Em um milésimo de segundo, Boggs já está sobre mim, retirando minha arma. O que não é surpresa alguma. Ele parece realmente abismado com a minha chegada, e sai murmurando algo sobre fazer uma ligação. Quando me aproximo do grupo, todos me olham apreensivos, como se eu fosse uma bomba prestes a explodir a qualquer momento. Eles sussurram entre si e eu vejo Katniss se afastando lentamente.
— Nada irá importar — começo, de repente sentindo medo, do que eles podem fazer comigo. — A presidente me designou ela mesma. Ela decidiu que os Prontopops precisam de um calor a mais.
O contentamento atravessa os rostos de todos, quando entendem que terão que me engolir. Uma mulher baixa e robusta toma frente, e segurando com uma mão firmemente sua arma, estende a mão livre para mim.
- Então... bem – vindo soldado. Sou a sub comandante Jackson.
Em seguida, sem esperar uma resposta minha ela se vira para o resto da equipe, e começa as apresentações.
Há uma jovem, alta e magra, seus cabelos loiros pendendo do rabo de cavalo, que é a soldado Leeg. Há olheiras sob seus olhos que tem estranhas manchas amarelas, contrastando com o verde deles. Em seguida ela apresenta dois rapazes corpulentos, Mitchell e Homes. Eles fazem um gesto com a cabeça em cumprimento, mas a forma como seguram suas armas, deixa bem claro que qualquer passo em falso que eu dê, estarei aniquilado. Tem também a equipe de filmagem. Mas o pânico se instala assim que vejo tatuagens em seus corpos, e alguns resquícios de tintas nas unhas... Eles só podem ser da capital. Cressida, que se apresenta como a diretora das filmagens confirma, que são da capital, mas fugiram de lá para se juntar a causa, ao tordo. Olho de soslaio para Katniss e vejo ela mais a frente, com Finnick enquanto Gale está observando Boggs que gesticula muito, ao telefone. Messalla, Castor e Pollux, seus assistentes me dão a mão, e eu posso sentir algo diferente de hostilidade quando meus olhos encontram os de Pollux, que permanece em silencio.
Quando Boggs retorna, furiosíssimo, ordena que Jackson forme uma guarda dupla 24 por dias sobre mim, e puxa Katniss para longe.
Para o primeiro turno, percebo que Legg e Homes foram designados, visto que eles parecem vidrados em mim, enquanto o resto está mais relaxado. Sem saber o que fazer com minhas mãos que se contorcem desesperadamente, decido montar uma barraca. Boggs providencia uma para mim, e mais uma mochila com outras coisas essenciais, visto que eu não trouxe muito mais que uma arma, que eu nem poderei usar. A tarefa me distrai, embora eu não consiga parar de olhar para Katniss, que sempre está perto de Gale. Gostaria que Johanna estivesse aqui, para me ajudar a passar por isso. Ela iria me fazer rir, iria me distrair e eu não ficaria tão obcecado pelo fato de Katniss estar a poucos metros de mim, no entanto fingindo que eu não existo. Agora, por mais que eu não queira olhar, vejo que ela está conversando com Jackson. E de repente, ela olha na minha direção, e eu me sinto envergonhado por ter sido pego no flagra, a fitando.
— Eu não estaria atirando em Peeta. Ele se foi. Johanna está certa. Isso seria justamente como atirar em outra das mutações da Capital – Katniss grita, ainda me fitando. Jackson e Boggs começam a falar com ela, mas eu já não sou capaz de escutar nada. As palavras de Katniss me atingem tão profundamente que eu me ajoelho ao lado da barraca e levo as mãos à cabeça, pela dor lancinante que me acomete. A dor, e as lágrimas em meus olhos, não são por saber que ela teria coragem de me matar, e sim, por saber que Johanna acha que eu sou como uma mutação da capital. Será que ela acha isso de mim, mesmo? Ou Katniss está falando isso apenas para me ver desmoronando ainda mais? O chamado para o jantar soa, e todos vão até a cantina improvisada. Porém, eu permaneço ali, no chão, digerindo as duras palavras de Katniss. Eu estou totalmente sozinho nessa guerra. Sozinho na vida. Isso é atordoante.
- Peeta, vamos. Está na hora do jantar – Leeg avisa. Mas ao reparar em minha expressão ela arqueia as sobrancelhas. – Você está bem?
Abaixo a cabeça.
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A Esperança - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro "A esperança", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark.