Capítulo 20

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Nos dias que se seguem, me esforço o máximo possível para completar minha tarefa de ajudar no bolo de casamento de Finnick e Annie. Tento ao máximo afastar as lembranças de Katniss. O que tem se mostrado difícil. O momento mais tortuoso para mim, é o caminho até a cozinha. As pessoas ainda me encaram. Sussurram coisas terríveis para mim. Mas ao menos ninguém cuspiu em mim. Isso é algo que me deixa extremamente magoado, só de lembrar. Boggs disse que deram uma lição naquele cara, e eu fiquei feliz por isso. Hoje é o dia do casamento, e os retoques finais estão sendo feitos. Os demais padeiros e confeiteiros disseram não se importar com a minha presença, então estou trabalhando cercado de gente. É um alívio e ao mesmo tempo assustador ter tantos rostos estranhos me olhando. Eles têm medo de mim, eu sei. Mas ao que parece não tem raiva. Ao contrário, me pedem dicas com um quê de admiração. Sinto dificuldades em responder, em falar olhando nos olhos destas pessoas, mas estou me saindo bem, eu acho. Olho para minha pilha de enfeites. Há flores de glacê, de açúcar, de tantas cores, e formatos. Tudo isso ficara lindo no bolo. E faz muito tempo que não vejo algo belo. Tenho que segurar as lagrimas. Johanna passa todo o tempo possível ao meu lado. E enquanto me apoia, come algumas flores de chocolate. Suponho que ela tenha ganho alguns quilos nestes últimos dias. Nós fizemos um acordo. Não falamos de Katniss. E ela não fala de mim para Katniss também. Ás vezes Haymitch também aparece para me visitar. Ele está sempre cansado, e debilitado pela sua abstinência, mas eu gosto das visitas dele, e me vejo ansiando por esses momentos. Johanna e Haymitch tem mantido minha lucidez. Sem eles, a minha batalha interna entre saber ou não o que é real sobre Katniss, já teria me consumido.

- Hey! Bela pérola padeiro louco – Johanna exclama me distraindo.

Olho para minhas mãos, e vejo o que deveria ser o miolo de uma das flores. Mas está exatamente igual uma pérola. Sinto uma fisgada em meu peito. Johanna me olha atenta.

- Você não se lembra? Você achou uma pérola, e deu a Katniss, no massacre – ela diz, cautelosa, por estar quebrando nosso acordo de não falar nela.

Contudo, eu não me lembro. Mas algo faz com que eu me sinta entorpecido com essa pérola de glacê em minha mão.

-Johanna... Por favor – começo.

- Eu sei, eu sei... Não fale nela e blá blá blá... Mas Peeta... Vocês não podem se evitar para sempre E você precisa saber, que ela ainda tem a pérola. E que ás vezes ela dorme com a pérola nas mãos.

Fico perplexo. Sem ter o que dizer. Os padeiros trazem o bolo para que possamos montar os arranjos. Johanna vai embora sem dizer uma palavra, e eu tento agir normalmente enquanto minhas pernas estão bambas pelo que Johanna me disse.

Após ser conduzido para tomar banho e ser trancado de volta ao meu quarto, sei que não terei visitas hoje. Johanna está aparentemente brava, e Haymitch estará no casamento. Só a equipe de médicos e guardas deve estar em volta do cômodo me espiando pelo vidro à espreita de algum surto. Me sinto um animal, enjaulado. Ellean aparece para me dar o jantar, que está delicioso, creio eu, devido ao casamento, e depois prepara meu coquetel de remédios. Coloco a mão no seu braço.

- Não Ellean. Hoje quero dormir sem isso. Por favor... – digo, seriamente.

Ela me olha em dúvida, em seguida assente. Na verdade parece feliz com minha decisão. Eu que achava que ela gostava era de me dopar.

- Boa noite... qualquer coisa, é só chamar... estaremos por aqui – ela diz, com as mãos torcendo a ponta do avental.

As palavras de Johanna se remoem em minha cabeça o tempo todo. Eu preciso disto.

- Ellean – grito antes que ela saia. – Eu... eu... quero... eu... preciso ver Katniss.

As palavras custam a sair. E quando saem, causam choque não só em Ellean, como em mim também.

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora