É a quarta-feira mais frenética da minha vida.
As aulas passam como um turbilhão e eu não tenho certeza se estou absorvendo o conteúdo ensinado ou se estou apenas de olhos abertos fingindo prestar atenção à todas as palavras ditas pelos professores. No almoço vejo Vince com a sua gangue em sua mesa, nossos olhos se encontram e ele pisca discretamente para mim. Que idiota.
Depois de levar JJ para casa debaixo de uma garoa, estou pronto para assistir um filme e relaxar. Alma está com alguma amiga no quarto conversando ruidosamente sobre garotos. Pego um lençol grosso que Alfie não levou para California, ligo a TV e escolho um filme de terror para assistir. É o suficiente para me fazer relaxar.
O filme está nas suas cenas finais quando a campainha da minha casa toca e eu sou obrigado a me levantar e abrir é porta. É Vince, com os cabelos molhados – não pela chuva, deve ter tomado banho depois do treino – e o sorriso convencido que mora em seu rosto. Absorto por demônios e entidades paranormais, do filme esqueci que ele viria.
- Vamos fechar o nosso contrato?
- Que seja. – Respondo.
- Não vai me convidar para entrar? – Ele pergunta com um sorriso cínico.
Abro espaço para que ele entre. Vince passa por mim e sinto o cheiro do seu perfume Paco Rabanne, coincidência ou não, o mesmo perfume do meu pai. Ele retira os seus sapatos próximo a porta e entra sem cerimonias. Vai até a nossa mesa de jantar e eu apenas o acompanho.
Ele puxa a primeira cadeira da direita, próxima a cabeceira. Senta-se, então abre a sua mochila que eu não havia reparado que a carregava e tira de lá um caderno. Não posso deixar de notar a fluidez dos seus movimentos, a segurança de cada gesto seu. Sento na cadeira da ponta e observo ele escrever com uma letra digna do século dezoito.
- Até a sua letra precisa ser perfeita? – Pergunto irritado. Na verdade, é mais um comentário.
- Do que você está falando? Seus pais são dentistas, você não deveria ter uma caligrafia assim? – Não respondo e isso o motiva a falar ainda mais. – Você não pode oferecer um refrigerante ao seu namorado? – Ele provoca.
- Você não é meu namorado. – Digo irritado.
- Então eu sou uma visita. É assim que você trata uma visita? – Ele nem sequer levanta os olhos do seu caderno para olhar para mim enquanto fala.
- O que você quer? Nós não tomamos refrigerante aqui.
- Isso explica porque você é tão irritadinho. – Vince fala finalmente levantando os olhos para mim. Eu preferiria que ele continuasse de cabeça baixa, é difícil me concentrar com os seus olhos tão pertos dos meus. – Você pode me trazer um suco. Tem pipoca? Você pode fazer pipoca. – E então volta a escrever em seu caderno.
Vou até a cozinha revirando os olhos, um movimento que tenho feito com certa frequência depois Vince se aproximou de mim. Tento repetir em minha cabeça de que isso vai valer a pena, Andrew vai olhar para mim de uma outra forma ao me ver de verdade com o Starboy. Um pouco de ciúmes não faz mal a ninguém. Pego o milho para pipoca e espero não me arrepender das decisões que tomei nas últimas vinte e quatro horas.
Faço a pipoca e sirvo suco de morango em dois copos, levo tudo numa bandeja até a mesa onde Vince está compenetrado ainda escrevendo em seu caderno. Sento no meu lugar e o assisto terminar de escrever.
- Aqui. – Ele diz me passando o caderno. – Acho que está bom
CONTRATO DE FALSO NAMORO