Capítulo 13

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Devo começar pelas coisas mais simples. Meu nome é Peeta Mellark. Tenho 17 anos. Fui para os jogos vorazes. Duas vezes. E sobrevivi. Minha família está morta. Eu estava na capital. Agora não sei onde estou. Eu tentei matar Katniss Everdeen. Oh meu Deus... Eu tentei matar Katniss... As lágrimas começam a escorrer por meu rosto. Então sinto as amarras em meus braços e pernas. Olho ao redor, para as paredes cinzas. Eu estou no distrito 13... O distrito 12, meu lar, não existe mais. Estão todos mortos. Katniss vai pagar por isso. Sinto todo o ódio por Katniss crescer dentro de mim, e a sensação é boa. Eu irei me vingar. Só preciso sair daqui. Começo a me debater freneticamente, numa tentativa inútil de escapar desta cama, desta sala, deste maldito lugar. Meu corpo dói demais. E quanto mais puxo as amarras, mais dor eu sinto. Antes que eu possa perceber há uma dúzia de pessoas ao meu redor, umas me segurando, outras paradas anotando coisas em pranchetas. Preciso avisá-las.

- Katniss vai matar a todos – grito. – Vocês precisam pôr um fim a isso. Vocês precisam matá-la.

Eles parecem não me ouvir. Talvez ela tenha feito a cabeça deles. Como fez a minha. Talvez ela os tenha conquistado. Sinto algo perfurando minha garganta, e instantaneamente uma sensação de paz me invade. Talvez, Katniss tenha feito eles amá-la, como ela fez comigo. Esse é meu último pensamento antes de afundar numa imersa escuridão.  

Acordo, e uma mulher está me observando. Ela veste uma roupa simples, cinza. Seu cabelo loiro, está preso num coque, e ela segura uma prancheta na mão. Tento me levantar mas me deparo com as amarras. Desta vez, são mais grossas. Por baixo delas, é possível ver as marcas que as algemas da capital deixaram.

- Peeta Mellark, se acalme. Você está a salvo aqui no distrito 13. Nós vamos cuidar de você – a mulher diz, numa voz tão doce, que eu sinto vontade de chorar.

Ao perceber que eu não tenho a intenção de falar, ela prossegue.

- Você está num estado de confusão mental e dissociação, mas estamos estudando toda e qualquer maneira de te curar disto.

Eu a fito. Então compreendo. Ela é apenas mais um fantoche de Katniss.

- O que ela fez para você acreditar nela? – pergunto.

A mulher fica confusa por um momento.

- Desculpe, não entendi o que – ela começa...

- Katniss Everdeen – explodo. – O que ela faz, para que todos acreditem nela? Vocês não veem? Ela vai matar todos nós...

A mulher anota coisas furiosamente em sua prancheta. Em seguida caminha até a porta. Eles não vão me dar ouvidos. Tenho que sair daqui, por minha conta. Quando ela abre a porta, olho para fora, desesperado por ver mais que parede cinzas. Tenho um vislumbre de dois grandes olhos me observando, seu cabelo loiro caindo pelos ombros. E é como uma facada em meu peito. Prim.... Quero gritar para ela fugir enquanto a tempo... Ela tem que saber que Katniss é um monstro. Mas a porta se fecha rapidamente. Sou deixado mais uma vez sozinho, com uma tristeza palpável sobre mim. Sem que eu consiga saber o motivo, começo a chorar copiosamente. Meu coração bate tão acelerado, que parece prestes a sair do meu peito a qualquer momento. Porque tudo isso está acontecendo comigo? Porque Katniss quis destruir minha vida e a de todos ao meu redor? Começo a sentir espasmos por todo meu corpo, e um liquido quente escorrendo de meu nariz. Tento gritar por socorro...Mas não consigo. O desespero me assola, por imaginar morrer aqui, agora. Eu não quero morrer sozinho. Se torna quase impossível respirar. Meus olhos se fecham. Ouço vozes ao meu redor. Elas são como sussurros. Não consigo escutar direito, mas estão falando sobre mim.

- Uma hemorragia. Rápido... para o centro... cirurgia...

As frases parecem entrecortadas por um zumbido em meus ouvidos. Não quero pensar no que pode acontecer. Me concentro numa lembrança. Numa voz linda, cantando uma música...

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora