Capítulo 10

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Estou trêmulo, amarrado com correntes a uma cama no laboratório. As memórias ficam indo e vindo na minha mente. Veneno de teleguiadas injetado em minhas veias. A cor preferida de Katniss é verde. A cabeça de um pacificador pendendo em minhas mãos. Sinto ânsias. Todo esse tempo... Johanna estava sendo, violentada. Não consigo suportar isso. Lembro de mim, como se fosse outra pessoa, avançando no desgraçado, e desferindo socos e mais socos sobre ele. Johanna, apesar de sua debilitação, foi rápida o suficiente para alcançar uma faca no cinto dele, e lhe cortar a garganta, enquanto eu, segurei com força a cabeça dele, e a puxei. As lágrimas de dor, medo, frustração, e arrependimento quase me sufocam. Mas, eu saí de mim, ao ver Johanna sendo submetida aquilo. Em seguida senti os choques em meu pescoço, e desabei. Agora estou aqui. E imagino o que está por vir. Thread entra no laboratório, acompanhado por Snow. Para meu horror, um pacificador entra trazendo Moira amarrada.

- Você, seu merda, e aquela vadia, mataram um de meus homens – Thread grita, e dá uma bofetada em meu rosto.

Sinto gosto de sangue em minha boca. O fito, descrente.

- Vocês sabiam o que estavam fazendo com ela! E não fizeram nada! – grito em resposta, e arfo, com a dor em minhas costelas.

Snow me olha. Frio.

- Dra. Moira, inicie o procedimento. Fiquei muito grato pela sua ajuda em desenvolver um novo protótipo do veneno – Snow diz, sem me olhar.

- Me forçando daquela maneira, não teria como eu negar – ela diz, e fita Snow, em desafio.

Moira não pode enfrenta-lo. Isso só resultara em mais mortes. Minha cabeça começa a latejar, e uma dor sufocante me acomete. Eu preciso falar com Katniss novamente. Ela tem que parar. Por causa dela aconteceram essas coisas horríveis com Johanna. A dor fica ainda mais forte. No que estou pensando? Snow tem que pagar por tudo isso. A dor é tanta que eu tenho vontade de gritar. Katniss tem que pagar por tudo isso.

O pacificador desata as mãos de Moira, e ela caminha até mim.

- Vai ficar tudo bem, querido – ela sussurra.

- Como está Johanna? – pergunto em resposta.

Ela fita o chão.

- Vai ficar bem.

Engulo em seco. Nós nunca ficaremos bem novamente.

Moira faz o mesmo ritual. As agulhas em minhas veias. Os tubos. O liquido cor âmbar. Os bips do monitor. E quando está prestes a abrir o pequeno registro, Snow a empurra.

- Deixe que eu faço isso, Dra.

Cerro os dentes, mas nada poderia me preparar para a dor que sinto. Não consigo enxergar mais nada. As pessoas ao redor se tornam apenas vultos. Consigo distinguir apenas a rosa branca na lapela de Snow. Sinto como se minhas veias estivessem pegando fogo. Parece que alguém está enfiando os dedos em minha cabeça e arrancando meu cérebro. Grito. Mas nada faz essa dor parar. As memórias passam como um turbilhão em minha mente. E todas elas são sobre Katniss. Minha vida gira em torno de Katniss, e do meu amor por ela. Mas o que ela está fazendo? Armando planos com rebeldes, enquanto estou preso na capital. Lutando ao lado de Gale... Sempre Gale. Me lembro de quando ela dormiu com o rosto tão próximo ao dele, na ocasião em que ele foi chicoteado. E de quando ela preferiu falar com ele a respeito de uma fuga. O bip fica extremamente acelerado. Katniss nunca pensou em mim de fato. Mesmo quando arriscou sua vida, foi apenas por medo de ficar sozinha na arena. Tudo era mera encenação. Ela nunca me amou. Ela destruiu minha vida. As lágrimas agora me deixam sem ar. Eu continuo a gritar. É ainda mais doloroso entender que tudo sempre foi uma mentira. Que talvez, Katniss tenha sempre me feito de bobo. Que eu fui o tolo garoto padeiro, que faria qualquer coisa por ela. Katniss destruiu minha vida. O bip para, enquanto ouço Moira gritar desesperadamente meu nome.

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora