Capítulo 2

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A música vibrante explode pelos alto-falantes instalados ao lado da lareira na sala de estar. Luzes coloridas vindas de um projetor dançam pelo cômodo, enquanto o cheiro de algo alcoólico e fumaça de cigarro preenchem o ar numa combinação nauseante. Na sala de jantar, a mesa foi afastada para dar espaço a uma pista de dança improvisada, tão cheia de adolescente embriagados que ninguém consegue se mexer direito sem trocar umas cotoveladas com duas ou três pessoas próximas. Depois de cinco semanas desde minha chegada a Rochester — e três na nova escola — fui convidada para minha primeira festa.

A festa é de Lindsay. Uma garota quieta de beleza hipnótica e sorriso misterioso. Ela é mais bonita que qualquer estrela de cinema. Entre os cochichos na hora do almoço, diz-se que ela deve ter feito pelo menos umas sete cirurgias plásticas para ter alcançado tal imagem. Outros defendem que ela só foi premiada pela natureza. Mas apesar de tudo, todos concordam que ela é a criatura mais bonita viva na história da face da Terra, e isso não é uma hipérbole.

"Sophie!" Lisa estala os dedos na frente do meu rosto, impaciente.

"O quê?" Desvio os olhos de Lindsay, do outro lado do cômodo, para encará-la.

"Você não me ouviu?" ela tenta falar mais alto que a música. Seu batom quase sumindo dos lábios, o vestido azul tiffany já todo amassado. Lisa não é exatamente minha amiga, fazemos história americana juntas. Ela costuma ser a garota amigável com todo mundo que acaba sempre sendo minha parceira nas atividades em dupla, já que ninguém mais se digna. Quando cheguei à festa, ela foi a única pessoa com quem me encorajei a conversar. Apesar de já estar mais ou menos cinco semanas na cidade, não tinha conseguido fazer nenhuma amizade. Talvez no primeiro dia na escola algumas pessoas me olharam com curiosidade, outras me perguntaram coisas, mas nenhuma delas tentou ser minha amiga. Eu também não fui bem sucedida em fazer a minha parte. Desde sempre tive dificuldades de fazer amigos, na minha antiga escola eu só tinha um e não estou esperando que na atual seja diferente. "Eu perguntei que horas são."

Lisa e eu estamos na cozinha, perto das bebidas, o único cômodo em que o aglomerado de pessoas é menor. Além de nós, estão Lindsay e suas amigas; Abigail e Emily; e mais outros cinco garotos, bêbados (ou drogados) demais para se levantarem do chão. Eu não faço ideia de quantas pessoas Lindsay convidou, mas desconfio de que ela não levou em consideração os finitos metros quadrados de sua casa.

Tirando o celular do bolso traseiro da minha calça jeans, digo, "São onze e vinte e dois."

"Já era pro Carter estar aqui," diz, ainda impaciente. Deixando o copo de cerveja pela metade na pia ao seu lado, anuncia, "Vou ver se ele não está lá fora."

Lisa vai para a sala de estar me deixando sozinha. Olho em volta e de repente a pequena cozinha de Lindsay parece enorme e eu, minúscula. A música pulsante soa alta demais para os meus ouvidos e é como se todos as conversas e risadas em volta fossem sobre mim. Desconfortável parada no meio da cozinha, vejo Lindsay e suas amigas do outro lado do cômodo, de costas para as bebidas e perto da porta que leva à sala de estar.

Emily está rindo de alguma coisa que Abigail disse, enquanto Lindsay está quieta e distraída olhando para seu copo na mão esquerda, mas sem qualquer intenção de beber seu conteúdo. Mesmo não havendo nenhum grau de parentesco entre as três, elas são estranhamente parecidas. Não quanto a características como cor de cabelo e traços do rosto. É outra coisa. A mesma forma de se mover, a mesma presença hipnótica. Elas também compartilham dos mesmos dentes brancos, a mesma pele pálida quase doente (exceto por Abigail, que tem a pele da cor do caramelo), os mesmos lábios vermelhos.

Observando Lindsay, penso em dizer alguma coisa a ela sobre a festa. Uma tentativa de socializar. Ando em direção a seu grupinho, mas quando percebo como ela é intimidade, perco a coragem na metade do caminho e desvio meu trajeto para as bebidas.

BLOOD LOVEROnde histórias criam vida. Descubra agora