Capítulo 23

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Estou olhando, descrente para Haymitch. E mal ouso olhar para Johanna. Estou me sentindo traído.

- Quando vocês pretendiam me contar? – murmuro.

- Na verdade, não pretendíamos te contar – Johanna resmunga, e Haymitch lança a ela um olhar zangado. – O que foi Haymitch? Você mesmo disse que era pra manter ele fora disso.

- A questão, é que se há uma chance de lutar contra a capital, farei o que for preciso para conseguir ir– digo, convicto.

- Mas Peeta – Haymitch começa a protestar pela milésima vez. – Depois de tudo o que você passou, pensamos que a última coisa que você fosse querer, seria voltar para lá...

- O que você não entende, é que eu sou tão peça disso quanto ela... Quanto Katniss... Afinal, tudo começou quando nós decidimos engolir aquelas amoras – relembro, com amargura.

Passei tanto tempo pensando que isso fosse uma prova de amor da parte dela. Afinal, ela preferiu morrer, a me matar, mas hoje me pergunto se ela realmente teria engolido as amoras. Tenho quase certeza que não.  

- Haymi não entende que todos temos motivos de sobra para querer tacar fogo no rabo daqueles malditos – Johanna diz, com um sorriso sonhador nos lábios.

- Vocês se esquecem apenas, que eu passei pelo mesmo que vocês... – Haymitch diz, e fita o chão.

- Então você me entende. Diga a presidente que eu quero treinar. Diga a ela, que eu quero ir também! Se Johanna e até Finnick vão, porque eu tenho que ficar aqui?

- Ainda não é certo se realmente vamos, temos que passar por um teste – Johanna comenta.

- Certo. Verei o que posso fazer – Haymitch diz, e sai da sala parecendo mais cansado que quando entrou.

- Você acha que pode ficar no mesmo ambiente que ela? Sem surtar? – Johanna pergunta.

- Eu não sei... Talvez eu possa ir, e não ficar perto dela... Eu só quero, fazer parte disso. Snow arruinou minha vida... Ele e Katniss destruíram tudo o que eu tinha. E eles vão pagar. Nem que para isso, eu tenha que ajudar Katniss a aniquilar Snow primeiro.

- Espero que você saia dessa loucura antes de matar ela – Johanna diz, enquanto disfarçadamente pega um frasco de remédio e esconde em seu macacão.

- Eu também espero – sussurro, e Johanna finge não me ouvir, mas sorri.

Nos dias seguintes, é torturante ficar sentado de mãos literalmente atadas, á espera da resposta da presidente. E quando Haymitch finalmente adentra a sala e anuncia que eu poderei comparecer aos treinamentos, fico exultante de alegria, porém ao mesmo tempo assustado.

Quando comunico a Johanna, ela fica feliz também, e diz quese formos mesmo para a capital, irá ser como se estivéssemos na arena novamente, a diferença é que ao invés de Beetee, é Gale que estará conosco. Esse comentário faz minhas mãos se contorcerem em espasmos nervosos, que com muito custo, eu consigo controlar.

Na primeira manhã de treinamento, me sinto enjoado, e mais assustado do que feliz. Minhas algemas são tiradas, mas dois guardas ainda permanecem como sombras atrás de mim. Minha medicação reduzida a quase nada, está causando alguns efeitos colaterais sobre mim, de modo que é um pouco difícil manter minhas pernas firmes. Mas acho que isso já é um teste, para eles saberem se eu ao menos consigo passar meus dias sem estar dopado.

Quando chego na grande sala, a primeira pessoa que eu me deparo é Katniss. Tento ficar inexpressível, me concentrar no que a treinadora corpulenta está falando, mas é quase impossível tirar os olhos dela. E eu ocasionalmente vejo ela me observando também. No final do treinamento, mal consegui montar uma arma, pois quando estava quase concluindo, uma raiva inumana fazia com que eu destroçasse a arma, para aliviar a vontade de fazer o mesmo com Katniss, que está tão perto de mim.

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora