Não ouso abrir meus olhos. Sinto meus braços amarrados, e um calor estranhamente gostoso. Minha cabeça dói, e aos poucos vou me lembrando de tudo o que aconteceu. O desespero só aumenta, e só então abro os olhos e grito o nome de Katniss.
- Cento e trinta e seis – uma voz feminina fora do meu campo de visão, diz tranquilamente. Está escuro ao meu redor, apenas as chamas de uma lareira quase se apagando, crepitam, deixando tudo ainda mais sinistro.
- O que? – pergunto, e me levanto de uma espécie de sofá, o que me deixa tonto.
- Você disse o nome de Katniss cento e trinta e seis vezes, enquanto estava desacordado – a mulher diz novamente, então me recordo que essa é a voz da mulher que me interceptou.
- Quem é você? – questiono, desviando a atenção do fato de ela ter contado quantas vezes disse o nome de Katniss. Mas, cento e trinta e seis vezes... Isso parece muito, até para mim, que estou acostumado a coisas absurdas.
Uma forma vai se aproximando, e enfim, ela fica num ponto onde eu possa vê-la. Minha captora, é uma mulher baixa. Muito baixa. E agora desconfio que ela seja uma criança, aliás, pois seu rosto exibe traços tão angelicais, e os olhos mais azuis que eu já vi. Ela sorri para mim, exibindo dentes perfeitamente brancos, em contraste com sua cabeleira negra e cacheada. Ela veste roupas aparentemente pesadas, na verdade quase iguais as roupas que uso por debaixo do meu sobretudo. Será que...
- Desculpe nosso encontro ter sido daquela maneira... Mas Plutarch me avisou sobre você estar meio instável... – ela diz, interrompendo meus pensamentos, e parece estar sem jeito por tocar nesse assunto das minhas condições mentais. – Ah, e meu nome é Carolynn, e sim, estou do lado da causa rebelde.
Fico sem resposta. Não sei se devo confiar nela. Tudo o que eu quero no momento é sair daqui, e achar Katniss. Cogito fugir, afinal devo ter muito mais força que essa frágil figura a minha frente. Porém agora que minha visão se ajeitou melhor na escuridão, vejo outras sombras ao meu redor.
- Certo – Carolynn diz, e acaba com a distância entre nós, coloca suas mãos em meu peito e me empurra de volta para o sofá, me deixando atônito. – Você merece mais explicações. Então vou dar uma resumida, e você decide se confia ou não em nós. Na verdade, você não tem muita escolha – ela diz, e ri, levando a mão a boca, enquanto covinhas aparecem em suas bochechas. Céus, ela é tão... fofa.
- Onde está Katniss? – digo, soando brusco, o que a assusta. Mas não tenho tempo para conversa fiada.
- Escute primeiro – ela retruca, seus olhos ainda arregalados. – Nós somos a resistência na Capital. Não atuamos em conflitos diretos, mas estamos sempre passando informações para o distrito 13, tentando resgatar rebeldes feridos, antes que as pessoas da Capital os peguem. Espere, nós também somos da Capital, isso ficou confuso. Você conseguiu me entender?
Ela bufa, e coça a testa.
- Enfim, queremos ajudar Peeta. Katniss está de fato, aqui? – ela pergunta, esperançosa.
Pondero entre contar a ela, ou não. Agora, rostos famintos se aproximam mais de nós, da lareira. São todos homens, empunhando armas, olhos brilhando, e vazios ao mesmo tempo. Eles querem apenas uma resposta.
- Sim, da ultima vez que a vi, ela estava rumo a cidade circular, a mansão de Snow – murmuro.
- Isso – ela grita, e todos os homens soltam murmúrios de alívio e aprovação.
- Se você quer mesmo ajudar, me solte, preciso ir atrás dela – digo, ainda sem entender qual é o sentido dessa resistência rebelde na capital.
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A Esperança - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro "A esperança", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark.