BLOOD LOVER

Capítulo 27

Anna dá uma olhada nas mesas em volta e então, discretamente, empurra seu pedaço de pizza na minha bandeja. Eu sorrio para ela, e ela retribui. Rindo baixinho, nós duas voltamos a olhar para Lindsay que está falando alguma coisa sentada entre Emily e Jesse.

Se antes eu passava todo intervalo almoçando numa mesa diferente, agora eu almoço todo dia na companhia dos vampiros. Nem sempre todos eles aparecem no refeitório, mas nunca estou sozinha. Para manter as aparências, eles costumam pegar alguma coisa na fila do lanche que, de uma forma ou outra, sempre acaba no meu prato. Apesar da forma como as coisas aconteceram para estarmos aqui agora, fico feliz em pela primeira vez ter tantos amigos. Bern pode pensar que eles só estão comigo por causa da cura, mas seria fingimento a forma como eles me tratam?

"Ele está estranho desde hoje de manhã," Lindsay diz, passando os olhos por cada um de nós. Ela baixa o olhar para o pedaço de pizza quase frio em seu prato e completa, "E não fala comigo de jeito nenhum."

Desde que Logan surgiu no corredor da escola hoje de manhã, ele tem agido estranho e ninguém sabe o que aconteceu. Ele anda apressado e quieto pelos corredores ignorando qualquer interação, sempre um olhar vazio no rosto. Eu tentei falar com ele entre o segundo e o terceiro período, mas ele passou por mim como se eu não existisse. Agora no horário de almoço ele simplesmente sumiu e todos estamos um pouco preocupados.

"Acho que é a mesma coisa que aconteceu com você, Lindsay," diz Abigail. Ela olha para amiga, um olhar preocupado no rosto. Jesse coloca sua mão sobre a dela, e ela olha para ele, agradecida. "Ele não costuma agir dessa forma."

"Ele também saiu hoje de madrugada," Jesse diz. "Eu ouvi. Só voltou perto de amanhecer."

"Será que ele não está assim por causa da cura?" Emily se manifesta pela primeira vez, e todos olhamos para ela. "Quero dizer, ele estava bastante esperançoso que ia funcionar."

"Ele não é assim," Lindsay diz, sem tirar os olhos de seu prato. Ela leva um polegar à boca e começa a roer a unha dele. "Nunca foi."

"Mas alguém sabe onde ele está agora?" pergunta Abigail, cruzando os braços. "E se ele estiver fazendo alguma coisa como na sexta?" Um olhar aborrecido no rosto. Ela olha para os lados, esperando uma resposta.

"E o que ele estava fazendo na sexta, Abigail?" Lando pergunta, um tom de reprovação na voz. Lando parece ser o único estar ao lado de Logan e pronto para defendê-lo em qualquer situação. Apesar de Jesse ainda acreditar que ele tenha atacado alguém na sexta, Lando crê veementemente que não e faz de tudo para que não pensemos diferente.

Ela está prestes a responder, mas Jesse é mais rápido. "Não sabemos, e esse é o problema."

"Vocês realmente acreditam na história do Bernard?" Lando eleva a voz. "Eu não duvido que ele mesmo não esteja armando para o Logan. Nós temos nem noção do que aquele cara é capaz."

"Que história?" pergunto, e todos olham para mim.

"Bernard ligou o ataque no parque ao sumiço de Logan na sexta. Ele disse isso para o Neal," Jesse responde. Ao ele dizer isso, lembro-me do ataque e de Carolin. Bern e eu falamos um pouco sobre isso ainda no domingo, mas não sabia que ele já tinha feito tal conclusão. Eu sei que também desconfiei por um segundo de Logan, só que ainda acredito no que ele me disse ontem. "Neal falou disso com Logan. Os dois brigaram. E agora nós não sabemos o que pensar."

"Mas ele não disse que não se lembrava de nada?" digo.

"Não sabemos no que acreditar," Abigail responde.

"Mas por que ele mentiria?" argumenta Lando. Ele se levanta, visivelmente irritado com o rumo da conversa. "Eu vou tentar encontrá-lo e falar com ele." E se retira em direção às portas do refeitório. Nós seis ficamos em silêncio observando-o se afastar.

"Eu não sei o que vai ser dele se estiver errado," Anna comenta em voz baixa, quando Lando já está distante o suficiente para não ouvir.

