Na segunda-feira todo mundo fala alto demais.
É o primeiro dia de aula e todos os adolescentes querem se fazer ouvidos. Querem contar sobre as suas férias de verão, sobre como gastaram o tempo viajando, outros em casa, como não aguentavam ficar longe de alguns amigos.
O corredor do terceiro ano é bem cheio. No próximo ano seremos os sêniors, os concluintes, os invejados e admirados por toda a escola. A euforia de estar assim tão próximo do último ano faz com que haja tons de vozes elevados, repetições de frases clichês como "Terceiro ano, dá pra acreditar?", "Apenas mais um ano" e a minha favorita "ano que vem estaremos sentando na mesa dos sêniors" – Essa última parece ser bem específica, mas juro que é dita com certa frequência.
Não demora muito para que eu encontre JJ no corredor. Seu armário fica há umas dez portas do meu. Teremos três aulas juntos esse ano, um recorde histórico. A sua cara não é das melhores, com certeza dormiu tarde depois de horas jogando.
- Preparado? – Pergunto quando finalmente consigo atravessar o mar de pessoas e chegar ao seu lado.
- Não, mas poderíamos tomar um sorvete depois da escola, não teremos nenhuma lição de casa mesmo.
- Sorvete? Você sabe o que os meus pais pensam sobre sorvete. – JJ revira os olhos assim que ouve a palavra "pais".
- Você tem dezesseis anos, Archie, pelo amor de Deus, você pode tomar um sorvete sem pensar no que os seus pais irão pensar. – Ele diminui a voz. – É só um sorvete, você não está saindo do armário, além do mais, o verão está acabando e temos que tomar sorvete enquanto ainda é aceitável.
- Tudo bem, eu estou com o carro do meu irmão, posso nos levar.
- Isso, qual é a nossa primeira aula mesmo?
- Francês, vamos logo, não aguento todas essas pessoas gritando ao nosso redor.
As horas passam surpreendentemente rápidas para um primeiro dia de aula. Francês é um show de horror. Professor Jean-Paul, um francês jovem e que seria um partidão se não gostasse de atormentar a vida de adolescentes indefesos, passou um teste valendo alguns pontos, apenas para se certificar de que não havíamos esquecido nada nas férias. Além disso distribuiu algumas cópias em francês de livros da Agatha Christie, todos protagonizados por Hércule Poirot, para um futuro trabalho em grupo.
Mas o almoço, no final da manhã, me deixa feliz novamente. Assim que o sinal toca, JJ e eu corremos para pegar uma mesa boa no refeitório. Comemos com alguns nerds amigos do JJ. Nunca me importei em conhecer de fato cada um deles.
Antes de chegarmos no refeitório, encontramos ele, o garoto prodígio, starboy, Vince Applewhaite. Deixamos que ele passe com alguns dos seus amigos. Ele dá um leve aceno de cabeça, porque ele precisa ser a estrela, ele precisa falar como todos os alunos dessa escola, até os nerds, os oprimidos e todos os outros tipos de pessoa dessa escola. Ele não é um idiota que pratica bullying. Ele é o robô perfeito acima do bem e do mal.
- Cara, coitado do Vince. – Comenta John John depois que o seu grupo passa por nós.
- Coitado? Ele tem quase dezoito anos, pode lidar com o divórcio dos pais. – Eu rebato entrando no refeitório que já se encontra cheio de estudantes conversando ainda mais alto que no corredor.
- Do que você está falando? Os pais dele estão se separando também? – JJ localiza a mesa com seus amigos e acena para eles enquanto fala.