BLOOD LOVER

Capítulo 54

Os dias são todos iguais e intermináveis, e já perdi a conta de quantos foram. No começo Bernard deixava-me presa no quarto na maior parte do tempo. As refeições desagradáveis eram todas trazidas até mim por um dos vampiros-zumbi. O que me faz perguntar se os comandos da manipulação poderiam ser só como ordens que Bernard não precisa controlar em tempo real. Eu só saía para ceder meu sangue. Mas, com o tempo, por ter demonstrado cooperação, tive permissão para vagar pela fortaleza. Primeiramente acompanhada por guardas, depois sozinha.

Durante o dia não vejo quase ninguém além de um ou outro vampiro zumbi vagando pelos corredores e escadarias. Bernard e Enndolynn nunca estão em lugar algum. Aproveito esse tempo sozinha para estudar a construção e pensar numa forma de liberar Vince. Uma vez fui até o andar de sua cela e ouvi gritos de dor. Imediatamente voltei correndo para o quarto na torre. Fiquei com medo de que Bernard desconfiasse do meu interesse no tal anjo da guarda.

Entre minhas andanças, consegui localizar elementos que poderiam ser essenciais para minha fuga. Pelos corredores pouco iluminados do andar térreo, encontrei o estoque da pasta nutritiva. Não sei quanto tempo teríamos que andar pelo gelo se fugíssemos daqui, então ter uma fonte de energia para mim seria bom. No quarto ao lado do meu, encontrei mapas. Muito antigos e cheios de rabiscos, mas talvez úteis. Também tentei procurar meu celular. O aplicativo de bússola poderia ajudar. É provável que a essa altura o aparelho esteja sem bateria, no entanto, tento manter qualquer esperança viva. Não o encontrei, mas tive uma surpresa melhor.

No quarto vizinho ao meu, onde Enndolynn passa a maior parte de seu tempo trancada, quando não está com Bernard, fazendo sei lá o quê, encontrei vários livros escritos por Anthony. Entre eles também está o Livro. No dia de hoje, Bernard e Enndolynn deixaram a torre, e por isso decidi aproveitar a oportunidade para revirar as anotações. É normal eles desaparecerem nos andares inferiores da fortaleza o dia todo.

Também há a misteriosa porta ao lado do quarto deles que eu chamo de porta proibida. Bernard vem e volta de lá o tempo todo, e ninguém me deixa aproximar do cômodo. Já tentei entrar escondida, mas a porta está sempre trancada. O lugar me pareceu ainda mais suspeito quando vi uma luminosidade vinda de lá. Ainda pretendo conseguir ver o que tem detrás daquela porta.

Percebi que quando deixaram o quarto hoje, pareciam ansiosos, como se houvesse algo de errado. Bernard nunca demonstrava esse tipo de sentimento, então foi muito estranho.

Abro uma fresta da porta de meu quarto e espio o corredor. A voz de Bernard ecoa das escadarias, mas aqui em cima parece tudo vazio. Vejo como uma oportunidade para ir na ponta dos pés até a porta do quarto ao lado. Olho uma última vez na direção que as escadas descem. Ninguém subindo. Giro a maçaneta com todo o cuidado para não fazer barulho e entro no cômodo rapidamente.

Do lado de dentro, olho para o espaço. Há uma janela como a de meu quarto, fechada e ladeada por longas cortinas vermelhas. Próxima a ela está uma cama de casal, diferentemente da minha, essa não tem qualquer cobertor. Talvez vampiros não se importem com conforto. Na parede oposta à da cama, há uma escrivaninha de madeira negra e polida com alguns papéis amassados e pedaços de Cristais em cima. No outro lado do cômodo, vejo uma pequena estante no chão preenchida de livros velhos e diários mofados.

Faço meu caminho até a estante de livros, com os ouvidos atentos aos sons de fora do quarto. Dobro meus joelhos, sentando-me no chão diante das prateleiras, e pego um volume aleatório da coleção. Uma edição gorda que cheira a papel velho. Passo a mão pela capa de couro, não há nenhuma indicação do que se trata seu conteúdo. Começo a folhear. Como no Livro, este também tem a assinatura de Anthony nas primeiras páginas em sua caligrafia elegante. Mas diferentemente do Livro, ele não tem índice.