Capítulo 28

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Levanto os olhos do papel que estou lendo e olho para Bern sentado a minha frente. "Alguma coisa aí?" pergunto.

Sem desviar o olhar do livro velho e empoeirado que eu nunca tinha visto antes em seu colo, ele responde, "Não. E aí?"

"Nada também." Volto a olhar para as anotações.

Depois do meu encontro pouco bem sucedido com Logan na escola, decidi vir ver Bern. Encontrei-o ainda concentrado em sua busca pelo tal feitiço que teriam lançado sobre sua memória e resolvi me juntar a ele. Secretamente eu acredito que se ele encontrar a resposta para o seu problema, eu encontro também o de Logan. No entanto, por alguma razão, não me sinto à vontade para contar a Bern sobre esses planos.

"Eu não sabia que existiam tantos tipos de feitiço," ele comenta. Uma ruga se formando na testa.

Suspiro fundo já cansada de tanto ler e largo as anotações sobre a cama. "Mas você sabe como eles funcionam?" pergunto.

"Mais ou menos." Ele tira os olhos do livro e me encara. "Mas acabei de descobrir lendo este livro que o alvo do feitiço precisa de um 'ponto de ligação' com a pessoa que pretende atingi-lo."

"Como assim?" Arrumo minha postura.

Ele não responde de imediato, primeiro fecha o livro e o coloca sobre a bagunça de papéis no lençol e depois diz, "No caso de vampiros, ser adstritos de sangue serve." A última parte ele diz em voz baixa, como se tivesse medo de que mais alguém pudesse nos ouvir aqui.

"E o que isso significa?"

"Quando um vampiro é transformado, ele é eternamente ligado a seu criador por sangue," ele diz enquanto se distrai passando a mão pelas anotações. "Se o meu criador ainda existisse, por exemplo, ele poderia lançar um feitiço sobre mim à distância porque já somos ligados, somos adstritos de sangue. Agora, se alguém quisesse fazer isso com outra pessoa, teria de ter posse sobre algo que o ligasse a ela. Mechas de cabelo, amostra de sangue, qualquer coisa do tipo."

Ao ele dizer isso, penso em Logan. Se ele está sendo manipulado por alguém que tenha algo sobre ele, só poderia ser uma das pessoas mais próximas ou seu criador, e ninguém aqui além de Bern entende de feitiços. Eu lembro que é suposto criador de Logan, e uma desconfiança me atinge. Bern disse que nunca teve sucesso com os encantos, mas isso não significa que seja verdade. "Logan disse que foi você que o atacou," digo.

Bern franze a testa, confuso com a mudança súbita de assunto. "Não entendi."

"Ele disse que foi você que o transformou. Ele e a família."

Ele fica em silêncio por instante, olhando para mim, pensativo. "Eu não me lembro disso," finalmente diz.

"Lá no casarão você se lembrava das garotas," argumento. "Ele também disse que você as atacou."

"Eu não me lembro disso também."

"Então é verdade? Todo esse tempo esteve sob o efeito de alguém e não se lembra da maioria de seus atos?"

"É claro que é verdade. Por que eu mentiria? Já somos amigos há tempo suficiente para você saber quando eu minto ou não." Ele parece aborrecido, até ofendido com minha acusação. "Não sei por que você acredita nesse cara, vocês mal se conhecem!"

Suspiro e baixo o olhar para a pilha de papéis e livros velhos sobre a cama. "Eu não sei no que acreditar, na verdade," digo, tão baixo que nem sei se ele me ouve.

"Por mim você acredita no que lhe apetecer, mas ainda acho que ele, não, todos eles só estão te usando pela cura." Ele cruza os braços e olha para mim.

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