Acordo suado, ofegante e tremendo.
- Não é real – sussurro. – Não é real.
Olho para baixo, e percebo que rasguei todo o lençol. Estou cada vez mais sem controle. Os pesadelos acerca de Katniss tornam-se cada vez mais constantes. E há vezes em que eu acordo realmente acreditando que Katniss é o monstro dos meus terríveis sonhos. Mas eu não vou permitir que isso continue acontecendo. Pois eu sei, que não é real.
Tateio a procura do meu remédio. Moira deixa um frasco dele comigo, pois diz que pode ajudar a fazer isso parar. Eu confio nela. E mesmo se não confiasse, o que mais eu poderia fazer? Engulo dois comprimidos, e vou até o banheiro. Tomo apenas um pouco de agua da torneira. Não tenho mais espelho aqui. Talvez seja uma medida de proteção a mim. Tiraram qualquer coisa que fosse possível eu me ferir. Mal sabem eles, que eu descobri outra maneira de acabar com a minha vida. Um pacificador adentra meu quarto sem avisos, trazendo o que seria meu almoço. Ele permanece imóvel, apontando uma arma para mim, enquanto observa eu devorar a comida. Pois de fato, eu estou com fome. Assim que termino, ele vai embora. Imediatamente vou para o banheiro, e respiro fundo antes de colocar meu dedo na garganta e despejar tudo o que comi na privada. Devo ter perdido muitos quilos. Mas só assim, conseguirei passar pela minúscula janela do banheiro. Eu não sei se há câmeras por aqui. Mas acredito que não, pois á dias que eu venho tentando abrir a janela. E ontem, por fim consegui. Eu só preciso da coragem para me jogar. Aposto que é uma queda de 5 metros no mínimo. Perdi quilos o suficiente. Eu preciso fazer isso rápido. Antes que algo ou alguém me impeça. Fico olhando lá para baixo. Tenho que me escorar na parede para conseguir ficar em pé. Perder peso é muito mais fácil que ganhar. Um barulho me desperta, então eu rapidamente fecho a janela, e encontro Moira, me observando. Torço para que ela não tenha visto nada que comprometa meu plano.
Ela parece triste.
- Eu sei o que está acontecendo para você ficar desta maneira – ela declara.
Congelo.
- Você está com depressão.
Quase caio na gargalhada quando ela diz isto. Ela não descobriu meus planos. Ninguém descobriu. Suspiro de alívio, o que sai mais parecido com um suspiro de cansaço. Moira está certa na verdade. Eu estou com depressão. E tenho mil motivos para isso. Não tenho motivo algum para continuar vivo. Katniss a única pessoa que eu realmente amei está morta. Snow, a pessoa que eu mais odeio me mantém preso aqui, para quando achar necessário, me obrigar a ser porta voz de uma causa dele. Não tenho um lar para voltar. Ninguém a me esperar. Para que permanecer vivo? Enquanto penso sobre tais coisas, sinto lágrimas que a muito tempo não apareciam, florescendo em meus olhos.
- Oh, querido. Venha cá – Moira diz, enquanto estende os braços para mim. Sem pestanejar corro para ela, e a abraço. Mas, na verdade sei que isso é um adeus.
Ficamos vários minutos assim, até que eu me desvencilho de seus braços. Encaro seus grandes olhos azuis, contornados de maquiagem rosa, combinando com seu cabelo. Os hematomas em seu corpo já desapareceram. Ela foi punida por me ajudar.
- Obrigado por tudo – consigo dizer.
Ela sorri.
- Vou ver se consigo alguns remédios para sua depressão. Você está se acabando com isso – ela diz, e pela primeira vez, e neste caso última, me dá um beijo na testa. – Até mais tarde.
Quando ela sai, fico paralisado, até ouvir a porta sendo trancada. Caminho até o banheiro, onde passei a maior parte dos meus dias. Abro a pequena janela, e metade do meu corpo passa facilmente por ela.
- Adeus – sussurro, para ninguém.
E então me lanço para fora. Enquanto meu corpo vai caindo, sinto uma sensação estranha de liberdade, que só acaba quando meu corpo encontra o chão.
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A Esperança - Peeta Mellark
FanfictionEsta é uma fanfiction do livro "A esperança", pela perspectiva do personagem Peeta Mellark.