***

Encosto minhas costas contra a fileira de armários atrás de mim e cruzo os braços. "O que aconteceu com você?" pergunto. "Era uma pessoa completamente diferente até ontem à tarde."

"Pessoa, Sophie?" Em pé de frente para mim está Logan. Ele está com as mãos nos bolsos da calça e carrega um sorriso estranho nos lábios. "Você sabe muito bem que eu não sou uma." Cala-se com uma expressão de satisfação no rosto, como se tivesse descoberto finalmente todos os segredos do mundo.

Como os outros haviam mencionado na hora do almoço, Logan esteve o dia todo agindo estranho e sumindo o tempo todo. Eu queria descobrir o que estava acontecendo e, depois de passar o resto do dia procurando por ele, consegui interceptá-lo no fim da aula. Agora estamos aqui no meio de um corredor vazio conversando, ou melhor, tentando conversar.

"Que conversa idiota é essa?" Franzo o cenho, séria e nem um pouco feliz com a forma como ele se comporta. "Por que você está assim?"

Ele olha rapidamente para uma garota que anda até seu armário no fim do corredor e então se foca em mim. "Assim como?" O mesmo sorriso perverso se mantém, e tenho uma breve visão de seus caninos pontudos. Por um momento tenho a impressão de que ele faz isso de propósito, como uma ameaça, mas não tenho como garantir, já que logo eles desaparecem de minha vista.

"Assim, estranho!" Olho fundo nos olhos dele, talvez desesperada para encontrar um resquício de seu eu de verdade. "O jeito de agir que não parece com você, e os sumiços, e as caminhadas noturnas para lá sabe-se onde, e-"

"E daí?" ele me interrompe. Seu sorriso agora morrendo nos lábios, parecendo mais a artificial a cada segundo. "Não vai me acontecer nada, eu sou literalmente imortal... Quem deveria se preocupar aqui é você." Suas íris começam a se avermelhar, e eu tenho o impulso de me afastar para trás, mas só toco a porta fria e dura de metal dos armários atrás de mim e me dou conta de que estou encurralada.

Sinto o sangue subindo para minhas bochechas, a pele flamejando. "Eu não tenho medo de você!" digo, esforçando-me para manter a voz firme. Tento empurrá-lo, mas ele me impede, segurando meus pulsos. Seus dedos contra minha pele parecem mais frios do que eu esperava.

"Eu não vou te machucar," diz tirando minhas mãos do peito dele. Ele solta meus pulsos e desliza suas mãos até as minhas, segurando-as. "Nunca."

"É claro que não!" exclamo, tirando minhas mãos das dele. "Não poderia matar sua única esperança de ter a cura, não é?!"

"Do que você está falando?" Ele pisca, aquele maldito sorriso sumindo dos lábios e soando mais como ele mesmo agora.

"Eu sei que você me persuadiu a te ajudar. Que eu nunca permitiria se você não tivesse me forçado. Admita!" Sinto meu corpo inteiro tremendo. Fico na ponta dos pés para termos a mesma altura, e percebo que meu rosto está perto demais do dele, mas agora é tarde demais para recuar.

Em vez de me responder, ele apenas me olha. "Por que você está chorando?"

"Não mude de assunto! Admita." Ignoro as lágrimas que começam a rolar pelo meu rosto.

Ele fica em silêncio olhando para mim por um tempo, então pega a ponta da manga longa da camiseta que usa e passa sob meus olhos. Eu não me mexo, mas fico me amaldiçoando por deixar as lágrimas caírem, mesmo que sejam lágrimas de raiva. "Tudo bem," ele diz, sério. "Eu admito. Mas só fiz porque não tinha escolha. Não podia perder mais tempo."

Afasto a mão dele de meu rosto. "Mas é claro que tinha! ... Você está sempre me usando. Sei que vai me descartar, quem sabe até me matar, quando não precisar mais de mim." Olho para baixo, bufando.

"Isso não é verdade. Eu nunca vou matar ninguém na vida," diz. Ele coloca suas mãos sobre meus braços, tão de leve que quase não sinto o toque. "E também somos amigos, não somos?"

Levanto meu rosto para encará-lo. "Eu nem lembro de quando decidimos que éramos."

"Então não somos?" Um sorriso travesso se forma no canto de sua boca.

"Não! Quero dizer, sim! Ah, eu não sei."

Ele ri. "Talvez você esteja passando tempo demais com Bernard." Coloca as mãos nos bolsos da calça e sai pelo corredor, deixando-me sozinha.