Acordo com a lembrança do beijo de Katniss. Um arrepio me percorre e então percebo a presença de Ellean. Seu cabelo pende numa trança para o lado. Assim como o cabelo de Katniss ficava.
- Peeta, você se lembra o que aconteceu antes de você adormecer? – ela pergunta, calmamente.
Eu me lembro. E deixo me levar nas lembranças terríveis do meu primeiro jogo. Acho que eu já sabia o que Katniss era, pois eu estava com os carreiristas. Eu queria matá-la? Eu não sei. E depois, ela tentou me matar com as teleguiadas. E eu, corri, mas depois voltei para matá-la... E não matei. Está tudo tão confuso, mas é como se eu estivesse a protegendo. Cato quase me matou. Talvez fosse um plano dela com os carreiristas. Mas por que ela me resgatou depois? Porque ela não me deixou morrer, se era isso que ela queria desde o início? E... Porque ela me beijou?
- Peeta?
A voz de Ellean me pega de surpresa. Não sei quanto tempo fiquei perdido em meus devaneios. Ela está parada, esperando uma resposta. Sendo que na verdade, o que eu tenho são perguntas. Eu não quero acreditar que Katniss seja uma mutação. Mas eu sei que ela é. E isso dói. Dói muito mais que minhas costelas que foram quebradas. Dói muito mais que qualquer ferida que haja em meu corpo. Eu me lembro o que aconteceu antes que me fizessem dormir.
- E a cabra? – é o que me limito a perguntar.
Ellean pisca, confusa. Certamente não era o que desejava ouvir. Mas não posso discutir esses pensamentos que me assombram, com uma estranha.
- O que tem o animal? – ela responde, anotando algo em sua prancheta.
- A cabra está viva?
Ela engole seco.
- Não. Ela morreu, no acidente que teve no doze.
Tento controlar a raiva que começa a emergir. Acidente. Eles vão mesmo continuar falando assim, do massacre que aconteceu no meu distrito por culpa de Katniss? Olho meu reflexo no vidro. Magro. Hematomas pelo corpo. Olhos vermelhos. Amarrado a uma cama. E órfão.
- Ellean... – digo, no tom mais calmo que consigo usar. – Eu preciso ver Haymitch.
Ela mal consegue disfarçar um sorriso, enquanto sai da sala e fecha a porta atrás de si.
Quando Haymitch adentra a sala, algumas horas depois, o que sinto é indescritível. Tenho vontade de esmurra-lo até que ele não consiga mais respirar. Ao mesmo tempo tenho vontade de abraça-lo e chorar de felicidade por vê-lo vivo. E aparentemente bem.
Tenho milhões de perguntas para ele. E espero que ele me ajude. Espero que ele não esteja do lado de Katniss. Ou que ele tenha alguma prova de que ela é ao menos humana. Ele me olha, fixo, e seu olhar não demonstra medo como todos, ou indiferença, como os médicos e guardas. É algo mais íntimo, mais familiar.
- Nem vai cumprimentar um velho amigo? – ele pergunta, quebrando o silencio.
- Você está do lado dela também, Haymitch? – pergunto, percebendo minha voz embargada.
- Peeta, eu estou do lado da revolução – ele diz, sincero.
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A Esperança - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro "A esperança", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark.