada, Bernard disse que você e ele souberam de um ataque no mesmo dia." Ele está prestes a continuar falando, mas o sinal indicando o início do período o interrompe. Depois que o barulho cessa, ele continua, "Lisa desapareceu no sábado, e agora doze pessoas tiveram seu sangue drenado numa cidade que fica a meia hora de carro daqui. Coincidências demais."

Fico em silêncio por alguns segundos, raciocinando a ligação dos fatos. Aperto o livro contra o peito e digo, "Está pensando que Logan pode ter feito isso?" A porta de uma sala próxima a nós se fecha sinalizando o início da aula, e eu começo a ficar ansiosa. Já deveria estar em aula também.

Jesse olha para os lados, alguns alunos atrasados correndo para suas salas, e diz, "Ouça, Logan pode ser suspeito por todos os fatos anteriores, mesmo que eu duvide um pouco. Mas ele não saiu de casa ontem à noite."

"Tem certeza?" Eu não estava querendo acusar Logan de nada só por causa do que ele me fizera no sábado. Na verdade, eu gostaria de uma prova que contrariasse todas as acusações. Uma coisa é ele só estar agindo estranho, outra é ter cometido assassinato. Mas depois do que ele fez no sábado, é difícil de dizer que a possibilidade é impensável. É como Bern falou, eu mal o conheço.

"Ele ficou a noite toda rabiscando nas paredes do quarto," falou, indiferente.

Arqueio as sobrancelhas. "Isso é preocupante."

"Talvez." Pelo tom de voz dele, tenho a impressão de que talvez esse tipo de coisa seja normal para Logan.

"Mas você realmente acredita que ele não tenha feito nada?"

Ele dá um passo para mais perto de mim e diz, em voz baixa, "Logan está estranho. Não tem agido como ele mesmo. Eu sei. Mas ainda somos melhores amigos, mesmo que ultimamente só tenhamos brigado e ele não me diz nada. Algum tempo atrás ele me disse que achava estar sob influência de outrem e, na hora eu não levei muito a sério, mas agora eu começo a acreditar que talvez seja verdade. Nada do que ele tem feito é normal. Sim, ele infelizmente fez coisas como aquilo que aconteceu no sábado." Para de falar e olha para meu pescoço, eu fico em silêncio. Ele umedece os lábios e continua, "Só que não sabemos se era ele ou outra pessoa por trás. Bernard e Lindsay não passaram pelo mesmo? Eu só não sei por quê. Talvez estejam tentando chegar a você através dele? Faria total sentido ser Logan o escolhido a ser manipulado, é ele quem toma basicamente todas as decisões quando Bram e o pai dele estão fora. Eu me pergunto se eles sabem que você anda conosco e por isso está tentando te afetar a partir de nós. Talvez alguém nos vigie e não saibamos. Quem sabe seja alguém que nos conhece."

Eu não respondo. E se Bern estivesse errado e Jesse certo? E se eu tivesse julgado Logan mal, que nada do que ele tem feito tem sido por escolha própria? Uma parte de mim quer muito acreditar que ele é inocente. Outra ainda está furiosa e nunca mais quer nada com ele.

"De qualquer forma," ele continua falando, "depois da aula, nós iremos a Canandaigua para entender bem o que está se passando por lá. Afinal, nem temos certeza de que se trata de um vampiro. Anna perguntou se você gostaria de se juntar a nós." E dá de ombros.

"Logan vai junto?"

"Não," diz e olha para mim de uma forma que parece quase com pena. "Ah, eu não contei a ninguém... o que houve no sábado. Não sabia bem o que fazer, na verdade." Coloca as mãos no bolso e, dando um sorriso de canto, fala, "Mas acho que Anna faria um estrago na cara dele se descobrisse."

Sorrio também. "Então que você conte para ela."

"Pode deixar." Ele olha rapidamente para o relógio em seu pulso. "Ah, você poderia manter isso que conversamos em segredo? Não contar para o Bernard... nem para o Logan."

Simplesmente assinto em resposta.

Nós nos despedimos e Jesse se afasta rumo a sua sala de aula. Enquanto ele segue pelo corredor, as palavras do jornal voltam a minha mente. Se o ataque em Canandaigua se tratasse do mesmo autor do desaparecimento de Carolin e Lisa, como pensa Jesse, o que ele estaria tentando fazer? Na lista de vítimas felizmente todas eram adultas, então ainda não sabemos o que aconteceu com as garotas, mas e se a próxima fosse eu? A não ser que eu já tenha sido a próxima... com o episódio do sábado.

Lembro do sábado de manhã, todos os detalhes. Os minutos infinitos. O coração acelerado. Mãos frias. E sangue. É como se a dor tivesse voltado.

Minha mão se coloca instintivamente sobre as marcas do pescoço. Elas estão aqui. A pele em volta delas está amarelada, e eu ando sempre de cabelo solto e com o pescoço cheio de maquiagem para encobri-las. Eu só queria que elas sumissem.

Sou tirada dos meus pensamentos pelos passos que ecoam pelo corredor. Olho na direção dos sons, e uma onda de tremor percorre o corpo. Sem tirar os olhos de mim, do fim do corredor, vem Logan. Os cabelos bagunçados e olheiras profundas. Antes que ele possa me alcançar, viro-me e começo a andar em passos rápidos para minha sala.

BLOOD LOVEROnde histórias criam vida. Descubra agora