Epílogo

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Me afasto um pouco, afim de observar o desenho em minha tela. Tiro minha camisa que está ensopada de suor, e sorrio, contente pelo resultado. Talvez essa seja a pintura de Katniss mais linda que eu já fiz. E olha que fiz várias, no cômodo dos fundos há um monte de telas com ela retratada. Se ela um dia ver isso, achará que eu sou um maníaco. Mas, é algum tipo de crime, achar alguém tão linda assim?

Subitamente sinto uma tontura, vou até meu quarto, vasculho meu armário repleto de remédios, e tomo um comprimido. Tomo mais um, só para garantir. Daqui a pouco irei até a casa de Katniss, tenho que me controlar. Ás vezes me pergunto, se ela percebe todas as vezes que eu tenho que segurar com força a beirada da cadeira, afim de controlar meu impulso assassino de lhe fazer algum mal. Se ela percebe quando fecho os olhos demoradamente afim de afastar as imagens distorcida que insistem em se infiltrar em minha mente. Se ela percebe quando meu corpo começa a tremer enquanto ela dorme em meus braços. Se ela percebe como fico ofegante com a enormidade da angustia que me invade algumas vezes, quando seus lábios colam nos meus. Toda a felicidade tem um custo. E se para mim ficar ao lado de Katniss, finalmente poder beijá-la sem receios, e dormir ao lado dela, for custar toda essa exaustão e angustia na luta contra o veneno em mim, é um preço pequeno a se pagar. Mínimo. Porém eu sempre fico pensando... E se um dia eu não conseguir afastar isso? E fazer algo realmente ruim contra ela? Bem no meio dessa nuvem turva de pensamentos que sempre me assolam, escuto um barulho, da porta da minha casa sendo escancarada. Desço as escadas correndo, e encontro Katniss, paralisada em frente ao retrato dela que eu estava pintando. Logo percebo que algo não está bem, quando vejo a trilha de lágrimas em seu rosto. E ela raramente vem até a minha casa. Algo muito grave deve ter acontecido.

- Katniss? – chamo. – Está tudo bem?

Ela pisca aturdida, virando seus olhos vidrados da tela, para mim. Ela olha para minha pele, agora exposta, sem a camisa. Eu coloco minhas mãos em frente ao peito, e barriga, afim de disfarçar a aparência medonha de minhas cicatrizes.

- Porque, Peeta? – ela rompe o silencio entre nós, aparentemente nervosa. – Porque você não me contou?

- Mas... é.. – gaguejo. – Do que você está falando, exatamente, Katniss?

- Você... você tem salvado minha vida... não uma, duas... Mas, várias vezes – ela diz, e mais lágrimas começam a correr pelo seu rosto.

- Eu não sei do que você está falando... – começo, e sinto novamente uma tontura.

- Você quer que eu comece por onde? – ela grita. – Quando você me deu aqueles pães, você salvou minha vida. E nem obrigado eu te disse. Quando fomos para os jogos, você se juntou aos carreiristas, para salvar minha vida, você sofreu tanto, apanhou, passou fome, frio... por mim. Foi ferido, e quase morreu, por mim... Você ia sangrar até morrer... para que eu ficasse viva...

- Katniss... por favor... pare – suplico.

- Quando fomos forçados a ir para a arena de novo – ela continua, ignorando meus apelos. – Você se voluntariou, para não permitir que eu morresse. Você matou o maldito macaco que estava quase me matando... isso quase causou sua morte... Você foi para o massacre, crente que iria morrer... mas fez de tudo para que eu ficasse viva...

- Katniss, pare – eu grito.

- Você queimou, quase até a morte, comigo... Para evitar que eu fosse linchada – ela continua, sua voz baixando num sussurro. – Você depôs a meu favor naquele julgamento, e graças ao seu depoimento, eu ainda estou viva...

Ela abraça seu próprio corpo, enquanto as lágrimas não param de fluir em seu rosto.

- Quem te contou essas coisas, Katniss? – pergunto, sentindo meu corpo estremecer com a familiar ânsia de sensações ruins provocadas pelo veneno.

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora