Capítulo 17

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Acordo num sobressalto ao me deparar com a figura magra de Johanna aos pés da minha cama.

- Dorminhoco — ela resmunga.

Atordoado, pisco várias vezes para associar o que vejo a minha frente, á mulher que eu lembrava ser Johanna. Então como numa enxurrada dolorosa de lembranças, me lembro dos dias, talvez até meses, em que passei na capital, e de tudo o que sofri, e vi pessoas queridas sofrendo. O tremor habitual de raiva me percorre. Katniss, culpada por tudo isso.

- O que você está fazendo aqui? — pergunto, após um bocejo. Há um gosto amargo terrível em minha boca. Consequência de todos os remédios fluindo por meu corpo.

- Oh, que bobagem a minha esperar um agradecimento por passar a maior parte do tempo ao seu lado, enquanto você se debatia feito louco, sussurrando o nome de Katniss...

- Não diga o nome dela — grito, o que faz com que Johanna se levante. Quero pedir para ela se sentar perto de mim novamente, mas não o faço.

Johanna anda até a outra extremidade do cômodo, e toca o vidro com suas mãos encardidas.

- Não é estranho? — ela pergunta, num sussurro.

- Estranho? O que?

- Ficar aqui, amarrado, sendo vigiado 24 horas por dia... É uma edição menos violenta dos jogos, o que estão fazendo com você — ela diz, e balança a cabeça, para dar mais ênfase.

Penso a respeito. E percebo que ela está certa. Há pessoas, me vigiando o tempo todo, o que quer que eu faça. Onde quer que eu vá.

- Ao menos não tenho que lutar para ficar vivo — digo com sarcasmo.

- Claro, pois há uma equipe médica inteira e um punhado de remédios fazendo isto por você — ela diz amargamente, enquanto olha com desejo para os tubos ligados a mim.

Há um silencio estranho entre nós. Como se houvessem muitas coisas a serem ditas, mas nenhuma coragem para dizer. Johanna pigarreia. E volta a se sentar na beirada da minha cama. Para minha satisfação.

- Falei com eles sobre o bolo. Mas dizem que você ainda é muito perigoso — ela diz, e bufa. — Mas aquela vaca virá dar uma olhada em você, então se comporte bem, e poderá meter a mão na massa novamente, literalmente.

Então ela sorri. Um sorriso cheio de cicatrizes, e amargura, porem verdadeiro.

- Johanna? — pergunto, com um desejo incontrolável aflorando.

- Sim? — ela diz, enquanto me fita com seus grandes olhos castanhos.

- Você pode me abraçar?

A pergunta fica pairando no ar. Parecem se passar horas, até que ela digere a pergunta e me envolve com seus braços magros. E é bom. Por mais que eu não possa corresponder o abraço por estar amarrado, é bom sentir o contato humano, o calor do corpo de outra pessoa. Uma pessoa que eu posso chamar de amiga. Uma pessoa que me entende. Que sabe pelo que passei. Que passou por coisas, talvez piores.

Quando ela se afasta, ficamos olhando um para o outro.

- Quem é a vaca? — pergunto, finalmente, o que faz ela rir. Em seguida ela olha teatralmente para os lados, e sussurra em meu ouvido.

- A honorável presidente Alma Coin. Ou vaca, como você preferir chama-la.

Então, no distrito 13 eles têm a própria tirania, penso.

- Tenho que voltar para meu leito hospitalar — Johanna anuncia, dramaticamente.

- Vejo você em breve? — pergunto.

A Esperança - Peeta MellarkOnde histórias criam vida. Descubra agora