Capítulo 51

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Depois que Enndolynn se foi, passei todo o resto do tempo completamente sozinha neste quarto frio. Fiz algumas tentativas em abrir a porta, mas é óbvio que não tenho força o suficiente para arrombá-la. Bernard também não cometeria o erro de me deixar escapar tão facilmente. Também tentei encontrar qualquer outro tipo de saída que pudesse haver, mas além da abertura da janela, que fica a vários metros do chão, não há nenhuma. Nem sei se um plano de fuga faria sentido agora. Sequer sei onde estou, se conseguisse sair daqui, para onde iria? Talvez o mais sensato seja coletar informações e então arquitetar um plano com mais calma.

Um vento gelado entra pela janela, e eu me encolho ainda mais entre as cobertas de pele na cama. O dia lá fora está se pondo, escurecendo o quarto. Não há nenhuma possível fonte de iluminação aqui além das velas apagadas, mas não saberia onde encontrar fogo.

Passo os olhos pelo cômodo, as horas parecem intermináveis aqui. Meu estômago ruge com seu vazio. Será que se esqueceram de mim? Começo a me perguntar se já deram conta da minha falta em casa. Anna com certeza verá que há algo de errado quando não receber nenhuma mensagem minha esta noite. Ela avisará aos outros, e eles ficarão em alerta. Bem, é o que eu espero. Em casa, certamente Luce estranhará eu não aparecer até as oito da noite e tentará me ligar. Sem uma resposta, ela também fará alguma coisa.

Os sumiços que têm acontecido com os alunos da escola não são novidade para ninguém. As autoridades já começaram a visualizar um padrão. Provavelmente a polícia local pensará que eu sou uma nova vítima. Infelizmente isso não significa nada. O problema é que ninguém sabe onde estou e nunca me encontrará. Além do mais, simples humanos teriam alguma chance contra Bernard? Algo me diz que não me acontecerá o mesmo que houve com as outras vítimas, afinal nenhuma delas tinha o sangue amaldiçoado.

Meus pensamentos são interrompidos por um som vindo do outro lado da porta. Uma chave sendo virada na fechadura. Logo ela se abre, revelando Bernard. Ele parece muito diferente do que estou acostumada. Desde a forma de se vestir até a de se portar. Como se ele finalmente exalasse sua essência centenária e maligna.

Ele entra calmamente, acompanhado de mais duas pessoas. Meus olhos quase saltam das órbitas quando percebo que uma delas é Carter. Mas ele parece estranho. Além de muito pálido, seu olhar é vítreo, como se estivesse perdido em pensamentos tão distantes que nem soubesse mais onde está. A outra pessoa, um garoto mais ou menos da minha idade que nunca vi antes, compartilha das mesmas características dele. No mesmo instante penso em manipulação. Bernard já teria dominado a magia dos Cristais a ponto de manipular mais de uma pessoa por vez? Se for verdade, ele se mostra cada vez mais perigoso. Bram e os outros teriam alguma chance contra ele?

"Olá, Sophie," Bernard diz, dando um sorriso. Ele fecha a porta depois que os outros passam e a tranca, guardando sua chave no bolso, como se eu tivesse alguma chance de escapar. "Espero que tenha gostado do novo quarto. Foi feito especialmente para você." Dá um sorriso largo que logo vacila quando eu simplesmente não digo nada de volta, só fico encarando-o ainda deitada na cama. Por um instante, o único som entre nós é o assobio do vento forte lá fora. As cortinas vermelhas balançam com a brisa que entra pela janela. "Como forma de te deixar mais confortável, decidi que ele fosse seu guarda." Ele indica para Carter. "Traria outro conhecido seu, mas todos que estiveram em minhas mãos fugiram, não?" Seu tom é sugestivo. Ele deve saber que fomos nós que encontramos Carolin e Lisa. Eu me pergunto se ele tem alguma coisa a ver com a aparição repentina de Jason em minha casa.

"O que você vai fazer comigo?" pergunto, afastando as cobertas e sentando-me na cama. Meus braços se arrepiam. Olho para ele tentando encontrar algum resquício daquele Bern que fora meu amigo, mas é em vão. Provavelmente não há mais nada, ou talvez nunca tenha havido. Tenho de manter em mente que tudo não passara de atuação, como Logan disse uma vez. Bernard sempre foi um manipulador.

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