Cap. 35

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Cassian

Eu chorava de felicidade, junto com todos ali, até mesmo Lilith chorava. Eu ia ser tio, novamente. Azriel e eu pulavamos feito crianças. Nyx saiu correndo por toda Velaris gritando que teria uma irmã. Vincenzo, Ethan, Elis e Ftily comemoravam dizendo que teriam mais uma priminha.

O jantar foi ótimo. Todos estavam muito felizes e animados, mas reparei que a rainha de Rask estava um pouco abalada, mas tentava não demonstrar. Depois do jantar, as crianças foram dar uma volta pela cidade e nós estávamos na sala conversando e bebendo vinho.

Me retirei por um momento e fui até o antigo jardim, onde as flores tinham sido destruídas por Elis. Ri sozinho com a memória que Rhys tinha compartilhado comigo, até ouvir alguém chorando baixinho. Como bom curioso que sou, fui até o barulho baixinho.

Na beira de uma parte do rio Sidra, que cortava a Casa, vi Lilith abraçada em seus joelhos, chorando. Me aproximei da fêmea e sentei ao seu lado. A mesma engoliu o choro assim que me viu. Eu não era próximo dela, apenas tinha visto no campo de batalha, do outro lado, lutando contra nós.

- Sei que não me conhece, mas ouvi você chorando. Noor é minha melhor amiga, e sei que ela é sua amiga, e tenho certeza que ela não gostaria de ver uma amiga chorando. - digo quebrando o silêncio e a rainha de Rask olha para mim.

- Desculpe. - ela murmura e eu dou de ombros.

- Não tem porque se desculpar, majestade. - digo brincando com irônia e ela sorri.

- Só Lilith, por favor. - ela responde e eu concordo com a cabeça.

- Notei que você estava triste, quer compartilhar o motivo? - perguntei com calma e ela suspirou.

- Eu fiquei feliz por Feyre, de verdade. Pelo menos uma de nós terá uma filha. - ela diz e eu franzo o cenho.

- Como assim? - pergunto e ela fica em silêncio por alguns minutos, começando a chorar novamente. Por instinto toco seu ombro, tentando demonstrar apoio.

- Eu sou mãe. - ela diz com um sorriso triste. - Fui mãe três vezes, as três foram por maneiras desagradáveis. Como bem sabe, fui abusada durante toda minha vida por soldados de Rask. Apesar disso, o sentimento de gerar uma vida, me gerava um amor inexplicável todas as vezes. - ela confessa levando a mão na barriga.

- E o que aconteceu com seus filhos? - perguntei e ela soluçou.

- Eu os perdi, nunca descobri o sexo de nenhum deles. Tive aborto espontâneo em todas as três vezes, por conta das condições precárias que eu vivia. Eu sempre fui apaixonada por um dos soldados, que cuidava de mim quando conseguia, meu pai descobriu e furou meu útero. - ela contou e eu abri a boca surpreso, ao mesmo tempo que uma onda de ódio subiu por mim.

Eu não conseguia imaginar o tanto que aquela fêmea deveria ter sofrido. Ser mãe três vezes, três vezes perder seus filhos, um sonho de ser mãe e ter tido seu útero rasgado, tamanha dor que aquela fêmea carregava. Segurei sua mão e ela olhou nos meus olhos, pressionando os lábios.

- Você é forte Lilith, foi torturada durante anos, teve sua língua cortada mais de 50 mil vezes, teve seu útero destruído, fez coisas terríveis pelo qual foi obrigada, e mesmo assim, tem um coração bom. Você é boa Lilith, e eu acredito que um dia, a mãe vai te abençoar com filhos, porque você é merecedora, e quando chegar o momento, me conte por favor, pois vou gritar aos quatro ventos que a rainha de Rask finalmente deu a luz a príncipes e princesas. - digo tentando conforta-la e sou surpreendido por um abraço apertado enquanto a mesma chora em meu peito.

- Obrigada, obrigada, obrigada general Cassian. Eu precisava muito ouvir isso, obrigada, obrigada! - ela diz em meio aos soluços.

Nos afastamos e ficamos nos olhando por alguns minutos. Me levanto e estendo minha mão para ela, ela segura minha mão e se levanta também. Encaramos o Sidra por alguns minutos até ela começar a rir. Olho para ela com a sobrancelha arqueada e ela sorri.

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