Capítulo 7

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Estou sentado. Numa sala extremamente clara. A luz faz meus olhos arderem, então eu permaneço com eles fechados. As algemas ao redor do meu pulso estão apertadas demais. Qualquer movimento que eu faço, consigo sentir minha pele sendo cortada. E dói demais. Em outra ocasião eu usaria isso a meu favor. Cortaria meus pulsos sem pestanejar. Mas agora que sei que Katniss está viva, tudo o que eu quero é viver, para poder encontrá-la. Será que ela sabe que estou vivo? Tenho que fazer com que ela saiba disso. Para ela não desistir de mim. Não desistir de lutar. Pois eu não vou desistir. Ouço passos. Sei que vai começar. Mas eu não irei fraquejar. Abro meus olhos. Thread adentra o cômodo e em seguida três pacificadores entram carregando um objeto grande e quadrado. Há uma espécie de alavanca que sai dele, e mais um emaranhado de fios. Estremeço. Porém não irei fraquejar.

- Eu cuido do resto. Caiam fora – Thread grita, depois se vira e sorri debilmente para mim.

Os outros pacificadores obedecem, e eu me vejo sozinho com ele. E o tal objeto estranho.

- Vejamos... Por onde devo começar? – Thread fala, enquanto metodicamente desenrola os fios – Ah claro.

Então, percebo que os fios contêm pequenos ganchos nas pontas. Cerro os dentes me preparando para o que vem a seguir. Então Thread enfia o primeiro gancho em minha mão direita.

- Isso dói? – ele pergunta ao ver minha expressão.

- Você terá que se esforçar mais – consigo dizer. Seu sorriso aumenta.

Então, ele enfia outro gancho em minha coxa. Outro em minha barriga. Em meu peito. Em meus pés. E continua. Mas eu não solto um grito sequer. Não derramo uma lágrima sequer. Por mais que doa. Isso parece o deixar irritado.

- Escute. Quando eu puxar essa alavanca você receberá choques de 100 a 300 volts que irão passar por esses fios e ganchos que estão ligados a seu corpo. Então, se eu fosse você abria a boca e começava a falar tudo o que você sabe sobre essa conspiração rebelde – Thread explica ameaçadoramente.

Eu não irei fraquejar.

- Eu não sei de absolutamente nada. Katniss também não – digo, resoluto.

Vejo um rubor subindo pelo pescoço dele.

- Você está mentindo – ele grita, e lança um chute em minha costela. Dessa vez um grito agudo escapa da minha boca. Devo tê-la quebrado novamente.

- Eu não estou mentindo – ofego. – E mesmo se eu soubesse de algo, não diria.

Thread dá de ombros.

- Você irá mudar de ideia, quando isso começar.

E dizendo isto, ele vai até a pequena máquina, e puxa a alavanca apenas um pouco.

Todo o meu corpo treme com espasmos violentos, enquanto eu tento em vão sufocar um grito de dor. Thread volta a alavanca, e gargalha.

- Não quer mesmo me contar nada? – ele pergunta, e dá um tapa em minha coxa, fazendo o gancho se enfiar ainda mais nela.

Pisco furiosamente para afastar as lágrimas. Mesmo sem os choques, meu corpo não para de tremer.

- Eu já... disse... – falo com dificuldade -  eu não sei...

Thread puxa a alavanca mais uma vez, e dessa vez a dor é insuportável. Eu grito, a plenos pulmões, querendo apenas que isso pare. É como se houvessem milhares de facas sendo enfiadas em meu corpo. Mas eu não irei fraquejar. Irei aguentar seja o que for. E irei encontrar Katniss.

Quando os choques param, estou todo suado. Minha cabeça tomba para o lado, e eu não consigo levantá-la. Como meu corpo se debateu, as algemas rasgaram toda a minha pele em volta dos pulsos. Posso sentir que está em carne viva. Meu coração bate tão acelerado, que eu consigo escutá-lo. Talvez se eu soubesse de algo, teria contado no final das contas. Talvez eu seja mesmo um fraco. Tão diferente de Katniss.

Thread coloca seu rosto bem perto do meu. Sinto o cheiro de tabaco e café que emana dele.

- Ainda sem nada a me dizer? – ele sussurra.

Permaneço em silêncio. Uma teimosa lágrima escorre em meu rosto.

- Bom, hora de mudar os métodos – ele diz, casualmente e vai até a porta.

Meu corpo continua tremendo. Foco meu pensamento em Katniss. Eu só preciso pensar nela, e tudo ficará bem. Ela está viva.

- Tragam-na! – Thread grita no corredor.

Devo estar no centro de treinamento novamente. Não me lembro da viagem de volta da mansão de Snow. Alguém aplicou algo em meu braço. Quando acordei, eu já estava aqui.

Quando meus batimentos finalmente diminuem, um barulho chama a minha atenção. O sorriso insano de Thread volta a figurar em seu rosto. É como se correntes estivessem sendo arrastadas. O desespero começa a tomar conta de mim novamente. É aí, que um pacificador entra, segurando uma corrente que prende o pescoço de uma pessoa, que está sendo arrastada como um animal.

Quem pode ser? É o que penso a todo o instante. Fico paralisado de apreensão. Thread dá um chute no corpo que está jogado no chão, e então a pessoa levanta a cabeça. Seus olhos encontram o meu, e eu quase desmaio quando por fim constato quem é.

Suas roupas estão imundas, e rasgadas. Hematomas cobrem a maior parte de seu corpo. De seus cabelos castanhos, restam apenas alguns tufos, e em seus olhos, há uma fúria inumana, que se dissipa um pouco ao me olhar.

De repente eu vejo lágrimas se formar em seus olhos, e sinto se formarem nos meus também.

- Johanna – sussurro, com minha voz embargada.

- Peeta – ela diz, fracamente, com as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. – Você está vivo.

- Mas não por muito tempo – Thread grunhi, enquanto coloca luvas encrustadas de grandes espinhos de metal.

- Eu não vou permitir que vocês a machuquem mais – grito desesperado, enquanto fito as horríveis luvas.

Thread acompanha meu olhar, e olha com prazer para suas mãos.

- E quem disse que isto é para ela? – ele indaga, e golpeia com fúria meu rosto. O gosto de sangue preenche minha boca. Minha visão fica turva. Sinto outro golpe atingir meu rosto em cheio. Os espinhos rasgam minha pele, e a dor já ultrapassa todos os limites.

- Parem, seus malditos! – Johanna grita sem parar – Parem.

Mas Thread não para, e eu continuo com meu pensamento focado em Katniss, fingindo que o sangue quente escorrendo em minha boca, são seus lábios, em contato com os meus. 

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora