Eu passo todo o domingo evitando Vince. Ele manda algumas mensagens, mas eu o ignoro. Passo todo o dia deitado em minha cama sem muita vontade de me levantar. Alfie também me manda mensagem. Está empolgado porque voltará para casa no fim do mês para o dia de Ação de Graças.
Saber que o meu irmão está voltando é reconfortante. Vou ter um dos meus melhores amigos comigo. Vou ter a segurança de contar com o seu apoio e com os seus conselhos. Também vou perder o carro por três dias, mas esse é o menor dos problemas.
No almoço, meus pais me perguntam como foi a festa. Conto praticamente tudo o que aconteceu, omitindo obviamente o meu beijo com Vince. Me esquivo quando perguntam se eu fiquei com alguém. De vez em quando os meus pais têm surtos de intimidade e fazem perguntas que geralmente nunca fazem para mim ou para os meus irmãos. Me lembro de uma vez quando minha mãe perguntou para Alfie se ele e Pem não estavam tentando ter bebês, no meio do jantar em plena quarta-feira.
- Eu estou bem do jeito que estou. – Respondo de forma evasiva.
- E de que jeito você está, filho? – Minha mãe pergunta.
- Ele não está totalmente solteiro. – Diz Alma. Eu olho para ela de esguelha. Ela não consegue disfarçar o pequeno sorriso no canto dos seus lábios.
- Do que você está sabendo, filha? E por que você nunca conta nada, Archie? – Minha mãe parece indignada por ficar de fora da minha vida amorosa.
Alma dá de ombros com indiferença. Essa pestinha conseguiu lançar a bomba no jantar. Ótimo, agora não terei paz em minha própria casa. Ela parece despreocupada, teve o seu objetivo conquistado. Eu sei que o que ela mais quer é ter Vince com acesso livre nesta casa.
- Alfie também sabe do que eu estou falando. – Ela comenta sem muita empolgação, mas sei que é teatro.
- Mãe, eu não estou preparado para trazer alguém ainda, tudo bem? Eu tenho dezesseis anos, Jesus Cristo, não estou me preparando para fugir e casar em Vegas.
- Meu bem, vamos deixa-lo em paz. – Meu pai se pronuncia finalmente. Eu o olho com gratidão. – Vamos deixar Archie viver sua adolescência normalmente, ele não está envolvido com pessoas erradas, eu espero. Não temos que nos preocupar com as nossas crianças, os criamos muito bem.
Meu pai consegue tranquilizar a minha mãe depois de ver o meu completo desconforto com o assunto. Preciso ter uma conversa séria com a minha irmã depois do jantar. A sua brincadeira passou dos limites, quase me expôs.
Depois do jantar, nós lavamos a louça e guardamos, em seguida fazemos todo o nosso processo de higiene oral como uma boa casa de dentistas e futuros dentistas. Meus pais estão assistindo Cujo na sala – por pura nostalgia do meu pai – quando bato na porta do quarto da minha irmã.
- Entra. – Ela diz com a voz entediada.
O quarto da minha irmã é peculiar. Eu sempre me surpreendo quando entro no cômodo. Há pôsteres do BTS em quase todas as paredes, uma coleção de latas de energético em uma prateleira, há alguns vinis da Billie Eilish e sapatos espalhados pelo chão.
Fecho a porta atrás de mim e há encaro. Alma está deitada na cama, estava ouvindo música e lendo As Brumas de Avalon. Ela me observa com cara de tédio. Eu sento na cama ao seu lado.
- Alminha, você não pode insinuar sobre o meu relacionamento com Vince. Isso não é legal, ainda não estou pronto para falar sobre isso.
- Eu não entendo. – Ela senta na cama, um pouco chateada, - Por que você não conta logo? Os nossos pais não vão te expulsar de casa, se eles ficarem chateados com você, eu vou te defender, Alfie vem direto da California ficar ao seu lado. Nós não vamos te abandonar.
- Eu sei bem disso, Alma, mas eu ainda não estou pronto. – Digo.
- Os pais de Vince sabem sobre ele. – Ela fala com indiferença.
- O que eles acham disso? – Pergunto porque sei que ela e Stacey já conversaram sobre isso. Elas adoram fofocar em seu quarto, tenho certeza de que o namoro de seus irmãos mais velhos é um assunto recorrente.
- Eles fingem que nada está acontecendo. Pelo menos é o que Stacey diz. – Ela fala sem olhar nos meus olhos. – Ele tem algo mais importante para se preocupar no momento.
O divórcio. Vince não me atualizou sobre o assunto, mas acho que não está correndo muito bem. Tenho certeza de que os irmãos achavam que seria um processo mais tranquilo. Me pergunto se Vince não ficou mais amigável devido a situação insustentável entre seus pais. Sei que ele continua morando com o avô, solitário na mansão com um idoso de quase setenta anos.
- Eles estão passando por um momento delicado. Você precisa ficar do lado da Stacey.
- Eu sei. E você precisa ficar do lado do Vince. – Ela olha nos meus olhos finalmente. – Você está apaixonado por ele, não está?
Me dói responder isso, mas balanço a cabeça afirmativamente. Pela primeira vez respondo essa pergunta com verdade, com sinceridade. Estou apaixonado pelo Starboy, não posso mais negar. Não resisti aos seus encantos. Ele estava certo, é impossível não se apaixonar por ele. E me dói admitir isso, porque eu sei que nunca serei correspondido. Mais uma vez eu me enterrei em uma relação platônica que não vai a lugar algum e eu acabarei sofrendo. Dessa vez, estarei atuando estar em um relacionamento com o garoto que não consigo sustentar o olhar sem ficar ruborizado.
- Vocês são lindos juntos, eu já te disse isso? Eu vou repetir, vocês são lindos juntos. – Ela fala animada. – É como nos filmes, o nerd e o jogador de futebol popular e bonitão.
- Espera, eu não sou bonito? – Pergunto jogando um travesseiro nela.
- Você é meu irmão, eu não vejo beleza em você. – Ela diz jogando o travesseiro de volta na minha cara.
Finjo que estou ofendido e parto para cima dela. Começamos uma guerra de cócegas que eu acabo ganhando. Antes de sair do seu quarto, nós ligamos para Alfie apenas para irritá-lo e depois passamos um tempo ouvindo música.
Quando volto para o meu quarto, decido responder as mensagens de Vince. A primeira delas pergunta se eu me diverti ontem, então digo sim, é verdade; a seguinte pergunta se eu fiquei chateado com o beijo. Essa é uma boa pergunta. Não fiquei chateado por Vince ter me beijado, mas sim pelo que eu senti quando ele me beijou e nem foi um beijo de verdade. Então decido responder que não. Todas as outras mensagens são sobre como eu o estou ignorando e a última, do final da tarde, ele pergunta se podemos sair para tomar um café.
Merda, eu deveria ter respondido essa. Me sinto por ter ignorado a sua mensagem, mas invento uma desculpa qualquer. Vince não me responde. Talvez também esteja me ignorando, dando o troco. No fim da noite, me preparo para dormir e continuo sem resposta de Vince. Pego no sono ainda esperando por sua mensagem e com um aperto no meu peito. Havia esquecido a sensação de estar apaixonado e não ser correspondido. Não é nada boa.