Capítulo 29

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Toco a campainha e logo a porta da casa número 100 de tijolos à vista se abre. Jesse está do outro lado. Ele parece um pouco tenso, os dedos que seguram a porta se mexem nervosamente e parece que a qualquer momento ele vai sair correndo. "Quem bom que veio," diz. Um olhar preocupado no rosto, e os cabelos, uma bagunça ruiva como se tivesse acabado de se levantar. "Já não sabia mais o que fazer." Ele abre espaço para eu entrar.

"Quando precisar," digo enquanto seguindo porta adentro.

"Muito obrigado." Ele fecha a porta atrás de si. "Ele está lá em cima no quarto. Se precisar de alguma coisa é só bater na minha porta, tudo bem?"

"Tudo bem," respondo, tirando o casaco.

Não é novidade que desde a semana passada Logan tem agido de forma estranha e, apesar de todas as nossas tentativas, ninguém descobriu ainda o que há de errado. Hoje de manhã parece que ele acordou ainda mais esquisito que o normal, e Jesse, depois de muitas brigas e outras coisas, sem saber o que fazer, ligou para mim na esperança de que eu conseguisse arrancar alguma informação de Logan.

Caminho em direção às escadas, e Jesse vem logo atrás. Já estive tantas vezes nesta casa que nem me preocupo em ser guiada. "O que você espera exatamente que eu faça?" pergunto.

"Eu não sei," responde quando atingimos o primeiro degrau. "Qualquer coisa já seria suficiente. Ele simplesmente não quer mais falar comigo, não responde a nada do que eu pergunto." Ele fala rápido como se as palavras fossem sumir antes que pudessem ser emitidas.

"Vou tentar." Mas apesar de minhas palavras, ele não se acalma.

Fazemos o restante do percurso em silêncio. No andar superior, seguimos pelo corredor e Jesse entra em seu quarto, enquanto eu paro diante da porta de Logan.

Olho em volta sem ter muita certeza do que estou fazendo. Eu sei que prometi a Jesse tentar saber de alguma coisa, mas agora, aqui, já não parece uma boa ideia. Percebo que em volta está tudo silencioso, só ouço meus próprios movimentos, como se não houvesse mais ninguém na casa. É impressionante como um lugar tão cheio de residentes seja tão quieto em um sábado de manhã.

Encaro o corredor vazio uma última vez, respiro fundo e bato à porta. As batidas ecoam por toda a casa. Pouco tempo depois, ouço passos do outro lado. Logo as dobradiças gemem e a porta se abre.

"Sophie," diz Logan, sorrindo, do outro lado. Fico incomodada. A forma como ele sorri é diferente do normal, como se não fosse natural. Parece sem personalidade, até como se pertencesse a outra pessoa. Ele olha para mim, quase sem piscar, esperando.

"Tudo bem?" pergunto, um pouco desajeitada. Desconfortável e me sentindo idiota por ter concordado em estar aqui. Mesmo o dia não estando quente, sinto as palmas das minhas mãos começarem a suar.

"Sim." Ele abre mais a porta, dando espaço para passagem. "Quer entrar?"

Olho para o interior do quarto escuro e então para ele. "Ah, tudo bem." E sigo para dentro.

O quarto de Logan que costuma ser um lugar claro e sempre de janelas abertas hoje está parcialmente escuro e com as cortinas todas fechadas. A única fonte de luz vem de um abajur aceso no canto do cômodo, próximo à cama. Ao entrar no ambiente, sinto-me uma leve sensação de sufocamento, como se o ar fosse pesado demais para respirar. Além da falta de iluminação, ainda há algo mais de estranho no ambiente. Como se houvesse algo errado. Mas não consigo dizer o que é.

"Então," ele diz. Por alguma razão, meus batimentos cardíacos aumentando à medida que ouço a porta se fechando. A sensação de asfixia crescendo. Há sim algo de errado aqui. "O que tem a dizer?" Ele se vira para mim e apoia as costas contra a porta, cruzando os braços, como se bloqueando a saída. Percebo que ele não está com a melhor das aparências. As roupas amassadas são as mesmas do dia anterior, e os círculos profundos abaixo dos olhos denunciam uma noite mal dormida. Mas a parte mais estranha é o hematoma, que eu não sabia que era possível, no braço direito.

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